quarta-feira, 17 de junho de 2020

NP 394 de 12 a 18/06/2020 - POR QUE NÃO TE CALAS, ESTÚPIDO? - A nova língua neoliberal no seu esplendor - Bolívia - 1952: o ano em que a revolução chegou ao poder - Wilson das Neves 14/06, Ivan Lins - 16/06, Maria Bethânia e Paulo da Portela 18/6

NP 394
  
Chamada NP 394
    

Notícias Petroleiras e outras, estes são os nossos módulos.

Vinheta - Pesadelo MPB 4
Composição:Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro

EDITORIAL -1 - POR QUE NÃO TE CALAS, ESTÚPIDO?

2 - A nova língua neoliberal no seu esplendor = Beocionário

Módulo I  Aumento de 19,2% nas importações mostra que a China já deixou a pandemia para trás

18/06/2020

 

www.professorivanluiz.com.br

 

youtube.com/c/IvanLuiz

 

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Ivan Luiz Jornalista –

Reg. CPJ 38.690 - RJ –1977.

Módulo II  O corte de dividendos da Shell é permanente?

Módulo III  O Petróleo, a Petrobras, A tecnologia e a Soberania Nacional

Módulo IV Lutas e Revoluções na América Latina Seculos XIX, XX e XXI -
– Série Memorial da Democracia – Bolívia

Módulo V - Homenageados na cultura brasileira,  destaque para  Wilson das Neves (84 anos) 14 - Ariano Suassuna (93 anos) - Ivan Lins (75 anos) 16 -  Maria Bethânia (74 anos) -  Paulo da Portela (119 anos)  18

Módulo VI Relação completa dos aniversariantes de 12 a 18/06

Módulo VII – Após quase 80 dias de quarentena, biólogo encontra espécies raras em mergulho na Baía de Guanabara 

Módulo VII_I –   Tire o seu racismo do caminho

Módulo VII_II –  Governo quer suspensão  de contrato e corte de jornada por mais tempo – MP 936, prorrogação dos ataques aos Trabalhadores

Módulo VII_III – O Brasil pós 18/06/2020 Queiroz x Moro

UrgenteBP anuncia corte de 10 mil postos de trabalho -  Existe uma esquerda religiosa?

Homenagem ou Chamada Especial: Deviam ser branqueados: como derrota da Alemanha nazista salvou América Latina


EDITORIAL: 

1 - Desabafo de um médico à convocação de Bolsonaro para o povo entrar nas UTIs e fazer fotografias

 

POR QUE NÃO TE CALAS, ESTÚPIDO?

- Chega!

- Cala a boca, porra!

- Sai daí!

Respondo-te com teu linguajar chulo e autoritário, que não é o meu. Assim tu compreenderás,com teus simplórios atributos intelectuais, o que quero dizer. Exigimos respeito, como médicos e profissionais de saúde. Não mentimos ou desprezamos fatos, nem temos tua boca suja a cuspir palavrões, insanidades e acusações levianas. Respeitamos, ao contrário de ti, os 40.000 mortos e seus familiares. Tu és ingrato. Nenhuma palavra de agradecimento ou apoio aos que labutam bravamente contra essa doença. Tu és covarde. Escuda-se atrás de militares de alta patente para esconder tua inépcia e incapacidade gerencial. Teu passado é sombrio, tenente cínico. Foste enxotado da caserna por trair os regulamentos militares. Deputado medíocre. Nunca defendeu algo nobre. Apologista da tortura, prestarás conta dos teus atos. Desce dos helicópteros em que te penduras e macaqueia pelos céus. Desce do cavalo de narinas dilatadas em que tu, sacudido como um esqueleto sem máscara, avança para teu triunfo, o triunfo da morte. Vem governar, estúpido! Não tememos tuas ameaças e milícias. Venham aos hospitais públicos. Encontrarão cansaço, faces marcadas pelas máscaras do trabalho, mãos limpas, amor e dedicação a profissão. Encontrarão doentes se recuperando, alguns ainda próximos da morte, corpos no necrotério e lágrimas dos familiares. Documentarão familiares agradecidos ao trabalho de profissionais e gestores sérios que lutaram pela vida e contra a morte. Beócio, tudo isso te causa ira, inveja e despeito e corrói tuas pútridas entranhas. Teu ocaso deixará alívio e não saudade. Se calados ficarmos, teu desgoverno deixará um rastro de miséria com uma legião de desempregados e subempregados, devastará o meio ambiente, aniquilará minorias, fortalecerá o obscurantismo, destruirá a cultura, a ciência e o pensamento, inflingindo a nós, povo brasileiro, os piores vexames perante a comunidade internacional. Tu não passas de um soldado bisonho marchando em círculos, acompanhado de um pelotão de coveiros, a administrar cemitérios lotados e negar os fatos.

 

Sérgio Pessoa - Médico e Cidadão Brasileiro.

 

Resposta ao pronunciamento de JMB, ao vivo, em redes sociais, em 11 de junho de 2020: “Quem que quer ganhar com isso? Tem um ganho político dos caras... Tem hospital de campanha perto de você? Tem hospital público? Arranjem uma maneira de entrar e filmem... Complemento abaixo:

 

Nº de Mortos - COVID-19 ( 12/06/2020 )

Países governados pela extrema-direita.

Países governados pela esquerda.

EUA

114.643

China

4.638

Brasil

41.566

Portugal

1.505

Inglaterra

41.566

Argentina

785

 

 

Cuba

84

 

 

Venezuela

23

 

EDITORIAL - 2 –

A nova língua neoliberal no seu esplendor

12 Junho - Escrito por  João Rodrigues

Não se diz exploração laboral, diz-se moderação salarial

Não se diz patrão, diz-se empreendedor.

Não se diz direito do patrão, diz-se flexibilidade laboral.

Não se diz direito do trabalhador, diz-se rigidez laboral.

Não se diz capitalismo, diz-se economia de mercado.

Não se diz regra ambiental, diz-se barreira ao investimento.

Não se diz especulação, diz-se arbitragem.

Não se diz predação financeira das empresas, diz-se criação de valor para o acionista.

Não se diz soberania, diz-se fechamento.

Não se diz perda de soberania devido à UE, diz-se partilha de soberania na Europa.

Não se diz perda de controle democrático, diz-se abertura.

Não se diz controlo de capitais, diz-se repressão financeira.

Não se diz redistribuição de baixo para cima, diz-se mercado livre.

Não se diz socialização dos prejuízos da banca, diz-se resgate ou resolução.

Não se diz controlo da política monetária pelo capital financeiro, diz-se banco central independente.

Não se diz justiça social, diz-se inveja.

Não se diz regressividade fiscal, diz-se incentivo.

Não se diz progressividade fiscal, diz-se confisco.

Não se diz construção política de instituições econômicas, diz-se ordem espontânea.
Há muitas mais coisas que devem ser ditas quando se pretende ofuscar ideologicamente a realidade.

Não se diz opinião paga por grandes interesses econômicos, diz-se opinião independente.

Não se diz panfleto europeísta, diz-se jornal de referência Público.

Não se diz destruição e crime econômico (aquilo que a Troika fez aos do sul, especialmente à Grécia), diz-se solidariedade europeia.

Não se diz propagandista, diz-se Camilo Lourenço; Helena Garrido; Manuel Carvalho; João Vieira Pereira.

Não se diz zona monetária que não funciona, diz-se mais Europa.

Não se diz crime de guerra, diz-se libertação dos povos oprimidos.

Não se diz roubo de petróleo e outros recursos naturais, diz-se odioso ditador Maduro.

Não se diz odioso regime Saudita, diz-se grande aliado do Ocidente.

Não se diz organização belicista, diz-se OTAN.

Não se diz organização anacrónica, diz-se FMI.

Não se diz organizações sem legitimidade democrática e sem escrutínio da população, diz-se Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

Não se diz mais de uma década perdida, empobrecimento, precarização, regressão e transferência da riqueza da base para o topo, diz-se reestruturação da economia.

Não se diz exploração laboral, diz-se moderação salarial.

João Rodrigues - Economista.

 

O original encontra-se em http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2020/06/da-sabedoria-convencional.html

 

Fonte: Resistir.info

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Destaque para Módulo I

Aumento de 19,2% nas importações mostra que a China já deixou a pandemia para trás

10 Junho 2020

Alta de 5,2% na comparação com cinco primeiros meses de 2019

Quem ainda tinha dúvidas de que a China já está em um patamar acima dos danos causados pela Covid-19, pode tirar o cavalo da chuva. Os números revelam uma retomada forte. As importações de petróleo bruto pela no mês de maio cresceram simplesmente 19,2% na comparação anual, para o maior nível mensal já registrado. Esses números crescem à medida que a demanda por combustíveis tem uma recuperação consistente depois do relaxamento de medidas de isolamento adotadas contra o novo coronavírus. Só em maio, o maior importador global de petróleo, que atende refinarias estatais e privadas, comprou mais de 11 milhões de barris por dia.

