sábado, 9 de fevereiro de 2019

NP 322 EM 31 JAN 2019



Programa 322 - Semana de 25 a 31/01/2019  - 5ª Edição do ano
 Fontes – 1 2 – 3 – 4 – Ricardo Cravo Albin


Notícias Petroleiras e outras, estes são os nossos módulos.
Vinheta 5
1ª greve Manguinhos
31/01/2019
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profivanluiz

professorivanluiz

Ivan Luiz
1 - Série “Trabalhador Offshore”=> Parte 10
2 - Nossos Homenageados inesquecíveis da semana que proporcionaram grandes impactos na cultura brasileira e internacional -
3 - Fatos históricos relevantes que não podem ficar esquecidos da nossa memória
- Destaque Cultural para
5 - Saúde do Trabalhador – Acidentes, Incidentes e Desvios Parte VII
- Mundo do Petróleo
7- Política e História, destaque para Preta Simoa e a Abolição no Ceará: uma história de esquecimento  
8 - Relação completa dos aniversariantes de  25 janeiro a 31/01/2019

Data
2 - Nossos homenageados inesquecíveis da semana de grande impacto cultural
25
 Tom Jobim (92 anos)
26
 Leny Andrade (76 anos)
27
Djavan (70 anos)Julia Bosco (39 anos) - Radamés Gnattali (113 anos) - Waldir Azevedo (96 anos) 
28
Lúcio Alves (92 anos) 
29
Jerry Adriani (72 anos) 
30
Herivelto Martins (107 anos)  Paulo da Portela (70 anos) Waldir Calmon (100 anos) 
31
Miltinho (91 anos) -   Zilda do Zé (17 anos) 

Data
3 - Fatos históricos relevantes que não podem ficar esquecidos da nossa memória

25
1984 Comício gigante pelas Diretas-Já com mais de 300 mil pessoas, na Praça da Sé/SP. O jornal nacional da rede globo, tenta esconde-lo e, no fim, o noticia como uma festa pelo aniversário da cidade.
26
1925 é inaugurada em SP a fábrica da General Motors, a primeira montadora de carros no país. 
Trabalhava com peças importadas. 
1985 neste mês é lançado o livro Brasil: Nunca Mais, que reuniu uma vasta documentação sobre as violações de direitos humanos praticados pelo regime militar. Um de seus idealizadores foi DOM PAULO EVARISTO ARNS, que teve uma atuação voltada aos pobres, aos trabalhadores e perseguidos.
27
1881 os Jangadeiros do Ceará recusam o embarque de escravos vendidos às províncias do Sul e Sudeste do país. O protesto contrariava o comércio legal naquele momento. Conhecido desde então como Dragão do Mar, o líder dos jangadeiros Francisco Nascimento foi recebido e homenageado por uma multidão no porto do Rio de Janeiro.
28
1888 é realizado em Santos/SP, o primeiro comício republicano do Brasil. A iniciativa foi de Antonio Silva Jardim, advogado que se destacou na defesa da abolição e da república. Nascido no município que hoje leva seu nome, no RJ, advogava em defesa dos escravos.
29
1905 falece no RJ, José Carlos do Patrocínioconsiderado o patrono da campanha do abolicionismo. Uma enorme massa compareceu a seu enterro. Em maio de 1883, fundou a Confederação Abolicionista e redigiu seu manifesto, assinado também por André Rebouças e Aristides Lobo. Organizava debates públicos sobre o fim da escravidão e apoiava fugas de escravos.
30
1948 assassinam Mahatma Gandhi, mais um ser que trouxe à tona o Amor Universal incondicional (Ahimsa), lutou contra os opressores ingleses e mostrou ao mundo o quanto eles foram, são e agora, que deram cria, continuam sendo, opressores, terroristas e maléficos à Humanidade.
31
1881 em Fortaleza/CE, o Movimento dos Jangadeiros decreta o fim do embarque de escravizados naquele porto, abrindo o caminhos para a abolição da escravatura no Estado. Dois importantes
líderes desse movimento foram o casal de negros libertos Tia Simoa e José Luiz Napoleão.




 - Módulo DestaquCultural 
Biografia – Tom Jobim  Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim 25/1/1927 Rio de Janeiro, RJ 