Nos primeiros cinco meses de 2020, a China importou um total de 10,3 milhões de bpd, uma alta de 5,2% na comparação com mesmo período do ano anterior. A China recuperou a demanda por petróleo em quase 90% do nível visto antes da pandemia de coronavírus. A taxa de utilização média em refinarias estatais foi de 71,2% em maio, alta de 3,2 pontos percentuais comparado ao mês de abril, enquanto refinarias privadas operaram a 76,1%. As exportações de produtos refinados somaram 3,8 milhões de toneladas em maio. Entre janeiro e maio, a China exportou 29,9 milhões de toneladas de combustíveis. As importações de gás natural e maio, incluindo por gasodutos e gás natural liquefeito (GNL), foram de 7,8 milhões de toneladas. Entre janeiro e maio, elas somaram 40,1 milhões de toneladas.

 

Fonte: Petronotícias

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Módulo II

O corte de dividendos da Shell é permanente?

09 Junho Escrito por  Leonard Hyman e William Tilles

 

Os investidores ficaram mais do que irritados quando a Royal Dutch Shell cortou seus dividendos em dois terços.

No ano passado, a gigante petrolífera anunciou seu plano de pagar enormes dividendos nos próximos cinco anos. Na verdade, os investidores usaram termos mais fortes do que "irritados". Eles têm motivos para se aborrecer após o forte compromisso com os dividendo, mas talvez devessem ter demonstrado anteriormente um ceticismo maior sobre a capacidade de qualquer gerência de assumir esse compromisso. Os tempos mudam e talvez nenhuma gerência ou diretoria deva se comprometer publicamente com ações tão adiantadas.

A Royal Dutch Shell tem uma reputação de planejamento futuro. E a política de dividendos, que supostamente reflete as melhores projeções de longo prazo da administração, não é algo que se possa considerar superficialmente. Então, o que diz o corte significativo de dividendos? A administração ofereceu duas explicações: 1) não era prudente pagar um dividendo que não seria ganho e isso exigiria empréstimos para sustentar. E reduziria a resiliência (uma palavra favorita hoje em dia) da empresa.

A Royal Dutch Shell, no entanto, tem o poder e os recursos de empréstimos para pagar dividendos não realizados, além de realizar outras atividades durante um curto período de dificuldades. Pudemos ver um fluxo de caixa de US $ 35 bilhões e despesas de capital de US $ 20 bilhões durante um ano ruim, o que deixa o suficiente para pagar o dividendo anual de US $ 15 bilhões. Um gerenciamento otimista não veria isso como um problema. Mas uma redução de 66% nos dividendos sugere esperanças menos do que otimistas de uma recuperação acentuada da demanda.

Ou talvez, em vez disso, que as condições globais cada vez mais voláteis do mercado de petróleo possam se tornar o novo normal, tornando imprudente um grande dividendo.

A administração acrescentou outra explicação: 2) A empresa também precisava dos recursos em dinheiro do dividendo para mudar para uma posição de zero emissões de carbono até 2050. Isso parece ter intrigado os investidores ainda mais do que preocupações com a profunda volatilidade futura do mercado. A administração da Royal Dutch Shell não explicou como o dinheiro economizado dessa maneira seria redistribuído com lucro para atingir essa meta. A questão colateral dos investidores é a seriedade com que as orientações da administração devem ser tomadas, assumindo uma continuidade da política financeira por muitas décadas no futuro, muito depois das aposentadorias da atual diretoria.

A Royal Dutch Shell poderia deixar de investir em novas propriedades petrolíferas, vender o que possui e investir dinheiro em energia não fóssil ou simplesmente devolver o dinheiro a seus investidores. Isso o colocaria em uma posição zero líquida mais cedo. Ou poderia encerrar seus negócios de petróleo gradualmente e liquidar a empresa pagando dividendos em vez de reter o dinheiro. Mas com tanto dinheiro investido no desenvolvimento de propriedades petrolíferas, é difícil para as pessoas de fora avaliar a nova direção da empresa, que parece ser: "Queremos ser ecológicos, mas ainda não".

Essa ambivalência sobre a direção do investimento de capital coloca os investidores em uma posição desconfortável. Aqueles que procuram rendimentos constantes e altos foram notificados. Eles não podem mais depender desse setor para obter lucros acima da média. Os investidores com crescimento mais tolerante ao risco também podem se tornar reticentes quanto a uma empresa perder gradualmente participação de mercado de energia que cresce lentamente.

Os investidores que desejam exposição ao mercado de energias renováveis ​​provavelmente não o farão através de investimentos em empresas de petróleo que cada vez mais possuem energias renováveis. Nesse sentido, as empresas de petróleo, nesta fase, não trazem muito para a mesa, exceto seu dinheiro. E há muito disso de outras fontes.

Também o movimento de investidores em governança ambiental-social (ESG) está crescendo em importância. E esse grupo vocal é decididamente anti-petróleo e todos os outros combustíveis fósseis. No passado, os gerentes de portfólio que atendiam a investidores orientados para o rendimento podiam dizer: “Sim, essas empresas de petróleo são grandes poluidoras, mas onde mais você pode obter 500 ou 600 pontos base acima da taxa livre de risco? Bem, com esse corte de dividendos, esse argumento acabou de ser jogado pela janela.

Quase cinco décadas atrás, a indústria de serviços públicos de eletricidade dos EUA possuía uma reputação de dividendos sólidos em ações ordinárias com rendimentos acima da média.

Mas as usinas elétricas, especialmente as localizadas nas costas leste e oeste, naquela época eram fortemente abastecidas por petróleo barato do Oriente Médio. De repente, esse combustível anteriormente barato se tornou escasso e depois muito mais caro. A própria Consolidated Edison Company de Nova York se viu fortemente exposta no início dos anos 70 e fez o impensável, cortou seu dividendo. Esse foi o quebra-gelo, por assim dizer.

Outros seguiram.

O principal argumento, para nós, é que, após o corte de dividendos da Con Ed, os investidores orientados para o rendimento analisaram as concessionárias de energia elétrica de maneira diferente. Eles não podiam mais contar com dividendos, mesmo em períodos de estresse. Perguntamos se, de maneira semelhante, a ação sobre os dividendos da Royal Dutch Shell também quebrou o gelo.

Original: https://oilprice.com/Energy/Energy-General/Is-Shells-Dividend-Cut-Permanent.html






















































































  

Módulo III


 

 

 

 

 

 


Fonte: 

 


 

Data

Módulo IV - Lutas e revoluções Populares na América Latina nos séculos XIX, XX e XXI


1952: o ano em que a revolução chegou ao poder

A Revolução Boliviana de 1952 foi o ápice de um longo processo, que evidenciou não apenas as contradições sociais do país, mas também atores políticos até então invisíveis: os camponeses e os operários. No início dos anos 1950, 80% dos três milhões de habitantes do país viviam em zonas rurais. Essa população era formada, sobretudo, por comunidades indígenas inseridas numa estrutura agrária marcada pelo latifúndio e por um sistema de trabalho quase servil. Sem direito a terra, sem direito a voto, analfabetos na maioria e com representatividade política mínima, essas comunidades inexistiam no âmbito das instituições.

 

Concentração, na praça Murillo, onde fica o governo federal, para apoiar o presidente pelo MNR em 1952, Victor Paz Estenssoro (Foto: Diário La Razón/Reprodução)

 

A classe operária, por sua vez, era menos numerosa, mas estava um passo à frente dos camponeses no que diz respeito às formas de associação política. Seu espaço de atuação, porém, era reduzido, principalmente porque as minas de estanho, que aglutinavam a maior parte desses trabalhadores, eram propriedade de três grandes famílias que compunham “la Rosca”, como ficaram conhecidas as oligarquias do país.

 

Entre esses dois polos havia uma classe média economicamente estagnada, sem perspectiva de ascensão social: comerciantes, artesãos, funcionários públicos. Essa sólida estrutura social foi balançada por dois acontecimentos que fragilizaram ainda mais a economia boliviana: a Crise de 1929 e a Guerra do Chaco, em 1935.

 

Desse cenário caótico nasceram três partidos que ajudaram a pavimentar o caminho para a Revolução de 1952: o Partido Operário Revolucionário (POR), fundado em 1935, o Partido da Esquerda Revolucionária (PIR), de 1940, e o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), surgido em 1942. O que ligava esses partidos de diferentes matrizes políticas, embora esquerdistas, era o discurso nacionalista, que atacava a exploração das riquezas do país pelas classes dominantes.

 

Nas eleições para presidente e para os cargos legislativos, ao longo dos anos 1940, esses partidos galgavam cada vez mais eleitores, deslumbrados com a perspectiva de mudanças.

 

 Nesse processo foi fundada a Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros e realizado o

1º Congresso Indígena Boliviano, eventos que centralizaram as demandas das duas classes que sentiam mais fundo as contradições sociais do país.