 8/12/1994 Nova York, EUA Compositor. Arranjador. Instrumentista.  Filho de Jorge de Oliveira Jobim e de Nilza Brasileiro de Almeida. Nascido na Tijuca, mudou-se para Ipanema em 1931. Láviveu com os avós maternos, Mimi e Azor, os pais e sua única irmã, HelenaJobim. Depois da morte prematura do pai, sua mãe casou-se com Celso Frota Pessoa, que lhe deu muito incentivo para a vida musical, chegando a lhe presentear com um piano. Em 1940, sua mãe fundou o Colégio Brasileiro de Almeida.  Iniciou seus estudos de música em 1941, com aulas de piano com o professor Hans Joachim Koellreuter. Estudou, ainda, com Lúcia Branco, Tomás Terán, Leo Peracchi e Alceu Bocchino. Cursou a Faculdade de Arquitetura, chegando a trabalhar em um escritório, por um curto período.  Em 1949, casou-se com Thereza Hermanny e, no ano seguinte, nasceu seu primeiro filho, Paulo Jobim,
que se tornaria músico como o pai.  Em 1953, mudou-se para o apartamento 201 da Rua Nascimento Silva, 107, em Ipanema, endereço que viria a ser tema da música "Carta ao Tom 74", de Toquinho e Vinicius de Moraes.  Em 1957, nasceu Elizabeth Jobim, sua primeira filha, que se tornaria artista plástica e participaria da Banda Nova, grupo que o acompanhou nos últimos anos de sua carreira, atuando no coro feminino característico de seus últimos trabalhos.  Em 1962, mudou-se, com a família, para a casa da Rua Barão da Torre, em Ipanema. Seu primeiro neto, Daniel Jobim, nasceu em 1973. Tornou-se músico e, após a morte do avô, formou, ao lado do pai, Paulo Jobim, e de Jaques e Paula Morelenbaum, o quarteto Jobim-Morelenbaum. Em 1965, ao regressar dos Estados Unidos da América, disse, em enrevistra exclusiva ao jornal O Globo, que mais do que nunca a música popular reflete a perplexidade do homem diante dos problemas mundiais. Revelou, ainda, que, se o melhor lugar para vender música são os Estados Unidos, o melhor para compor é o Rio, onde há papo com os amigos, ambiente para o violão e praia. “O mercado norte americano é um consumidor fabuloso. Há lugar para a música inglesa, francesa, italiana, de qualquer lugar do mundo. E o interesse pela música popular brasileira aumenta dia a dia”.   Em 1976, nasceu Dora, irmã de Daniel. Foi neste ano que Tom conheceu a fotógrafa Ana Beatriz Lontra, então com 19 anos, com quem saiu em lua-de-mel, em 1978, vindo a se casar, oficialmente, somente em 1986.
Ana lhe deu mais dois filhos: João Francisco, em 1979, e Maria Luiza Helena, em 1987. Ana Lontra também participou do coro feminino da Banda Nova, acompanhando o marido em shows e gravações, e lançou, em 1988, um livro de fotos sobre o maestro intitulado "Ensaio Poético".  Morreu dia 8 de dezembro de 1994, aos 67 anos de idade, em Nova York, no Hospital Mount Sinai.  Em 1998, morreu, aos 18 anos, João Francisco, seu primeiro filho com Ana Jobim, em conseqüência de um acidente de carro no Rio de Janeiro.   Em 2014, em comemoração aos 20 anos de sua morte, foi inaugurada uma estátua sua em tamanho
real na orla da praia de Ipanema, próximo ao Arpoador, no Rio de Janeiro. A escultora Christina Motta afirmou que se baseou em uma antiga foto de Tom com o amigo Vinicius de Moraes para fazer a estátua, que demorou 4 meses para ficar pronta e foi encomendada pela Prefeitura do Rio. O evento contou com a participação do Sexteto Terra Brasilis, convidado pela família do músico.



Biografia Júlia Bosco Julia de Castro Mucci -  27/1/1980 Rio
de Janeiro, RJ 
   Cantora. Compositora. Filha do compositor e cantor João Bosco. Irmã do poeta e letrista Francisco Bosco.



Biografia Radamés Gnattalli       27/1/1906 Porto Alegre, RS -   13/2/1988 RJ Compositor. Arranjador. Regente. Pianista. Filho primogênito de uma pianista gaúcha descendente de italianos, Adélia Fossati Gnattali, e de um imigrante italiano radicado em Porto Alegre, Alessandro Gnattali. O pai, marceneiro de profissão, era um apaixonado pela música, principalmente pela ópera e, logo depois que chegou ao Brasil, começou a tomar aulas com César Fossati, chegando, anos depois a se tornar músico profissional, tocando fagote e, posteriormente, passando a regente. 
Foi no convívio com a família Fossati que conheceu Adélia. Os nomes dos três primeiros filhos do casal: Radamés, Aída e Ernâni, personagens de óperas de Verdi, demonstram a paixão que ambos nutriam pela ópera, fato que se refletiria na decisão dos filhos em seguir a carreira de músicos. Anos depois o casal ainda completaria a família com mais dois filhos: Alexandre e Teresinha. A própria mãe, Dona Adélia, pressentindo o interesse do pequeno Radamés intuiu:  "Vai ser músico!".

Começou a aprender piano ainda menino, com a mãe, Dona Adélia. Ao mesmo tempo iniciou-se nos estudos do violino com a prima Olga Fossati. Aos nove anos foi condecorado com uma medalha pelo cônsul da Itália, na Sociedade dos Italianos, por sua atuação como regente de uma pequena orquestra infantil, que tocou arranjos feitos por ele. Em "Radamés Gnattali: o eterno experimentador", biografia escrita por Valdinha Barbosa e Anne Marie Devos, pode-se conhecer esse fato nas palavras do próprio Radamés: "Apareceu lá uma ‘trupezinha’. Um teatro mambembe. Tinha um pianinho, um violino, uns cinco ou seis instrumentos. E eu fiz os arranjozinhos, e dirigi a orquestra. Dirigi nada... Palhaçada." 

Aos 14 anos, entrou para o Conservatório de Porto Alegre para estudar piano, ingressando já no 5º ano. Aprimorou-se também no violino, estudando ao mesmo tempo solfejo e teoria musical. Nessa época, já freqüentava blocos de carnaval e grupos de seresteiros boêmios. Nessas ocasiões, já que não podia levar o
piano, passou a tocar violão e cavaquinho. Até se formar no conservatório, estudava para ser concertista, como aluno do professor Guilherme Fontainha e tocava com a Jazz Band Colombo, fazendo as 'trilhas' dos filmes mudos exibidos no Cine Colombo. Também tocava em bailes para ganhar um pouco mais de dinheiro. 


Em 1923, terminou com mérito o 8º ano do curso de piano e logo foi levado por seu mestre ao Rio de Janeiro, para um recital. Vários jornais destacaram sua "triunfal atuação", segundo as palavras de seu mestre Guilherme
Fontainha. Retornando à cidade de Porto Alegre, concluiu com medalha de ouro o curso de piano no Instituto de Belas-Artes de Porto Alegre. Na ocasião dessa sua primeira estada no Rio de Janeiro, ficou conhecendo o compositor Ernesto Nazareth, que costumava ouvir do lado de fora do cinema Odeon. Ainda em 1924, conheceu Vera, uma estudante de piano, com quem se casou em 1932 e viveu por 33 anos, até 1965, quando ficou viúvo. Com ela teve seus dois filhos: Roberta, que se tornou psicanalista, e Alexandre, formado em odontologia e que se dedicou à filosofia ioga. 