 

 

 

 


Nas ruas de La Paz, milicianos da Revolução Boliviana de 1952 após a vitória contra o "exército oligarca" (Foto: Diário La Razón/Reprodução)

Em 1951, finalmente, os três partidos (MNR, PIR e POR) se uniram em torno da candidatura de Víctor Paz Estenssoro, que venceu as eleições para presidente. Entre a eleição e a posse, todavia, pairava o rumor de um possível golpe preventivo, que garantisse às elites econômicas a permanência no controle político do país — principalmente porque o presidente em exercício, Mamerto Urriolagoitia Harriague, havia renunciado pouco antes da divulgação do resultado, entregando o poder a uma junta militar favorável a “la Rosca”.

O golpe preventivo, que era um rumor, acabou acontecendo, mas pelas mãos dos vencedores. O MNR organizou uma insurreição armada com operários e camponeses, armados com as dinamites das minas de estanho e com metralhadoras que vinham dos arsenais de muitos quartéis que aderiram ao golpe. Depois de alguns dias de conflito, a revolução se estabeleceu no poder em 1952.

Logo nos primeiros anos, as mudanças foram profundas: estabeleceu-se o sufrágio universal, nacionalizaram-se as minas de estanho e promoveu-se uma ampla reforma agrária, que deu aos camponeses indígenas a posse de suas terras. Esse processo seria interrompido por outro golpe, em 1964.

Literatura  - Conto: “El Indio Paulino” (1969) - Autor: Ricardo Ocampo (1928- ), Bolívia

 

Capa do livro "Narradores Bolivianos" (1969), de Mariano Baptista Gumucio (org.)


A saltos por la pampa desolada, en medio una nube de polvo, sobre un camino casi imaginario, avanzaba el camión hacia la ciudad [...] apartado entre otros indios, sin hablar con nadie y haciendo esfuerzos por mantener el equilibrio, venía Paulino. […]

Assim começa um dos contos mais importantes da literatura boliviana, uma das menos conhecidas do continente. “El Indio Paulino” é um testemunho irônico e compassivo, que fala da distância que separa as populações indígenas bolivianas dos políticos que falam em seu nome nas cidades grandes.

No conto, os índios são levados de sua casa para desfilar em defesa da reforma agrária em La Paz, pois a Revolução de 1952 fracassara. Paulino, por exemplo, lutava havia tempos por um pedaço de papel que lhe garantisse a posse da terra onde trabalhou por toda a vida. Com os outros índios, ele marchava carregando cartazes cujos dizeres ignorava. Ouvia discursos e promessas que eram quase abstrações, que ele pouco compreendia.

No fim do desfile, a multidão se dispersa, e Paulino volta para casa, onde sua mulher aguarda uma boa notícia: se ele havia, enfim, conseguido a posse legal da terra. A resposta, curta e grossa — “no todavía” (“ainda não”) —, encerra a história.

O conto “El Indio Paulino” incorpora as expectativas e frustrações de uma época específica, em que a revolução social parecia ser a solução ideal para encurtar as distâncias.

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Fonte: http://www.memorialdademocracia.com.br/card/america-latina/3c
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Módulo_V  - Módulo Destaque Cultural  - Topo


Biografia Wilson das Neves  14/6/1936 Rio de Janeiro, RJ   27/8/2017 Rio de Janeiro, RJ - Instrumentista. Compositor. Cantor. Baterista.   Estudou música com Joaquim Naegle e, mais tarde, com Darci Barbosa. Conhecido pelo bordão "ô sorte", com o qual é saudado e reconhecido no meio artístico, mas segundo o próprio Wilson a criação deste bordão foi do cantor e compositor Roberto Ribeiro, que assim costumava cumprimentar o amigo baterista nas rodas de samba na Escola de Samba Império Serrano. Em 2006 participou como ator do filme "Noel, Poeta da Vila", de Ricardo Van Steen. Logo depois participóu como ator do filme "O Filho do Futebol", no qual contracenou com Jece Valadão e do curta-metragem "Alfavela", dos diretores Dado Amaral e Paola Vieira. Em 2010 o cineasta mineiro Cristiano Abud deu início as filmagens do documentário "O Samba é Meu Dom", sobre a vida e obra do baterista, cantor e compositor. Em 2016 foi lançado o livro “Ô Sorte! Memórias de um imperador: uma breve biografia de Wilson das Neves”, do professor de História curitibano Guilherme de Vasconcellos Almeida e o documentário “O samba é meu dom”, do mineiro Alexandre Segundo Castro de Souza. Em 2017 foi internado em um hospital na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, onde faleceu aos 81 anos de idade, vítima de um câncer contra o qual havia lutando. Deixou dois discos inacabados com os títulos de “Favela” e “Senzala”, em um deles incluiria a faixa “Senzala e favela”, de sua autoria com Paulo César Pinheiro, para a qual convidou Chico Buarque para participar. Seu desejo era de que a cantora Áurea Martins gravasse as vozes, segundo afirmou o produtor Kassin. Dentre as 16 parcerias com Paulo César Pinheiro, também estaria “Chefia”, em homenagem a Chico Buarque, e outras parcerias com Martinho da Vila e Moyseis Marques. No início de todos os shows da turnê “Caravanas”, Chico Buarque, prestou uma homenagem ao amigo Wilson das Neves dedicando o show ao parceiro de longa data. Em 2018 foi a estreia do longa-metragem “O samba é meu dom – Wilson das Neves”, que coproduziu ao lado de Cristiano Abud. A estreia póstuma teve duas sessões simultâneas na 20ª edição do “Festival do Rio”, no Rio de Janeiro. O documentário apresentou depoimentos de amigos e parceiros, como Chico Buarque, que o considerava como seu “irmão mais velho”.

 

Biografia    Ariano Vilar Suassuna  16/6/1927 João Pessoa, PB  23/07/2014 Recife, PE  - Pesquisador. Escritor. Folclorista. Teatrólogo. Fez o curso primário e o secundário na cidade de Taperoá, na Paraíba. Em 1950, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. É membro da Academia Brasileira de Letras, sendo considerado um dos luminares do teatro e da cultura do Nordeste do país. Em 2007, assumiu a Secretaria de Cultura de Pernambuco a convite do governador eleito Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes.

 

Biografia   Ivan Guimarães Lins  16/6/1945 Rio de Janeiro, R  Compositor. Cantor. Instrumentista (pianista). Autodidata, aos 18 anos de idade começou a tocar bossa nova e jazz ao piano. Em 1969, graduou-se em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Biografia  Maria Bethânia Vianna Telles Veloso  18/6/1946 Santo Amaro da Purificação, BA  Cantora.  Filha de José Telles Veloso, funcionário público do Departamento de Correios e Telégrafos, e de Claudionor Vianna Telles Veloso, mais conhecida como dona Canô. Irmã de Caetano Veloso, que sugeriu seu nome aos pais devido a uma valsa do compositor pernambucano Capiba. Aos 13 anos de idade, mudou-se, com a família, de Santo Amaro para Salvador

 

Biografia  Paulo Benjamin de Oliveira - Paulo da Portela -   18/6/1901 Rio de Janeiro, RJ  30/1/1949 Rio de Janeiro  - Compositor. Cantor. Filho de Joana Baptista da Conceição e Mário Benjamin de Oliveira, passou a infância no bairro da Saúde e Estácio de Sá, criado pela mãe junto com um irmão mais velho e uma irmã mais nova. O pai sempre foi figura ausente. Começou a trabalhar bem cedo em uma pensão para ajudar a mãe. Também entregava marmitas em domicílio. Mais tarde, passou a trabalhar como lustrador de móveis. Em 1920 a família mudou-se para Osvaldo Cruz, indo morar numa casinha de vila que hoje corresponde ao 338 da Estrada da Portela. Nessa época, iniciou suas atividades carnavalescas, no Bloco Moreninhas de Bangu. Em junho de 1939 casou-se com Maria Elisa dos Santos.     Faleceu em 1949 em consequência de um ataque cardíaco, na mesma cidade, no dia 30 janeiro de 1949.

Módulo VI - Relação completa dos aniversariantes da semana.  Topo



12

13

14

 Alfredo Del-Penho (39 anos)
 Aluísio Dias (29 anos)
 Carlito Gepe (63 anos)
 Carrapicho Rangel (39 anos)
 Domingos Fonseca (107 anos)
 Ednir (56 anos)
 Fernando Brant (5 anos)
 Gabriel Gava (29 anos)
 Gaudio Viotti (48 anos)
 Gessy Soares de Lima (77 anos)
 Grazzi Brasil (33 anos)
 Gustavo Carvalho (56 anos)
 Isaar (44 anos)
 Itamar Assumpção (17 anos)
 Ivan Cardoso (75 anos)
 Jayme Marques (84 anos)
 José Messias (5 anos)
 João Carlos Müller (80 anos)
 Luís Perrone (135 anos)
 Pereira Matos (54 anos)
 Ricardo Giesta (61 anos)
 Roberto Nascimento (80 anos)
 Sá Róris (45 anos)
 Valdemar Silva (30 anos)
 Xandy (41 anos)
 Zila Siquet (50 anos)

 Alípio Martins (76 anos)
 Antônio Lago (133 anos)
 Chico Elion (7 anos)
 Cristina Amaral (58 anos)
 Fernando de Lima (61 anos)
 João Felício dos Santos (31 anos)
 Marcelo Frommer (19 anos)
 Marlene (6 anos)
 Mazzaropi (39 anos)
 Mestre Zé Paulo (15 anos)
 Rita Benneditto (54 anos)
 Rubens Soares (22 anos)
 Tião Neto (19 anos)
 Tonheca Dantas (149 anos)
 Tunico da Vila (47 anos)
 Áurea Martins (80 anos)

 Alexandre Araújo (59 anos)
 Alfredo Oliveira (85 anos)
 Amado Maita (15 anos)
 Cláudio Fontana (75 anos)
 César Cuíca (67 anos)
 Dudu Falcão (59 anos)
 Fernando César (28 anos)
 Fernando Moura (61 anos)
 Fred Martins (50 anos)
 Isidoro Castro (162 anos)
 Jamelão (12 anos)
 Jorge Faraj (57 anos)
 Linda Batista (101 anos)
 Norma Sueli (15 anos)
 Paloma Espínola (41 anos)
 Thiago Brava (34 anos)
 Wilson das Neves (84 anos)

 

 

 

15

16

17

 Aldacir Louro (24 anos)
 Artur Cardoso (56 anos)
 Ary Sperling (63 anos)
 Avendano Junior (8 anos)
 Bianca Bellini (85 anos)
 Chiara Civello (45 anos)
 Cristina Cascardo (52 anos)
 Fernando Duarte (43 anos)
 Gustavo Galo (35 anos)
 Luciana Requião
 Nelson Angelo (71 anos)
 Nelson Wellington (68 anos)
 Nílton Barros (74 anos)
 Severo (70 anos)
 Tute (63 anos) 

 Aline Anandi (58 anos)
 Antonio Perna Fróes (76 anos)
 Ariano Suassuna (93 anos)
 Ary Sanches (76 anos)
 Caninha (59 anos)
 Carlos Zens (55 anos)
 Celso Bastos (54 anos)
 Champignon (42 anos)
 Dante Milano (121 anos)
 Davi Moraes (47 anos)
 Elza Laranjeira (95 anos)
 Emerson Arsy (48 anos)
 Felipe Radicetti (62 anos)
 Guda Monteiro (52 anos)
 Hekel Tavares (124 anos)
 Ivan Lins (75 anos)
 João Bani (58 anos)
 Juca Filho (64 anos)
 Jéssica Ellen (28 anos)
 Kiko Loureiro (48 anos)
 Lamartine Babo (57 anos)
 Lauro Miranda (103 anos)
 Nilo Sérgio (99 anos)
 Roberto Livi (76 anos)
 Samir Farias (45 anos)
 Sandro Félix (41 anos)
 Sergio Barrozo (78 anos)
 Sonia Ferreira (73 anos)
 Sérgio Carapreta (2 anos)
 Ângelo Antônio (81 anos)

 Ana Martins (48 anos)
 Antônio Henrique Albertazzi (132 anos)
 Arthur Verocai (75 anos)
 Cainã Cavalcante (30 anos)
 Cirilo Reis (71 anos)
 Durval Ferreira (13 anos)
 Eliana Macedo (30 anos)
 Gilda Lopes (83 anos)
 Itamar Collaço (62 anos)
 Jorge Neguinho (70 anos)
 João Carlos Carino (60 anos)
 Louro (64 anos)
 Manezinho da Flauta (30 anos)
 Manoel Reis (41 anos)
 Maurílio Ribeiro (57 anos)
 Paula Santoro (54 anos)
 Rodrigo Mattos (38 anos)
 Stelinha Egg (29 anos)

 

18

 

 Alan James (36 anos)  André Vitor Correia (132 anos)  Antônio Luís de Moura (131 anos)  Benedito José de Azevedo (51 anos)  Cacá Colon (43 anos)  Carlos Randall (68 anos)  Celly Campello (78 anos)  Dante Santoro (116 anos)  David Jerome (57 anos)  Denise Emmer (62 anos)  Dircinha Batista (21 anos)  Genival Macedo (12 anos)  Júnior Randall (33 anos)  Maria Bethânia (74 anos)  Mário Maranhão (70 anos)  Oswaldo Nunes (29 anos)  Paulo da Portela (119 anos)  Raquel Valença (76 anos)  Reppolho (64 anos)  Sergio Ricardo (88 anos)  Tim Bernardes (29 anos)

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Módulo VII

Após quase 80 dias de quarentena, biólogo encontra espécies raras em mergulho na Baía de Guanabara

Segundo o documentarista Ricardo Gomes, animais arredios voltaram a aparecer devido à redução das atividades humanas em seu habitat

Ana Lucia Azevedo - 14/06/2020 - 04:30

Parú nadando na Baía de Guanabara Foto: Instituto Mar Urbano

RIO — O coronavírus espalha a escuridão do sofrimento, mas cor e luz resistem e brilham no Rio de Janeiro onde menos se espera. No primeiro mergulho após quase 80 dias de quarentena, o documentarista e biólogo Ricardo Gomes encontrou no fundo da Baía de Guanabara uma riqueza de vida marinha tão grande que o surpreendeu, mesmo com mais de três décadas de experiência no local.


Ele registrou o amarelo das esponjas, o rosa do peixe falso-voador, o laranja das estrelas do mar, o azul de caranguejos e o negro com detalhes iridescentes do peixe-anjo. Há um mundo de cores além das do arco-íris no fundo da Guanabara.

— Fiquei tão maravilhado com o que vi que usei até a última respirada do tanque de oxigênio. Não queria sair da água. A água nem estava tão limpa, mas a Baía surpreende. Flagrei peixes que nunca havia visto lá, como o budião-batata, que tem registros para o local, mas é muito difícil de fotografar por ser extremamente arisco — afirma Gomes, que é diretor do Instituto Mar Urbano, dedicado à preservação dos ecossistemas marinhos costeiros.

O desfile de vida e cor na frente da câmera de Gomes tem a ver com a biodiversidade da Baía, que embora rica é ignorada por muita gente — só de peixes são 202 espécies. E também recebeu o impulso do distanciamento social.

A redução da caça submarina e de outras atividades marítimas, devido aos quase 80 dias de quarentena, deixou os peixes e outros animais do mar menos arredios do que o normal, segundo Gomes.

Documentando as águas da Baía de Guanabara desde os anos 80 do século passado, ele não acredita que a poluição tenha diminuído — a água está da cor usual, garante:

— Há menos gente e isso parece ter deixado os animais mais à vontade.

Mesmo o fenômeno que deixou transparentes as águas normalmente turvas da Enseada de Botafogo em abril e voltou a se repetir em maio não está relacionado a uma suposta redução da poluição devido ao distanciamento social. A principal fonte de poluição da Baía é o esgoto doméstico, que não foi reduzido.

O que deixou as águas transparentes foi a conjunção de duas grandes ressacas vindas do quadrante sul, com ondas de mais de três metros de altura, ventos que empurraram a água limpa do oceano para dentro da Baía e uma maré de lua cheia maior do que o normal.

— Isso vez por outra acontece. E nem é tão raro assim. Apenas as pessoas prestaram mais atenção às imagens porque estavam confinadas. Ocorreu, por exemplo, na ressaca de 2016, a mesma que derrubou a ciclovia da Niemeyer — explica.

Biólogo mostra raridades da Baía de Guanabara após quase 80 dias de quarentena


Estrela do mar conhecida como Othilia surpreende biólogo Ricardo Gomes durante mergulho na Baía de Guanabara

 Foto: Instituto Mar Urbano

Biólogo também registrou a presença de raia viola de focinho curto

Autor dos documentários "Mar urbano" e "Baía urbana", Gomes estava sem mergulhar desde 24 de março, quando a quarentena no Rio foi iniciada. Voltou na noite da última quarta-feira, na Praia Vermelha, quando os esportes aquáticos individuais foram permitidos.

Alheios ao coronavírus e às angústias humanas na terra firme, os habitantes do fundo do mar da Baía de Guanabara continuam a mostrar que ela não só está viva como precisa de ajuda para continuar a respirar. A Baía renova cerca de 50% de sua água, em média, a cada 12 dias, mas isso não é suficiente para fazer frente à poluição de esgoto doméstico e industrial e de lixo.

Apesar de todos os problemas, a Baía encanta e oferece alívio para a dureza do dia a dia. Gomes flagrou um casal de peixes-borboleta, que se fosse humano seria exemplo do ideal de amor romântico. Pois, uma vez juntos, macho e fêmea ficam unidos até que a morte os separe.

Um baiacu-de-espinhos, espécie que normalmente se afasta assim que pressente a aproximação de um mergulhador, se deixou fotografar, literalmente, fazendo a cama para dormir. Todas as noites, ele cava o local onde dorme na areia do fundo e não saiu de lá quando Gomes o filmou e fotografou.

O caranguejo-aranha, uma criatura de pernas finas e jeito assustado que corre para sua toca ao primeiro sinal de gente, nem deu atenção a Gomes e continuou a buscar alimento tranquilo. O paru ou peixe-anjo-francês tampouco ligou e mostrou porque é um dos animais mais lindos do Rio.