Em 1942, faleceu seu pai, Alessandro, e em 1954, sua mãe, Dona Adélia. Em 1966, passou a viver com Nelly Martins, ex-atriz da Rádio Nacional, cantora e pianista que, abandonando a carreira artística, acabou se formando em medicina.
Em 1986, sofreu um derrame, fato que o obrigou a um longo tratamento para voltar a tocar. Em 1987, faleceu vítima de um segundo derrame. Foi membro da Academia Brasileira de Música e da Academia de Música Popular Brasileira.


Biografia Waldyr Azevedo   27/1/1923 RJ  20/9/1980 SP Compositor. Instrumentista. Na infância, passada no bairro do Engenho Novo, costumava apanhar passarinhos que depois vendia. Foi assim que conseguiu dinheiro para comprar seu primeiro instrumento, uma flauta, quando tinha sete anos de idade. Pouco depois, trocou a flauta por um bandolim e começou a se reunir com amigos para tocar música, aos sábados. Do bandolim foi para o cavaquinho, instrumento com o qual se tornaria conhecido nacionalmente anos mais tarde.

Na década de 1930, quando o violão elétrico entrou na moda, abandonou o cavaquinho por algum tempo. Já que a flauta havia sido seu primeiro instrumento, não é de se estranhar que sua primeira apresentação em público tenha sido exatamente como flautista.
Aconteceu no Carnaval de 1933, quando tocou "Trem blindado", de João de Barro, no Jardim do Meyer. Sonhava ser aviador, mas como sofria de problemas cardíacos pôs de lado os planos de aviação e conseguiu um emprego na Light, casando-se em 1945. Até meados da década de 1940, a música era para ele uma atividade de amador.
    


Biografia Paulo da Portela  Paulo Benjamin de Oliveira 18/6/1901 RJ -  30/1/1949 RJ    Compositor. Cantor. Filho de Joana Baptista da Conceição e Mário Benjamin de Oliveira, passou a infância no bairro da Saúde e Estácio de Sá, criado pela

mãe junto com um irmão mais velho e uma irmã mais nova. O pai sempre foi figura ausente.

Começou a trabalhar bem cedo em uma pensão para ajudar a mãe. Também entregava marmitas em domicílio. Mais tarde, passou a trabalhar como lustrador de móveis.

Em 1920 a família mudou-se para Osvaldo Cruz, indo morar numa casinha de vila que hoje corresponde ao 338 da Estrada da Portela. Nessa época, iniciou suas atividades carnavalescas, no Bloco Moreninhas de Bangu.

Em junho de 1939 casou-se com Maria Elisa dos Santos. Faleceu em 1949 em consequência de um ataque cardíaco, na mesma cidade, no dia 30 janeiro de 1949.



5 - Módulo Saúde do Trabalhador 6 - Destaque Mundo do Petroleo...       7 - Política e História Destaque...      


Tia Simoa e José Luiz Napoleão(marido)

25 DE MARÇO DE 2014, 13H31

Preta Simoa e a Abolição no Ceará: uma história de esquecimento

Em, 25 de Março, é feriado estadual no Ceará: o Dia da Abolição da Escravidão. Assim, vale lembrar que há muito a ser explorado sobre as questões raciais e as formas como se articulam com outras formas de opressão. Uma das principais especificidades é quanto à invisibilidade política da mulher negra. Ser uma mulher negra certamente é uma experiência de vida bastante diferente de ser uma mulher branca.
As estatísticas de órgãos como IBGE e IPEA e os relatos de vivência de ambos os grupos demonstram essa realidade. Mas a mulher negra nordestina, e ainda cearense, leva sobre seus ombros peculiaridades ainda mais pesadas.
Muitas mulheres negras foram de grande influência na formação da história brasileira, mas tiveram suas lutas omitidas e apagadas. Por exemplo, uma importante protagonista na história da Abolição da Escravidão no Ceará foi a Tia Simoa.
Esquecida nos relatos formais e militantes, Tia Simoa teve um papel impactante na luta contra a escravatura, embora a maioria das pessoas não conheçam sua atuação ou sequer saibam da sua existência.
Para falar a respeito do tema, o Questão de Gênero traz uma entrevista com Karla “AgreSilva” Alves, integrante do Grupo de Mulheres Negras do Cariri, o Pretas Simoa. As ações do Pretas Simoa vem causando um verdadeiro rebuliço no interior do Ceará, contando com uma política assertiva de enfrentamento e trazendo foco para a luta das mulheres negras. Leia a entrevista a seguir:
O que motivou a criação do grupo Pretas Simoa? Como chegaram ao nome do coletivo?
Muitas das integrantes do grupo já atuavam em movimentos organizados como o movimento estudantil, o movimento de mulheres ou o movimento negro, como é o meu caso.
Contudo, apesar desse engajamento político ter nos colocado, em algum momento, no mesmo caminho, a verdadeira motivação para a criação de um grupo de mulheres negras surgiu do nosso reconhecimento umas das outras, assim como do nosso ressentimento conjunto sobre a ausência de especificidades no tocante a questão gênero e raça na seara dos movimentos a que pertencíamos. Após um percurso em busca de um nome que nos identificasse, cheguei à história sobre a Preta Tia Simoa quase que por acaso, por meio de uma pesquisa acadêmica que resultou em um artigo sobre seu companheiro, José Luís Napoleão. Me chamou atenção ver que, apesar de sua importante participação nos acontecimentos do 27, 30 e 31 de Janeiro de 1881, havia tão pouco sobre sua história. Dessa forma, sua invisibilidade se tornou para nós uma ilustração da história da população negra no Ceará e, mais precisamente, da mulher negra no Ceará, conforme descrevo no texto publicado em nosso blogue.
Muitas ativistas do movimento feminista e até mesmo do movimento negro não sabem quem foi Tia Simoa. A que você atribui essa dificuldade?
Até pouco tempo atrás nenhuma de nós sabíamos da existência da Preta Simoa, tampouco de sua história.
Atribuo essa lacuna historiográfica a uma falsa premissa sobre a invisibilidade das pessoas negras no Ceará, algo que ainda persiste no discurso acadêmico e que nos causa um profundo descontentamento e revolta. Apesar dos esforços de alguns pesquisadores na temática, que se dedicam a reescrever a história da população negra no Estado, não vemos a influencia destas pesquisas nas práticas educacionais. Esta realidade de omissão de nossa história amputa nossa representação na história nacional e contribui para a manutenção dos estereótipos que pesam sobre os nossos ombros. Precisamos nós escrever, contar e gritar a nossa história para que nos ouçam.
Assim como a Tia Simoa, muitas mulheres negras são ignoradas e invisibilizadas, mesmo que tenham histórias intensas e duradouras de atuação política. O fato da Tia Simoa ser nordestina e do Ceará acentua esse apagamento?
Eu acredito que sim. Há muito sentimos o esquecimento por parte da política nacional e no que se refere aos movimentos organizados não é diferente, pois muitas vezes nos esforçamos muito e em vão para dar visibilidade a denúncias e reivindicações locais que não ultrapassam a fronteira regional, quando muito, mesmo estando em consonância com os contextos nacionais em que se inscrevem. O que parece é que existe uma espécie “sudestinocracia”, onde só se torna legítimo o que pertence ao eixo Rio-São Paulo, e mesmo quando levam em conta a realidade da população negra nordestina, se dá de forma resumida a Bahia, ou melhor, a Salvador. Dessa forma, a história da Preta Simoa abrange diversas reivindicações das negras cearenses organizadas que sentem a necessidade de evidenciar sua existência, sua representação histórica, seu engajamento político e as demandas específicas que compõem o tecido de sua luta e que precisam ser inseridas nas políticas públicas nacionais.
Qual a relação entre a memória de Dragão do Mar e da Tia Simoa? É possível problematizar as relações sexistas que evidenciam a luta masculina, mas preterem a luta feminina?
Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar que durante o processo abolicionista cearense era conhecido como Chico da Matilde, ganhou toda credibilidade pela luta por liberdade no Ceará. Contudo, o fazer, ou contar, história nos ensina que ao lado da luz que se coloca sobre um objeto existem muitas sombras e, nestas sombras descansam inúmeros outros objetos em silêncio. Um desses elementos esquecidos nas sombras é a fundamental participação da Preta Simoa, que usou de sua sociabilidade para mobilizar a população local em apoio a greve dos Jangadeiros, acontecimento que determinou os fatos que se sucederam até o decreto que estabeleceria o fim da escravidão. É possível estabelecer diversos paralelos entre o enaltecimento de uma história em detrimento de outra, dentre eles as relações sexistas somada à condição étnica, que se refletem nos grandes ícones de nossa história. A título de exemplo, não poderia deixar de mencionar a história da cidade de Juazeiro do Norte em torno da figura do Padre Cícero que, como “obreiro” do milagre, teve sua história enaltecida relegando ao esquecimento a figura da Beata Maria de Araújo, outra mulher negra cearense sem túmulo e sem memória.
No Dia da Abolição da Escravidão no Ceará, o que pode ser questionado em relação a data?
Alguns dos questionamentos a se fazer são os mesmos em torno do 13 de Maio: esse é mesmo um dia de pessoas negras? Temos mesmo o que comemorar nesta data? Mas há certos aspectos que devem ser analisados sob a ótica específica que leva em conta a contextualização local, como por exemplo, os fatores socioeconômicos que contribuíram para esse pioneirismo cearense. Contudo, há dois principais elementos que, a meu ver, não podem passar despercebidos: o primeiro deles é sobre os personagens exaltados no discurso sobre a abolição, conforme discorro no texto. O segundo é sobre o mito da “Terra da Luz” que, ao se estabelecer, omite a manutenção do trabalho servil no município cearense de Milagres. São questões fundamentais para uma análise apropriada do discurso sobre os fatos.
O Grupo Pretas Simoa é atuante principalmente na região do Cariri, interior do Ceará. Nessa perspectiva, há diferenças entre a realidade das mulheres negras caririenses e a realidade das mulheres negras da capital cearense e até mesmo de outros grandes centros urbanos?
Posso pontuar alguns aspectos sobre as diferenças entre a realidade da mulher negra do interior e da capital. O principal deles é a distância dos debates intelectuais e das instâncias do poder constituídos, que dificultam nossa representação nos embates políticos que se estabelecem na ceifa dos órgãos institucionais voltados para temática. Em relação às que residem nos grandes centros urbanos essa diferença se potencializa significativamente. Ainda há um agravante no tocante à nossa realidade aqui no Cariri cearense onde atribuem uma formação predominantemente indígena. Ainda estamos na luta pelo direito de ser negra, pois ao nos identificarmos desta forma ouvimos constantemente a “correção” dos moradores locais que, quando não perguntam se somos da Bahia, aconselham que não façamos isso com nós mesmas, pois somos “muito bonitas para sermos negras”.
Toda história de abolição de regimes escravistas é muito mais profunda do que demonstram as narrativas mais populares. A vida e atuação da Preta Simoa é uma forte demonstração de como nossos livros, discursos e estudos estão longe do verdadeiro reconhecimento da luta negra e, especialmente, da luta da mulher negra.
O grupo de pretas que carrega o nome da Tia Simoa tem um importante papel de desbravar territórios e conhecimentos limitados. Mas essa atitude não deve ser delegada a um único coletivo, pelo contrário, é papel do povo brasileiro conhecer a sua verdadeira história.
Foto: Lino Fly Kariri. “Da senzala ao cartão postal: a objetificação da mulher negra.”                                                                                 