— Penso que o coronavírus nos ensinou o quanto a vida é frágil. Deveríamos levar essa lição para nossa relação com o meio ambiente e proteger o tesouro que temos na Guanabara, nossa casa — afirma ele.

Biólogo Ricardo Gomes, na Praia da Urca, em registro de setembro de 2017 Foto: Custódio Coimbra /

Agência O Globo

À noite, todos os peixes não são pardos

É à noite que as cores da vida das águas da Baía de Guanabara se revelam com maior intensidade. Ricardo Gomes prefere mergulhar à noite porque é possível controlar melhor a luz e, com isso, captar a cor verdadeira dos animais. Na Baía, ele usa um canhão de luz de LED que penetra na escuridão e expõe detalhes de moluscos, crustáceos e estrelas-do-mar.

— De dia, as variações da luz do sol que penetra na água interferem e distorcem o colorido dos bichos — explica ele.

Além disso, o comportamento dos animais também muda. Enquanto alguns saem de seus esconderijos para caçar, e, assim, podem ser vistos; outros ficam mais parados e se deixam fotografar com mais facilidade

Fonte:

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Módulo VII_I

TIRE SEU RACISMO DO CAMINHO

Não bastassem acontecimentos negativos nessa última semana – um acúmulo de aflições que parece não ter fim, onde se enfileiram graves preocupações como:
1- A crise institucional, impulsionada pelas interpretações do art. 142 da Constituição de 88, e agravada há dias pela provocação de um ataque de fogos de artifícios disparados acima do prédio do Supremo Tribunal em Brasília – perfeita ideia de jerico só cabível em cabeças debilóides – e,
2- O recrudescimento da pandemia, tanto pela não testagem em todos os brasileiros (aliás, o que havia sido prometido há 3 meses), quanto pela temeridade de se abrir o confinamento sem uma gestão rigorosa para cumprir protocolos obedecidos pelos países que estão se livrando da pandemia. E que impusesse aos infratores pesadas multas e até prisões (aí, sim, seria a hora conveniente de exemplos radicais das autoridades, tanto para a população, quanto para prefeitos e governadores temerários (afinal, vidas humanas não podem ser trocadas por lucros de um shopping, ou por dízimos de uma atividade religiosa, ou até pela possível liberdade de confraternizar em calçadões, ou em transportes lotados, ou em areias das praias.
Pelo andar da carruagem a pandemia não cessará antes da chegada de 2021. Quem viver, verá.
Tão graves quanto as duas aflições acima perfiladas me parecem, entre tantas outras, ao menos duas desditas que se cristalizaram nesses tempos de horror. A primeira, o preconceito racial que fez o mundo inteiro gemer e protestar por conta do assassinato de George Floyd em Minneapolis. E que também se funde, ao meu ver, com a tragédia que parece agora desabar sobre os povos indígenas da Amazônia. Até por que eu também acho que o desprezo das autoridades aos milenares habitantes dessas terras são vítimas também de forte preconceito racial, além do cultural – social.
Certa vez, Darcy Ribeiro me levou a conhecer o Marechal Rondon. E desse raro herói brasileiro tive o privilégio de ouvir uma recomendação que me marcou até hoje – “Olhe, meu filho, a responsabilidade que vocês jovens têm é muito séria, lutar contra o preconceito que existe contra os nossos índios, chamados até de bípedes exóticos, ou de um peso morto para o país. Há algo que ateste mais o que se entende por preconceito?”.
O fato é que as notícias que nos chegam agora da Amazônia nos dão conta de que a pandemia se alastra pela maioria das tribos mais expostas.
O povo yanomami, em áreas próximas ao garimpo ilegal nesta região, é projeção que se anuncia muito preocupante, ou seja, 40% dos indígenas dessas áreas próximas à ilegalidade podem contrair Covid-19. Segundo estudiosos, a presença de 20 mil garimpeiros no território é uma das causas principais da tragédia anunciada, já agora com revisão da Fundação Oswaldo Cruz. Os pesquisadores alertam que, se nada for feito, 40, 50 % dos yanomamis atendidos nos 14 polos bases em região do garimpo, serão infectados. Se a letalidade, como eles advertem, for de duas vezes maior do que a da população não indígena, poderá chegar até o trágico número de quase mil óbitos. Até há poucos dias, os dados mostravam que 60 indígenas tinham sido infectados. Segundo indigenistas que lá trabalham por décadas, seria este o considerado maior genocídio contra os yanomamis. Ainda segundo os mesmos técnicos, não adiantam mais equipes de saúde. A solução mais eficaz seria a retirada imediata dos garimpeiros ilegais, a partir de Roraima.
Pelo visto, em nada sendo feito, o povo indígena morrerá por falta de respiração, tal como Floyd. E, por certo, pela ausência de cuidados hospitalares em plena selva. Só que os algozes dos índios não seriam policiais brancos, mas garimpeiros ilegais que lhes injetaram os vírus fatais pela convivência indesejada, sufocando-lhes a respiração pelo vírus letal.
Aliás, sobre o horror do racismo o cineasta e escritor Cacá Diegues publicou há dias crônica onde assevera que no Brasil o racismo se instalou desde que Cabral aportou a nossas praias. Ele foi da violência selvagem da escravidão secular até ao tratamento preconceituoso aos indígenas (observação minha, de que talvez Cacá possa compartilhar).
Ele ainda acrescenta que no Brasil valia a previsão histórica de Joaquim Nabuco: mesmo proclamada a Lei Aurea em 1888, ainda permaneceria a escravidão como característica do nosso comportamento. Uma cultura que para ser eliminada não seria suficiente nosso mito de doçura e delicadeza.
É claro, conclui Cacá, que o crime de Minneapolis nos leva a uma total solidariedade com sua vítima. Mas naquela semana de sua morte, a polícia carioca havia liquidado vários cidadãos negros, inclusive crianças, apenas por estarem onde não deveriam. A vítima mais recente fora o menino Pedro, de 14 anos, morto com quatro tiros dados pelas costas.
Pelas costas, como em geral acertamos nosso racismo bem peculiar. Que pode equiparar negros, por que não?, a índios. Desapiedadamente.
Aos racistas e preconceituosos cabe dirigir a frase clássica da escritora francesa Madame de Staël – O remorso pelo malfeito é a única dor da alma que nem a reflexão nem o tempo atenuam.
Este cronista apõe aqui sua assinatura simbólica ao movimento “Enquanto houver racismo não haverá democracia”, que fez publicar há dias manifesto nos jornais brasileiros.
Ricardo Cravo Albin

Fonte: Ricardo Cravo Albin

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Módulo VII_II

O governo Bolsonaro quer ampliar suspensão de contrato e corte de jornada para até quatro meses - Governo quer suspensão por mais tempo

© Palácio do Planalto / Isac Nóbrega - Notícias ao Minuto Brasil - 16/06/20 05:11 Há 8 Horas

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo Jair Bolsonaro prepara um decreto para ampliar o prazo de suspensão de contrato e redução de salário e jornada de trabalhadores, medida adotada para tentar conter demissões durante a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus.

A proposta do Ministério da Economia prevê que o prazo máximo para a suspensão integral de contratos seja ampliado dos atuais dois meses para quatro meses. Já a redução proporcional de salário e jornada passaria de três meses para até quatro meses.O decreto depende da aprovação da MP (medida provisória) 936 pelo Congresso e da sanção do presidente Jair Bolsonaro.

Foram os parlamentarem que incluíram na MP a possibilidade de prorrogação do dispositivo por decreto enquanto durar o estado de calamidade pública, que se encerra em 31 de dezembro.

Pela proposta da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, é possível combinar períodos de suspensão do contrato com redução de jornada, mas ainda está em discussão o prazo máximo que o trabalhador poderá ser submetido a essas medidas.

Hoje, o teto é de 90 dias -o empregador pode, por exemplo, suspender o contrato por 60 dias e, em seguida, reduzir a jornada por mais 30 dias.

O governo espera aprovar a MP no Senado nesta semana sem alterações para que o texto siga para sanção.

A votação está prevista para esta terça-feira (16).

A MP que permite a redução de jornada e salário e a suspensão de contratos foi editada no dia 1º de abril com o objetivo de evitar demissões durante a pandemia.

Até o momento, quase 11 milhões de trabalhadores já foram afetados pela medida.

Além disso, estima-se que 1 milhão de empregados que tiveram o contrato suspenso estão voltando ao trabalho em setores que ainda não puderam reabrir, como bares e restaurantes.

Membros do ministério afirmam que a eficácia do programa seguirá sob avaliação, sendo possível a adoção de novas ampliações de prazo no futuro.

Para isso, bastará a edição de novo decreto estabelecendo a prorrogação.

Pelas contas da equipe econômica, a medida deveria alcançar 24,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada, mais de 70% de todos os empregados formais do país.

Após dois meses e meio de vigência do programa, as adesões estão bem abaixo do estimado.

O custo total do programa aos cofres públicos é projetado em R$ 51,2 bilhões.

Por acordo individual, o empregador pode fazer cortes de jornadas e salários em 25%, 50% ou 70%, a depender da faixa de renda do trabalhador.

Nos acordos coletivos, é permitida redução em qualquer percentual.

Trabalhadores afetados pela medida têm direito a uma estabilidade provisória no emprego pelo período equivalente ao da redução do corte de salarial.

Se a empresa decidir demiti-lo sem cumprir a carência, precisa pagar uma indenização maior.

O governo paga aos trabalhadores com redução de jornada e salário uma proporção do valor do seguro-desemprego.

A compensação é de 25%, 50% ou 70% do seguro-desemprego, que varia de R$ 1.045 a R$ 1.813,03.

No caso da suspensão de contrato, o empregado recebe valor integral do seguro-desemprego.

O governo e senadores estão sendo pressionados por empresários e até mesmo por centrais sindicais para que seja aprovada a nova versão da MP, permitindo uma suspensão de contratos por prazo estendido e ampliação do período de corte de jornada e de salário.

Na semana passada, mesmo líderes da oposição se manifestaram a favor da proposta.

"É reivindicação das centrais sindicais de que isso seja votado imediatamente, dado esse hiato de que já falaram aí os companheiros, em relação aos contratos e a essas questões levantadas na medida provisória", disse o senador Paulo Rocha (PT-PA).

Empresários de setores bastante afetados pela pandemia, como turismo e restaurantes, reclamam que os trabalhadores estão voltando aos seus postos, mas, por medidas de combate à Covid-19, os negócios não estão em pleno funcionamento.

Senadores chegaram a cogitar um mecanismo para que a prorrogação dos acordos de suspensão de contratos fosse retroativa, para aliviar o caixa dos patrões, mas o governo descartou essa possibilidade.

A intenção da equipe econômica e de aliados do presidente Jair Bolsonaro é acelerar a análise da MP.

Por isso, o relator da proposta, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), passou a defender que o texto não seja modificado no plenário da Casa.

Em caso de alteração, o projeto teria que voltar para a Câmara. Isso atrasaria os planos do governo de prorrogar a medida de suspensão de contratos e corte de jornada e de salários.

Para o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, embora a medida não seja o que entidades sindicais buscavam, ela precisa ser votada como garantia da manutenção de empregos.

"Não é o melhor texto, mas dentro do cenário é o que conseguimos. Antes a medida como está ser votada do que ela se perder e ter de voltar para a Câmara", disse

Fonte:  Folhapress

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Módulo VII_III 

1 - Prisão de Queiroz é parte de investigação sobre "rachadinha" na Assembléia do RJ

Fonte Gaúchazh:

2 - Herói sem carater - 

Este é Sergio Moro.  

Por: Lacildo B. Mattos 

Fonte: https://www.dimasroque.com.br/2019/07/ta-na-internet-heroi-sem-nenhum-carater.html

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Urgente

BP anuncia corte de 10 mil postos de trabalho

08 Junho Escrito por  Tsvetana Paraskova

 

A grande petroleira britânica BP cortará 10.000 empregos, ou cerca de 15% de sua força de trabalho, em resposta à queda do preço do petróleo resultante da pandemia de coronavírus, disse o executivo-chefe Bernard Looney na segunda-feira.

 

A BP diz pretende se reinventar como empresa de energia até 2050, mas antes a petroleira sediada no Reino Unido está recorrendo a cortes de empregos - a maioria dos quais em posições administrativas, a fim de reduzir seus custos com a desaceleração que afetou severamente suas finanças.

 

Em março, depois que os preços do petróleo caíram com a queda da demanda e a guerra dos preços do petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia, a BP disse que não tomaria nenhuma ação sobre empregos por três meses.

 

“Introduzimos um congelamento nas demissões por três meses em março para aliviar algumas das preocupações imediatas das pessoas. Essa moratória termina hoje. Agora iniciaremos um processo que verá cerca de 10.000 pessoas saindo da BP - a maioria até o final deste ano. A maior parte deles, empregados administrativos. Estamos protegendo a linha de frente da empresa e, como sempre, priorizando operações seguras e confiáveis ”, afirmou Looney.

 

No futuro, a BP reinventada verá os níveis executivos mais altos sofrerem os maiores impactos.

 

A queda do preço do petróleo significa que a BP atualmente gasta muito mais do que ganha, disse Looney.

 

Além de cortar empregos, a BP também terá como objetivo reduzir seu gasto de capital em 25%, ou cerca de US $ 3 bilhões, este ano, e reduzir os custos operacionais, incluindo custos com pessoal, em US $ 2,5 bilhões em 2021, e “provavelmente teremos que ir ainda mais longe ”, disse Looney.

 

Original: https://oilprice.com/Latest-Energy-News/World-News/Oil-Crash-Forces-BP-To-Slash-10000-Jobs.html

Urgente 2

Sociedade e Cultura

Existe uma esquerda religiosa?

 Por que o ativismo progressista enraizado na fé é, muitas vezes, mal interpretado

Por Casey Cep -  14/06/2020 17:00

 

                                          

Créditos da foto: Em junho de 2015, Bree Newsome, artista e filha de um pastor batista, removeu a bandeira confederada em frente à Casa do Estado da Carolina do Sul (Adam Anderson/Reuters)

A Informação não  é mercadoria, é um bem público.

 "Por Jesus, esta bandeira tem que descer."

Assim começa um dos sermões mais consequentes do século XXI. Bree Newsome, uma artista de trinta anos da Carolina do Norte, estava a mais de uma dezena de metros acima do solo, escalando um mastro de bandeira em frente à sede do governo do estado da Carolina do Sul. Os policiais gritavam com ela, exigindo que ela descesse, mas ela continuou subindo e continuou pregando:

“Vocês vêm contra mim com ódio, opressão e violência. Eu venho contra vocês em nome de Deus. Esta bandeira desce hoje”.


Newsome pensava naquela bandeira confederada há algum tempo. Seus ancestrais haviam sido escravizados na Carolina do Sul e ela ouvira histórias de sua avó, sobre a violência perpetrada pela Ku Klux Klan em Greenville.

Então, em 17 de junho de 2015, um supremacista branco matou nove paroquianos negros durante um estudo bíblico em uma igreja em Charleston, e Newsome decidiu que era hora daquela bandeira descer. Dez dias depois, depois de se encontrar com outros ativistas - incluindo um que escalara árvores para o Greenpeace - e treinar em alguns postes de iluminação, ela escalou o poste de dez metros em frente a sede do governo, recitando a Oração do Senhor e o Vigésimo Sétimo Salmo, enquanto subia cada vez mais alto, removeu a bandeira e devolveu-a ao chão, onde uma multidão aplaudiu e a polícia a prendeu. Newsome passou cerca de sete horas na prisão; a bandeira confederada foi restaurada antes mesmo de ela ser libertada. Mas, na segunda semana de julho, depois que milhões de americanos viram fotos ou filmagens de sua escalada, a legislatura estadual votou por remover permanentemente a bandeira da capital e, nos anos seguintes, muitos outros memoriais e estátuas confederados foram retirados pelo país.

Filha de um pregador batista, que já foi reitor da Howard University School of Divinity, Newsome agiu, honestamente, por sua fé e por sua pregação, ainda que quase toda a publicidade que se seguiu a seu ato de desobediência civil tenha retirado teor teológico de seu protesto. Esse é o destino de grande parte do ativismo da chamada esquerda religiosa: se for bem-sucedido, será subsumido por causas e coalizões mais amplas; se falhar, será esquecido. Apesar de todo o opróbrio dirigido à direita religiosa, o ativismo da esquerda religiosa sofre um destino diferente, alternadamente ignorado e fetichizado, apresentado a cada ciclo eleitoral com um tom condizente com a Segunda Vinda de Cristo: sempre prestes a acontecer. A corrida presidencial deste ano é a ocasião mais óbvia para o novo livro “American Prophets: The Religious Roots of Progressive Politics and the Ongoing Fight for the Soul of the Country” ["Profetas Americanos: As Raízes Religiosas da Política Progressista e a Luta Contínua pela Alma do País"], do repórter Jack Jenkins.

"American Prophets" começa onde o próprio Jenkins começou como repórter de religião: no outono de 2011, no protesto Occupy Wall Street [O.W.S.] na Dewey Square de Boston, uma ramificação do encontro no parque Zuccotti de Nova York. Jenkins trabalhava como freelancer no Religion News Service [R.N.S.], uma espécie de Associated Press voltada para a fé, e sua primeira tarefa foi cobrir os aspectos espirituais da O.W.S. Quando Jenkins chegou à Dewey Square, ele ouviu manifestantes cantando hinos e seguiu suas vozes até a tenda do espaço sagrado. Esse espaço representava o papel, argumenta ele, que a religião desempenhava no movimento: desde o início, havia cultos de oração inter-religiosos, capelães de protestos e suprimentos doados por grupos religiosos locais.