8 – Relação completa dos aniversariantes da semana.       Intervalo compreendido do dia 25 a 31/01/2019

25 Beth Goulart (58 anos) -  Diana Pequeno (61 anos) -   Geysa Boscoli (112 anos) -  Ildásio Tavares (79 anos) -  Joana
Duah (44 anos)
-  João Evangelista (49 anos) -  Leandro Lehart (47 anos) -  Marko Rupe (8 anos) -  Milton de Oliveira (103 anos) -  Mozart de Araújo (115 anos) -   Pedro de Sá Pereira (127 anos) -  Petrúcio Amorim (60 anos) -  Renato Almeida (38 anos) -  Ricardo Serpa (59 anos) -  Tia Doca (10 anos) -  Tom Jobim (92 anos) -  Tom Veloso (22 anos) -  Toninho Spessoto (61 anos) Valzinho (39 anos) -  Vittor Santos (54 anos)






Especial Brumadinho
Rompimento de barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) — Foto: G1
O rompimento de uma barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), nesta sexta-feira (25) deixou um rastro de lama que deixou pessoas desaparecidas e destruiu casas na região.

Veja o que se sabe até agora sobre como foi rompimento das barragens:

·                    O rompimento ocorreu no início da tarde na Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho;
·                    A Vale informou sobre o acidente à Secretaria do Estado de Meio-Ambiente às 13h37;
·                    Um mar de lama com rejeitos destruiu casas ao redor e a área administrativa da Vale;
·                    O volume de rejeitos vazados foi menor do que a tragédia de Mariana. Segundo o presidente da Vale, vazaram 12 milhões de metros cúbicos. Em Mariana, há 3 anos, foram 43,7 milhões de metros cúbicos;
·                    Ao menos seis prefeituras emitiram alerta para que população se mantenha longe do leito do Rio Paraopeba, pois o nível pode subir. Às 15h50 de sexta, os rejeitos atingiram o rio;
·                    Por precaução, o Instituto Inhotim retirou funcionários e visitantes do local
·                    Até a noite do sábado havia 34 mortes confirmadas. A Vale divulgou uma lista com 252 nomes de funcionários com os quais não conseguiram contato. Além destes funcionários, há outras possíveis vítimas entre pessoas em casas e em uma pousada na região que foram soterradas;
·                    A Vale já teve R$ 6 bilhões bloqueados e recebeu multas no total de R$ 350 milhões;
·                    As Polícias Federal e Civil abriram inquéritos sobre o rompimento (veja);
·                    A Vale informou que o rompimento ocorreu na barragem 1 da Mina Feijão – que causou o transbordamento de outra barragem, segundo o presidente da empresa, Fábio Schvartsman;
·                    O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, informou que foram 3 barragens rompidas; 


Imagem de arquivo mostra localização das barragens da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) — Foto: Reprodução
·                  A estrutura da barragem 1, utilizada para disposição de rejeitos, foi construída em 1976 e tem volume de 12 milhões de metros cúbicos;

Barragem
I – Mina Córrego do Feijão — Foto: Reprodução
·                    Já a barragem 6 é usada para recirculação de água e contenção de rejeitos em eventos de emergência. Foi construída em 1998, e tem cerca de 1 milhão de metros cúbicos;

Barragem
VI – Mina Córrego do Feijão — Foto: Reprodução
·                    A Barragem Menezes II, também na região, tem um volume de aproximadamente 290 mil metros cúbidos e é utilizada para a contenção de sedimentos e clarificação do efluente final;

Barragem
Menezes II – Mina Córrego do Feijão — Foto: Reprodução
·                    Quase todas as barragens da Vale no Córrego do Feijão eram consideradas de baixo risco, mas de dano potencial alto. A informação é do Cadastro Nacional de Barragens da Agência Nacional de Mineração;
·                    Schvartsman disse à Globonews que o vazamento foi de rejeitos de minério de ferro;
·                    Por precaução, o Instituto Inhotim retirou funcionários e visitantes do local;
·                    O governo federal constituiu um gabinete de crise para acompanhamento do incidente.
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ROMPIMENTO DA 
BARRAGEM EM BRUMADINHO: ENTENDA O QUE ACONTECEU E SAIBA COMO A ENGENHARIA PODE EVITAR OUTRAS TRAGÉDIAS
28 de janeiro de 2019
Por Larissa Ferreguetti
Infelizmente, o ano de 2019 começou com uma notícia triste: o rompimento da barragem em Brumadinho. Pouco mais de três anos após a tragédia do rompimento da barragem em Mariana, o sofrimento se repete, agora na região metropolitana de Belo Horizonte. Será que a engenharia poderia ter ajudado a evitar o ocorrido?
Como engenheiros, o que podemos fazer para evitar futuros desastres como esses?

+ O rompimento da barragem em Brumadinho




A tragédia ocorreu no dia 25, em Brumadinho, uma cidade que fica na região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A barragem, da Mina Córrego do Feijão, pertence à Vale.
Até o momento, tudo ainda é muito confuso. Não se sabe, exatamente, o número de pessoas que pode estar desaparecida. Várias pessoas foram resgatadas com vida, muitas feridas, e há vítimas fatais. O número de mortos, infelizmente, está aumentando. Deve levar alguns dias para que os números sejam definitivos.
O sofrimento é uma reprise do vivido em Mariana e há famílias devastadas. A lama atingiu também o refeitório da Vale, que estava cheio de funcionários no momento do acidente (estimou-se que o número de funcionários na mina no dia fosse de, aproximadamente, 427). Esse fato pode fazer com que o número de
vítimas seja muito maior que o de Mariana.