Nos anos seguintes, Jenkins perseguiu histórias como essa para a R.N.S., bem como para o ThinkProgress, agora extinto sucessor do Center for American Progress. Seu livro é uma coleção dessas reportagens, não realmente a história ou a sistemática prometida por seu título, mas uma série de retratos de pessoas que ele argumenta que fazem parte da "esquerda religiosa", um termo que, Jenkins reconhece, mesmo algumas das pessoas que ele próprio cita, rejeitariam, apesar de sua definição quase sem definição: "um grupo, amorfo e em constante mutação, de defensores, estrategistas e agentes políticos progressistas e baseados na fé". Como resultado, “American Prophets” é na verdade uma espécie de "Vidas dos Santos" contemporâneos - uma série de perfis de admiráveis ativistas de esquerda cujas políticas são motivadas por sua fé. Se esses retratos constituem ou não um coletivo, não é apenas um problema para Jenkins, como escritor, mas para todos nós, como cidadãos.

É difícil dizer o que veio primeiro, a esquerda religiosa ou a direita religiosa. No século XIX, a causa abolicionista foi defendida pelos cristãos - embora muitos outros, voltando ao apóstolo Paulo, tivessem defendido a escravidão por motivos teológicos, e continuassem a fazê-lo mesmo após a emancipação. Alguns historiadores identificam o movimento do Evangelho Social, do início do século XX, como a verdadeira origem da política religiosa de esquerda, uma vez que ela aplicou a ética cristã a uma série de questões, e não apenas a uma. Os evangelistas desse movimento exigiam soluções estruturais para pobreza, dependência de drogas, trabalho infantil, crime e outras injustiças. A organização que eles fizeram em nome do bem-estar, temperança, reformas trabalhistas e segurança pública provocou uma reação dos conservadores, que se uniram para se opor, primeiro ao New Deal, e depois à evolução, ao comunismo, à contracepção, à pornografia, aos gays e ao aborto. É um prólogo surpreendente para o cenário político contemporâneo, onde a esquerda religiosa parece se mobilizar principalmente em resposta ao trabalho da direita religiosa.

Jenkins atenta a muitas religiões, mas ele começa com uma ativista católica, a irmã Carol Keehan, que, além de ser freira com as Daughters of Charity [Filhas da Caridade], era chefe da Catholic Health Association of the United States [Associação Católica de Saúde dos Estados Unidos]. Nessa função, ela aplicou sua formação em enfermagem e finanças de assistência médica, à administração de cerca de seiscentos hospitais e mil e seiscentas outras unidades de saúde em todo o país e, a partir de 2009, ajudou a redigir e pressionar pela aprovação do Affordable Care Act [uma mudança legal na prestação de cuidados de saúde conhecida também como “Obamacare”]. Ela continuou a lutar pelo projeto, mesmo depois que a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA se opôs, não apenas incitando os legisladores católicos no Congresso, mas escrevendo artigos em jornais sobre como o projeto refletia os princípios católicos e desafiando os bispos que tentaram retratar o projeto como pró-aborto. Seu ativismo foi tão consequente que a irmã Carol recebeu uma das canetas que o presidente Barack Obama usou para assinar a lei do Affordable Care Act.

Tais vitórias legislativas são poucas e distantes entre os “American Prophets”. Mais comum é a experiência do grupo inter-religioso Moral Movement Maine, que protestou contra a senadora Susan Collins em 2017, suplicando-lhe para proteger o mandato individual do A.C.A. [Uma penalidade fiscal para quem não tivesse seguro saúde. O ‘mandato individual’ pretendia, dessa forma, baixar os prêmios para todos] Ignorando os nove clérigos cristãos, judeus, budistas e universalistas unitários, presos por ocuparem seu escritório no Congresso, Collins finalmente votou a favor da lei tributária republicana que matou o mandato individual, alegando que ela havia garantido proteções para a provisão de seguro, apesar de, em última instância, comprometer os cuidados de saúde de oitenta mil habitantes de Maine e milhões de outros morte-americanos.

Os nove clérigos presos foram parte da encarnação de Maine de um movimento ativista iniciado quatro anos antes, na Carolina do Norte, pelo reverendo William Barber II. Barber, um ministro dos Discípulos de Cristo, observara os republicanos, que tendo assumido o controle de ambas as casas do parlamento estadual e da mansão do governador na Carolina do Norte, promulgaram uma agenda conservadora que mudou radicalmente seu estado: cortando benefícios de desemprego, rejeitando a expansão do Medicaid, eliminando créditos fiscais para as pessoas de baixa renda, reduzindo os direitos de voto e cortando os orçamentos ambientais e de educação. Em 29 de abril de 2013, Barber levou várias dezenas de pessoas ao legislativo estadual, que estava em sessão, e interrompeu suas deliberações. "Não temos outra escolha senão reunirmo-nos na casa do povo, onde essas leis são apresentadas, discutidas e votadas", escreveu Barber em uma declaração pública que acompanhou o primeiro protesto da Segunda-feira Moral, "na esperança de que Deus ocupe os corações dos nossos legisladores, como quando ele ocupou o coração do Faraó para deixar seu povo ir.” Dezessete pessoas foram presas naquele dia; até o final da sessão legislativa daquele ano, o número de pessoas presas havia aumentado para cerca de mil e, no ano seguinte, havia grupos da Segunda-feira Moral se reunindo por todo o país.

Barber provavelmente tem o maior número de seguidores do que qualquer outro personagem do “American Prophets". Como Jenkins observa, é raro que membros da esquerda religiosa se tornem figuras nacionais da maneira que muitos cristãos conservadores têm se tornado. Essa diferença é tanto causa como efeito de um movimento centralizado mais fraco, mas também reflete a extensão em que o ativismo na esquerda religiosa às vezes se baseia em questões locais. Veja Chase Iron Eyes e a Dra. Sara Jumping Eagle, um casal que ajudou a liderar os protestos contra o oleoduto Dakota Access. Standing Rock acabaria hospedando mais de dez mil manifestantes de todo o país, mas para Iron Eyes foi onde ele cresceu, terra sagrada que há muito tenta defender. Jumping Eagle foi uma das quatrocentas pessoas presas em Standing Rock e uma das muitas que viram o oleoduto não apenas como uma ameaça ambiental, mas também espiritual.


A preocupação com o meio ambiente é compartilhada por muitas pessoas religiosas através das tradições religiosas, embora seu ambientalismo seja frequentemente apresentado como uma convicção estritamente científica e não como um compromisso teológico. É muito mais comum ouvir referências aos religiosos de esquerda em conversas sobre imigração e pobreza.

Jenkins relata o trabalho do New Sanctuary Movement [Movimento Novo Santuário], destacando clérigos como a reverenda Alison Harrington, cuja igreja presbiteriana em Tucson proporcionou semanas de refúgio a Daniel Neyoy Ruiz, um imigrante mexicano de 36 anos que não tinha antecedentes criminais, mas foi parado por causa um cano de escapamento quebrado e, em seguida, ameaçado de deportação. Mais de mil comunidades religiosas agora estão afiliadas ao movimento, fornecendo segurança contra ataques da imigração, organizando marchas e vigílias para a reforma das leis de imigração e abrigando dezenas de imigrantes todos os anos. Como o santuário é um espaço religioso literal, é mais difícil ignorar a natureza baseada na fé deste trabalho.

Em outro momento no livro “American Prophets”, Jenkins descobre a motivação religiosa do ativismo aparentemente secular - incluindo a Marcha das Mulheres, que organizou milhões de pessoas em todo o mundo para protestar contra a posse do presidente Donald Trump. Jenkins se concentra no trabalho da ativista muçulmana Linda Sarsour, uma das cofundadoras da marcha, que havia liderado a Associação Árabe Americana de Nova York, protestando contra a vigilância discriminatória dos muçulmanos e lutando pelo reconhecimento dos feriados muçulmanos no calendário da escola pública da cidade. Ninguém sabe quantas mulheres foram atraídas para participar naquele dia por sua fé, mas Sarsour foi capaz de mobilizar as redes muçulmanas existentes para enviar inúmeras mulheres para marchas em todo o país, um padrão de ação coletiva apoiado por religiões, visto muitas vezes antes e muitas vezes desde então.

Todas essas são figuras envolventes, e Jenkins, enquanto escritor do dia a dia, é um excelente repórter, montando cenas e conduzindo seus leitores por grandes faixas de diferenças geográficas, raciais, socioeconômicas e religiosas para capturar a história política recente. É fácil admirar o ativismo desses indivíduos, mas é difícil saber como pensá-los coletivamente. Jenkins, apesar de seu título, está oferecendo reportagem, não teologia ou teoria; ainda assim, vale a pena considerar por que muitos dos personagens de “American Prophets” estariam entre os primeiros a insistir que não existe a esquerda religiosa.