A lama atingiu o rio Paraopeba e a população no entorno do corpo hídrico foi alertada, visto que o nível da água poderia subir. O Paraopeba tem sua foz na represa de Três Marias e é um dos principais afluentes do São Francisco. Ele faz parte do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Até o momento, a Copasa, responsável pelo abastecimento de água da região, suspendeu a captação no rio, mas afirmou que outros sistemas estão abastecendo a população e que possuem volume de água e capacidade suficiente para isso.
O famoso Instituto Inhotim, que fica em Brumadinho, foi fechado e precisou realizar a evacuação dos visitantes. O acesso à cidade também está difícil


+ Barragem I da Mina Córrego do Feijão

Segundo a Vale, a Barragem I, que se rompeu, tinha a finalidade a disposição de rejeitos provenientes de produção e não recebia rejeitos atualmente. Estava em processo de descomissionamento.
A barragem foi construída em 1976, pelo método de alteamento a montante, e adquirida pela Vale em 2001. Tinha 86 metros de altura e 720 metros de comprimento. A área ocupada pelos rejeitos era de 249,5 mil metros quadrados e o volume de 11,7 milhões de metros cúbicos. Para efeitos de comparação, esse é um volume muito menor que o da barragem de Mariana, que foi de 43,7 milhões de metros cúbicos. Porém, o número de mortos de Brumadinho já superou o de Mariana

No comunicado em seu site, a Vale afirma que a Barragem I tinha Declarações de Condições de Estabilidade e que passava por inspeções quinzenais. Havia, ainda, Plano de Ações Emergenciais de Barragem de Mineração e o sistema de alerta era funcional. Por isso, a empresa declarou que ainda busca as respostas para o que ocorreu.


+ O tamanho do impacto


É impossível valorar as vidas que foram perdidas. Os danos social e ambiental causados são gigantescos e a cidade de Brumadinho está destruída e arrasada. A população lamenta angustiada a perda de conhecidos e a destruição da cidade.
Ainda não é possível estimar todos os impactos provenientes do rompimento da barragem em Brumadinho. Apesar de o volume de rejeitos ser menor que o de Mariana, o número de mortos pode ampliar consideravelmente a tragédia. As imagens mostram que a lama tomou grande parte da região. Mesmo que a lama não seja tóxica, o material que fica nos rejeitos pode contaminar o solo e a água.




Os feridos e os desabrigados estão sendo encaminhados para a cidade de Belo Horizonte. Vários grupos de voluntários se organizam no recebimento de doações. Porém, como há uma grande movimentação na região do acidente, muitos aguardam para fazer o deslocamento e a entrega das doações.
Ainda, a Vale afirmou que prestará todo o auxílio necessário.

+ As minas de Minas

A revolta e a comoção não estão só na região de Brumadinho. Elas se espalham pelo país e pelo mundo. Afinal, embora a causa não tenha sido identificada, é provável que o ocorrido poderia ter sido evitado.
A questão ambiental no Brasil é polêmica. Embora existam instrumentos na legislação que visam resguardar o meio ambiente, como o Estudo de Impacto Ambiental, nem sempre tudo é feito de maneira ideal e há muitas falhas que poderiam ser evitadas se houvesse maior fiscalização e rigor.
A mineração, por exemplo, faz parte da história do estado de Minas Gerais e auxilia no seu desenvolvimento. Porém, é preciso ponderar o tamanho do impacto proveniente dessa atividade e exigir que a operação, a implantação e o descomissionamento ocorram de maneira adequada. No início do ano passado, foi
divulgado que Minas Gerais tem mais de 400 barragens de rejeito e que, delas, cerca de 50 apresentavam riscos. A da Mina Córrego do Feijão não fazia parte da lista de risco.
Após o que houve em Mariana em 2015, uma barragem apresentou risco de rompimento em Congonhas em 2017-2018. Se as comunidades próximas a barragens já estavam com medo após 2015, certamente, a intensidade piorou depois do rompimento da barragem em Brumadinho.

+ Como a engenharia pode evitar tragédias como esta?

Infelizmente, no Brasil, agir preventivamente não é uma prioridade. Várias barragens instáveis estão espalhadas pelo país, colocando em risco comunidades inteiras.
Isso levanta o questionamento: até quando vermos pessoas, animais, casas, cidades e rios cobertos de lama?
Como engenheiros, precisamos cogitar todos os riscos e agir para que eles não aconteçam. É preciso parar de pensar que algo não vai acontecer porque o risco é baixo. Se existe um risco, mesmo que baixo, é porque há possibilidade de que a situação aconteça e é preciso trabalhar tanto para evitá-la quanto para ter um plano emergencial.
Também é preciso pensar além de simplesmente seguir a legislação para não receber uma multa ou algo parecido. Há uma diferença entre cumprir o que os órgãos ambientais exigem apenas por questões burocráticas e cumprir para evitar que tragédias aconteçam. Claro que, para isso, também é preciso que a legislação seja adequada. São pequenos pontos que, negligenciados, podem se acumular e causar tragédias como as que não queremos mais ver.
Precisamos pensar, em primeiro lugar, não na economia dos gastos, mas na preservação da vida e do ambiente. Não podemos ignorar pequenos riscos (principalmente os que são muito pequenos, mas com impactos negativos gigantescos), também é preciso monitorar adequadamente e ter planos de contenção e emergência. Afinal, é exatamente com isso que nos comprometemos ao fazer o juramento da Engenharia:

Prometo que, no cumprimento do meu dever de Engenheiro, não me deixarei cegar pelo brilho excessivo da tecnologia, de forma a não me esquecer de que trabalho para o bem do Homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou poluam, além de colocar
todo o meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz comigo e com Deus.

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Especialista alerta que barragens do município estão próximas a comunidades

Engenheiro Marcos de Oliveira Guerra defende planos de contingência, emergência e fiscalização
Por Gracielle Nocelli 
29/01/2019 às 07h02- Atualizada 29/01/2019 às 09h49

Com a tragédia ocorrida em Brumadinho, muitos juiz-foranos passaram a questionar as condições as barragens na cidade, número que chega a, pelo menos, oito, sendo três de usinas hidrelétricas, três de abastecimento e duas de resíduos industriais. O engenheiro e especialista em segurança de barragens, Marcos de Oliveira Guerra, afirma que os riscos de rompimento na cidade são medianos. “Há uma escala de avaliação que considera diferentes fatores, como prejuízos ambientais e sociais, por exemplo. Este índice pode chegar a 18 de pontuação.
As barragens de Juiz de Fora, em 2016, atingiam em torno de 11.” Na prática, ele explica que isto significa que é preciso ficar em alerta e realizar as fiscalizações e as manutenções das estruturas com periodicidade. “Qualquer obra de engenharia é perecível. Tudo que é material tem seu ciclo de vida.” Um dos aspectos que exige atenção, segundo ele, é a localização destas barragens.
“Estão todas na cabeceira do município, próximas às comunidades. É preciso planos de contingência, emergência e fiscalização.”
O especialista esteve presente na audiência pública convocada pelos vereadores em 2016 e sugeriu a criação de uma comissão específica com participação popular, do poder público e dos responsáveis pelas barragens para definir procedimentos de fiscalização. “Não sei se a ideia foi adiante, pois eu não fui convidado para integrar nenhum grupo. Infelizmente, ainda falta sensibilização para os riscos relativos a este tema.” De acordo com Marcos, as barragens de rejeito são as mais preocupantes. “A forma como são construídas no Brasil, com a técnica a montante, oferece muita insegurança. Na realidade, eles fazem um
montinho para parar o rejeito e vão subindo esta estrutura conforme o armazenamento de resíduo aumenta. É um sistema barato, precário e muito instável.”
Considerando as barragens de rejeitos “um desrespeito à população brasileira”, Marcos cobra a necessidade de maior empenho por parte do poder público. “O que aconteceu em Brumadinho é criminoso, é caso de polícia. Construíram um refeitório desconsiderando os riscos da barragem. Este tipo de estrutura é fácil de ser
rompido. Com as privatizações, o monitoramento das condições das estruturas ficaram a cargo das próprias empresas. As nossas autoridades devem responsabilizar criminalmente os envolvidos. Já são três anos da tragédia de Mariana, e ninguém foi responsabilizado, isto é um absurdo. De um lado você tem mineradoras que objetivam lucro fácil e que agem com irresponsabilidade e desconhecimento. De outro, os nossos dirigentes e governantes que não identificam e punem os responsáveis por estes crimes hediondos.”

Comissão da Câmara diz acompanhar condições

O presidente da Comissão de Urbanismo, Transporte, Trânsito, Meio Ambiente e Acessibilidade da Câmara de Juiz de Fora, José Márcio (Garotinho, PV), informou que, desde 2016, tem acompanhado de forma mais próxima as condições das barragens da cidade. “Após o desastre em Mariana, realizamos uma audiência
pública, em fevereiro de 2016, sobre o assunto. Naquele ano, visitamos os locais para saber como é feito o monitoramento. Após as chuvas fortes do final de 2018, nos reunimos novamente com representantes da Cesama que garantiram que continuam com as manutenções.”
José Márcio relata as condições verificadas nas barragens administradas pela Cesama.
“A de Chapéu D’Uvas tem um volume maior de água e foi construída em concreto armado, portanto, é mais resistente. Neste tipo de barragem é possível prever a possibilidade de rompimento, pois o próprio material mostra isso. Já a de São Pedro possui um volume bem menor de água e foi feita com uma mistura de
concreto e terra”, diz. “Das três, a que precisa de maior atenção é a de João Penido, pois foi erguida apenas com terra.”
Segundo ele, a barragem da Usina da Picada, também para a captação de água e de responsabilidade da Votorantim Energia, conta com alarme para casos de acidentes. “A empresa nos mostrou que possui um sistema de monitoramente aprimorado.” Com relação às barragens da Pedra e dos Peixes, administradas pela Nexa Resource e que são de rejeitos, José Márcio informou que a última visita foi realizada em 2016 junto com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, e que as condições apresentadas à época também eram satisfatórias. “Os riscos de rompimento de qualquer barragem existem, por isso, o mais importante é a
fiscalização e a manutenção constantes.”

“A forma como são construídas no Brasil, com a técnica à montante, oferece muita insegurança. Na realidade, eles fazem um montinho para parar o rejeito e vão subindo esta estrutura conforme o armazenamento de resíduo aumenta. É um sistema barato, precário e muito instável.”


Representantes da UFJF vão a Brumadinho 


Representantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) seguiram para Brumadinho nesta segunda-feira (28), onde irão participar de uma reunião para discutir medidas de curto e longo prazo relativas ao rompimento da barragem de rejeitos de minério da Vale. O encontro contará com a participação das universidades Federal do Espírito Santo (Ufes) e de Ouro Preto (Ufop) e de pesquisadores do Programa Participa UFMG Mariana-Rio Doce, fundado após o crime ambiental em Mariana.
A Tribuna entrou em contato com o pesquisador da área Bruno Milanez, um dos representantes da UFJF no encontro. O especialista, que vem estudando a situação ocorrida em Mariana, informou que irá se dedicar a entender o que ocorreu em Brumadinho. “É uma iniciativa que já surgiu em 2015, a partir do rompimento de Fundão, quando UFMG, Ufes e Ufop se reuniram para estabelecer uma força-tarefa de ações imediatas. A universidade pública, no seu papel, tenta apoiar as pessoas atingidas. É mais uma linha de assessoria e extensão, atendimento médico, garantias de direito e, imagino, pensar uma agenda de médio a curto prazo de
pesquisa e intervenção.”