À primeira vista, a esquerda religiosa deveria ser mais fácil de organizar do que a direita religiosa. Muitos de seus eleitorados cristãos são menos doutrinários e mais ecumênicos, tornando suas denominações mais propensas a trabalhar juntas; é também mais inter-religiosa, o que significa que sua coalizão deve ser não só mais diversa, mas também maior, já que cristãos e judeus trabalham juntos ao lado de budistas, muçulmanos, sikhs, hindus e de espiritualidades indígenas. Mas isso é mais fácil teorizar do que viver, e essas coalizões podem ser tensas: como Jenkins observa, dois anos após a primeira Marcha das Mulheres, Sarsour e as outras organizadoras originais renunciaram após alegações de antissemitismo por ativistas judias, que alegavam ter sido excluídas do movimento. Além disso, muitos progressistas religiosos têm uma teologia política reticente: ou por um compromisso com o pietismo, que pode ser intrínseco ou por uma reação a ser ofendido pelo testemunho público do direito religioso, ou por um medo Rawlsiano de que a religião possa ameaçar o projeto de uma esfera pública pluralista.

Parte dessa reticência desapareceu na era Trump, não apenas porque os líderes religiosos organizaram suas comunidades para participar de protestos como a Marcha das Mulheres, a Marcha pelas Nossas Vidas e o Black Lives Matter, mas também porque as organizações religiosas foram alvo da proibição muçulmana. e por táticas de policiamento no estilo militar. Este mês, padres e paroquianos de uma igreja episcopal em Washington, DC, juntamente com outros manifestantes, foram atacados com gás lacrimogêneo para abrir espaço para o Presidente Trump posar para fotos enquanto brandia uma Bíblia emprestada. Em Buffalo, Nova York, um ativista pela paz, de 75 anos, chamado Martin Gugino, envolvido no movimento dos Trabalhadores Católicos, foi empurrado ao chão por policiais e depois lá deixado, sangrando na Praça Niagara. Tal ativismo se tornou notável, não porque não estava acontecendo antes, mas porque o presidente fez com que ele se apresentasse como tão explicitamente partidário.

Ainda assim, a maioria dos abrigos religiosos para os sem teto não promovem registros de eleitores, e a maioria dos bancos de alimentos e cozinhas religiosas não organizam, aqueles que se beneficiam de sua ajuda, para apoiar os políticos que financiam adequadamente seus serviços. E, com as denominações religiosas principais diminuindo, o comparecimento a cultos diminuindo e quase metade dos progressistas, com menos de trinta anos, alegando não ter nenhuma afiliação religiosa, é improvável que os dados demográficos da esquerda religiosa alcance, algum dia, o poder eleitoral da direita. Alguns dos esquerdistas religiosos mais verdadeiramente radicais evitam completamente a política eleitoral e se organizam em torno da ação, mas não nas eleições. Embora os progressistas possam muito bem ter seus horários de oração, quase um quarto dos norte-americanos são agnósticos, ateus ou não afiliados a uma religião organizada. Sua falta de afiliação dificulta a organização em torno de causas morais.

American Prophets” não enfrenta adequadamente esses fatos e tendências demográficas. Como muitas reportagens desse tipo, subestima a prevalência e exagera o potencial do ativismo progressista motivado por religiões. Jenkins revela, acidentalmente, sua posição quando afirma que grupos religiosos podem ser "uma das armas mais secretas da esquerda". A medida de eficácia da arma, que eles podem ser, é discutível, mas eles certamente não são secretos. É revelador que, apesar de Jenkins ter sido explicitamente designado a escrever sobre espiritualidade no movimento Occupy Wall Street, ele ficou "estupefato" ao encontrá-lo lá.

Com frequência, esse é o tom de cobertura da esquerda religiosa. Em seu livro “The Party Faithful: How and Why Democrats Are Closing the God Gap” (“O Partido Fiel: Como e Por que os Democratas Estão Fechando o Desnível entre Religiões”), de 2008, a jornalista Amy Sullivan observou as maneiras contraditórias como os progressistas religiosos e os conservadores religiosos são cobertos pela grande imprensa, com a fé dos políticos de direita, geralmente, sendo tomadas pelo valor aparente, enquanto os da esquerda são frequentemente ignorados, tratados com ceticismo ou menosprezados como insinceros e demagogos. Considere a rejeição à invocação de Mateus 25, feita pela senadora Elizabeth Warren, metodista por toda sua vida, como seu lema pessoal durante um dos debates democratas deste ano, ou a maneira como a autenticidade do catolicismo da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, é debatida. Provavelmente, você leu muito mais sobre as tentativas do presidente Trump de atrair os eleitores evangélicos com café da manhã de oração e falar de “2 Coríntios”, do que sobre o rosário que o ex-vice-presidente Joe Biden sempre carrega com ele (era o mesmo que seu filho Beau usava quando morreu) ou a divulgação que ele fez entre católicos e seu apoio ao movimento “Nuns on the Bus” [Freiras no Ônibus], em seus esforços para promover o registro de eleitores. Se você já ouviu falar sobre Biden assistir à missa, é provável que tenha sido apenas porque um padre da Carolina do Sul se recusou a dar comunhão a ele, depois que o candidato expressou sua oposição à Emenda Hyde, que impede o uso de fundos federais para serviços de aborto.

Em nenhum lugar essa discrepância é mais clara do que na maneira como a imprensa política cobre a igreja negra. Apesar de toda a conversa sobre a direita religiosa, um dos blocos de votação mais confiáveis do Partido Democrata também é uma das populações mais religiosas do país: quase noventa por cento dos afro-americanos reivindicam uma afiliação religiosa, e quase o mesmo número coloca a religião como um aspecto altamente importante de suas vidas. O registro de eleitores e a organização política que sempre ocorre nas igrejas negras muitas vezes não são mencionados, embora o programa Souls to the Polls (Almas para as Urnas) tenha sido uma maneira tão eficaz de aumentar a participação dos eleitores que os republicanos tentaram restringir o acesso às votações antecipadas aos domingos.

A esquerda religiosa, em outras palavras, não é "secreta", apenas mal-compreendida. O partido, por exemplo, é uma maneira inadequada de representar a política de uma pessoas. e questões de justiça social podem estar enraizadas na fé, mas não são exclusivas dela; existem esquerdistas pró-vida, assim como ateus antiaborto. Os esquerdistas religiosos não afluirão ao poder nesta eleição presidencial, nem provavelmente em qualquer outra, mas os eleitores religiosos - especialmente os afro-americanos - há muito formam a base do Partido Democrata neste país. O destino deles, como o de Bree Newsome, é muitas vezes fazer com que sua religiosidade não seja mencionada ou desonrada. No caso de Newsome, a imprensa cobriu seu protesto como se fosse um episódio isolado e espontâneo de rebelião, quando na verdade ela foi uma das milhares que marcharam com o reverendo William Barber em suas Segundas-feiras Morais na Carolina do Norte e tinha sido presa uma vez antes, em um de seus protestos de ocupação da sede do governo. O problema não é que ainda não haja uma esquerda religiosa potente; é que a parte "religiosa" é muitas vezes deixada de fora.


*Publicado originalmente em 'The New Yorker' | Tradução de César Locatelli

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Homenagem ou Matéria Especial

"Deviam ser branqueados": como derrota da Alemanha nazista salvou América Latina


A Alemanha de Hitler possuía um plano para todas as regiões do mundo, incluindo a América Latina. Portanto, sua derrota livrou a região de um grande perigo.

 

Os planos expansionistas do Terceiro Reich, com todas as crueldades com eles implicados, tinham objetivos bem definidos na América Latina, considera Vicente Quintero em entrevista à Sputnik Mundo. O analista geopolítico é o autor do livro "O nazismo e o Terceiro Reich na Venezuela durante a Segunda Guerra Mundial", que será em breve publicado.

 

A Câmara realiza sessão em homenagem aos 70 anos do encerramento da participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial

 

Quintero salientou que a Alemanha, "já muito antes da Segunda Guerra Mundial", tinha planos para se expandir na América Latina, mostrando um especial interesse por "todo o território da bacia norte da América do Sul".

 

Particularmente, o analista indicou que era apreciada "a importância geopolítica que a Venezuela possui por sua localização geográfica, pela amplitude da costa que possui no mar do Caribe", com ilhas estratégicas, assim como por seus riquíssimos recursos naturais, sobretudo seu petróleo, do qual, na época, "era a maior exportadora do mundo".

 

Também existia um grande desejo de, através do controle do canal do Panamá, criar uma "infraestrutura comercial de grande importância".

 

De acordo com Vicente Quintero, se a Alemanha de Hitler não fosse derrotada, as populações latino-americanas sofreriam grandes riscos.

 

"A hierarquia étnico-social que o Estado nazista tinha levaria a importantes complicações na América Latina, porque eram percebidos como países que deviam ser 'branqueados'", apontou.

 

Além disso, neste contexto, essas ideias continuam contando com seguidores em determinados segmentos das sociedades latino-americanas, que abrigaram diversas autoridades do regime nazista.

 

A situação, de acordo com o autor, representa um potencial perigo tanto "para judeus" como também "para outros coletivos que são vulneráveis", pois estes segmentos continuam ativos.

 

Quintero conclui que é importante criar uma consciência sobre os perigos desta ideologia supremacista.

 Fonte: 

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