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo, divulgada nesta segunda (28), Bruno afirma que, dentre as mudanças necessárias para evitar tragédias como a de Mariana e a de Brumadinho, estão medidas como estabelecer distância mínima de dez quilômetros entre as barragens e as comunidades, e impor limite ou proibir estruturas construídas com a técnica à montante, considerada o tipo mais comum, mais barato e menos seguro.
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Condição das barragens de JF será discutida


Cidade possui, pelo menos, oito estruturas, sendo duas de rejeitos industriais; fiscalização deve ser periódica para evitar desastres
Por Gracielle Nocelli
29/01/2019 às 07h02- Atualizada 29/01/2019 às 07h31
A tragédia ocorrida em Brumadinho com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, na última sexta-feira (25), trouxe à tona a preocupação de outros municípios mineiros. Só em Minas Gerais há mais de 400 barragens de rejeitos, conforme dados do Ministério Público (MPMG). O Estado ainda não se recuperou do desastre acontecido em Mariana, em 2015, quando a barragem do Fundão, pertencente à Samarco, se rompeu e destruiu o distrito de Bento Rodrigues e outras localidades, e agora enfrenta uma situação com proporções ainda maiores. Há três anos foram 19 mortes. Em Brumadinho, o número de vítimas fatais já chegava a 65 e poderia aumentar, conforme divulgado pelo Corpo de Bombeiros na noite desta segunda-feira (28). A situação alerta todo o território mineiro.
Em Juiz de Fora há, pelo menos, oito barragens, sendo três de usinas hidrelétricas, três de abastecimento e, duas, de resíduos industriais. A Companhia Municipal de Saneamento (Cesama) opera as barragens de abastecimento das represas de Chapéu d’Uvas, cujo volume é 146 milhões de metros cúbicos, Dr. João Penido, de 16 milhões de metros cúbicos, e São Pedro, com 1,2 milhão de metros cúbicos. Já a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) administra as barragens das usinas hidrelétricas de Joasal e Marmelos. A Usina Hidrelétrica de Picada, localizada no distrito de Torreões, no entanto, é de propriedade da Votorantim
Energia, braço do Grupo Votorantim, responsável, também, por meio da Nexa Resources, pelas duas barragens de rejeitos de Juiz de Fora: Barragem da Pedra e Barragem dos Peixes, esta inativa. Ambas as estruturas de resíduos industriais têm, respectivamente, 1,5 milhão e 800 mil metros cúbicos.
A Agência Nacional de Águas (ANA), por meio do Relatório de Segurança de Barragens, classifica as estruturas por meio de critérios como a categoria de risco e o dano potencial associado. O órgão regulador compreende como categoria de risco as possibilidades de ocorrência de um incidente e, como dano potencial
associado, a gravidade do incidente em caso de ocorrência. Conforme a edição de 2017 do relatório, todas as barragens localizadas no Município de Juiz de Fora apresentam dano potencial associado alto. No que diz respeito à categoria de risco, as barragens das represas Dr. João Pedro e de São Pedro são enquadradas
na modalidade moderado, ao passo que as demais apresentam baixo risco de incidente, segundo avaliação da ANA.

 Ações para esclarecer população


A preocupação em saber a situação de cada uma delas, a possibilidade de riscos e a necessidade de ações preventivas motivaram vereadores da Câmara Municipal de Juiz de Fora a solicitarem uma audiência pública sobre o assunto, ainda sem data definida. No pedido protocolado por Marlon Siqueira (MDB), ele justifica que a população solicitou esclarecimentos. “Só com boa informação combatemos o pânico e garantimos o acesso aos direitos. Após a calamidade de Brumadinho, recebi diversos pedidos de informação de moradores próximos a essas barragens, preocupados com a situação”, afirmou. Já no pedido protocolado por Cido Reis (PSB), o vereador destacou a importância de ações de prevenção.”Não podemos deixar que o mesmo desastre aconteça em nossa cidade, por isso, precisamos analisar todas as barragens construídas em Juiz de Fora e saber de suas condições reais.” O vereador Antônio Aguiar (MDB) solicitou à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) que envie relatório em relação à segurança das barragens em Minas Gerais, com foco na Zona da Mata.

Cesama e Nexa garantem avaliações Questionadas pela reportagem a respeito dos trabalhos de manutenção, monitoramento e fiscalização, a Cesama e a Nexa Resources garantiram o cumprimento de critérios específicos no processo de gestão de barragens. Conforme a Cesama, a última inspeção das barragens de Chapéu d’Uvas, Dr. João Penido e de São Pedro “ocorreu no final de 2018 (entre novembro e dezembro) e um novo relatório está para ser emitido”. “São avaliados aspectos estruturais e de conservação, bem como de operação, com inspeções nas  barragens, avaliação de registros e dos instrumentos instalados nas barragens, e ainda recomendações de ações”, descreveu a empresa de saneamento em nota. “Toda barragem implica em um risco.

Contudo, o monitoramento efetuado e os serviços de manutenção e conservação realizados pela Cesama indicam que não existe o risco como vem sendo propagado quanto a esse fato. (…) Nas atuais regras de operação, não existe qualquer risco de rompimento identificado.”

A Nexa, por sua vez, “ressalta que todas as suas barragens possuem laudos técnicos que garantem a estabilidade das operações. Estes relatórios são encaminhados sistematicamente aos órgãos fiscalizadores.” A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) é a responsável pela
fiscalização das barragens de resíduos industriais. Segundo a empresa, a última fiscalização pelo órgão ambiental ocorreu em agosto de 2018. “Além de instrumentos de monitoramento, como piezômetros, poços de monitoramento, inclinômetros e pluviômetros, as barragens possuem uma rotina de inspeção interna quinzenal, avaliação mensal externa dos dados de monitoramento e inspeção e, ainda, emissão de relatório semestral de estabilidade”, detalhou a Nexa a respeito dos critérios de monitoramento das estruturas. Até o fechamento desta edição, a Cemig não retornou os questionamentos da reportagem.

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