quinta-feira, 7 de maio de 2020

NP 388 de 01 a 07/05/2020 É hora do desinvestimento "Teoria Holandesa" b...








Programa 388 - Semana de 01 a 07/05/2020 – 19ª Edição do
ano  Fonte-
Ricardo Cravo Albin



Notícias Petroleiras e outras, estes são os nossos módulos.






Ivan Luiz Jornalista
Reg. CPJ 38.690 - RJ 1977.

EDISEN

Homenagem a Aldir Blanc

Vinheta
EDITORIAL: É hora do Desinvestimento “Teoria Holandesa”
Módulo I   A ruptura da unidade pelas centrais majoritárias                                            
 Independência classista de verdade

Módulo II  Alternativas para uma economia pós-coronavírus

Módulo III Câmara aprova em 1º turno alterações na PEC do Orçamento de Guerra

Módulo IV Lutas e Revoluções na América Latina Seculos XIX, XX e XXI – Destaque para Guerrilhas na América Latina
Módulo V - Homenageados na cultura brasileira,  destaque para  Ataulfo Alves (111 anos) – 02 -  Beth Carvalho (74 anos) – 05 -  Orestes Barbosa (127
anos)
– 07 -
Módulo VI Relação completa dos aniversariantes de 01 a 07/05

Módulo VII Foco em exploração e produção (E&P) compromete o desenvolvimento do Brasil e o futuro da Petrobrás
Módulo VII_I - Por que bolsonaro adotou a lógica de negar a pandemia

Módulo VII_II - Política e Administração Pública e muito mais

Módulo VII_III - Boletim Camara
Módulo VII_V
Os 200º Aniversário de Nascimento de Karl Marx

 




Alternativas para uma economia pós-coronavírus 


P1

Saídas não-neoliberais

P2

Manifesto para um programa emergencial de
superação da crise econômico-sanitária de 2020

P3

Financeiro/monetário


P4

Fiscal


P5

Considerações finais


EDITORIAL:  29 Abril 2020  Compartilhamos o curto e claro manifesto com
o qual acadêmicos holandeses propõem uma 
mudança do paradigma econômico mundial depois
da 
crise da pandemia.
A nota é publicada por El Clarín, Chile, 27-04-2020. A tradução
é de Wagner
Fernandes de Azevedo
.
Aparentemente a Holanda é
o país que com mais força está tomando o desafio de reestruturar sua economia a
partir do que nos vivemos no presente. Nesse contexto, 170 acadêmicos
holandeses escreveram um manifesto em cinco pontos para a 
mudança econômica pós-crise da covid-19,
baseado nos princípios do 
decrescimento:
1. Passar de uma economia focada
no 
crescimento do PIB, a
diferenciar entre setores que podem crescer e requerem investimentos (setores
públicos críticos, energias limpas, educação, saúde) e setores que devem 
decrescer radicalmente (petróleo,
gás, mineração, publicidade, etc.).
2. Construir uma estrutura
econômica
 baseada na redistribuição. Que estabelece uma 
renda básica universal, um
sistema universal de serviços públicos, um forte imposto sobre a renda, ao
lucro e à riqueza, horários de trabalho reduzidos e trabalhos compartilhados, e
que reconhece os trabalhos de cuidado.
3. Transformar a agricultura para
uma 
regenerativa.
Baseada na conservação da biodiversidadesustentável e
baseada em produção
local e vegetariana
, ademais de condições de emprego e salário
justas.
4. Reduzir o consumo e
as viagens.
Com uma drástica mudança de viagens luxuosas e de 
consumo desenfreado, a um consumo e viagens básicas, necessárias, sustentáveis e
satisfatórios.
5. Cancelamento da dívida.
Especialmente de trabalhadores e donos de pequenos negócios, assim como de
países do Sul
Global
 (tanto a dívida a países como a instituições
financeiras internacionais).

Leia mais

·                    
Decrescimento, uma alternativa. Artigo de Iosu Perales
·                    
Alternativas para uma economia pós-coronavírus
·                    
Neoliberalismo contaminado. Artigo de Michel Husson
·                    
A pandemia e o fim do neoliberalismo pós-moderno
·                    
Assim mudará o
capitalismo



 - Topo

Destaque para Módulo I: 01 Maio, 2020 A ruptura da unidade pelas centrais
majoritárias

Postado 11:52h em conjunturaDestaque
2
 
Sindipetro-RJ sempre se posicionou
pela unidade, no apoio da construção de um ato unificado. Mas não dá para
aceitar estar ao lado de quem não representa a classe trabalhadora. Este dia é
para estarmos com os trabalhadores que produzem diariamente nas cidades e nos
campos; os verdadeiros geradores da riqueza do Brasil.
Os que criam e planejam, os que
estudam e aprimoram, os que inventam, os que desenvolvem a cultura. Não dá para
se somar aos que sucateiam empresas estatais, escolas e hospitais.
Os mesmos que defenderam as reformas
do Trabalho e da Previdência não são amigos da classe trabalhadora. Em meio a
esta pandemia, com o isolamento político de Bolsonaro e a revolta de amplos
setores da população contra sua política genocida, está nas mãos da classe
trabalhadora apontar a saída para o país.
É no terreno da luta de classes que
podemos construí-la, por mais ultrapassado que isso pareça.
Nunca tivemos dúvidas da necessidade
de um ato classista no fortalecimento à luta contra Bolsonaro e seus prepostos.
A reunião das Centrais Sindicais discutiu a realização de uma live como um ato
unificado, mas a política aprovada, de “um novo mundo solidário é possível”, ou
algo assim, já refletia uma certa negação desta compreensão, prevalecendo a
visão de seus principais atores, de uma política de conciliação de classes.
Nítido está que esse time, não quer
defender as bandeiras da classe trabalhadora, mas apenas fazer um “acordão” com
a burguesia para chegarem todos juntos vitoriosos nas eleições de 2022,
mantendo o atendimento aos interesses dos banqueiros, empresários, credores
internacionais, etc. Infelizmente, esta foi a política da direção majoritária
das Centrais: transformar o 1º de Maio em um ato da Frente Ampla Eleitoral.
De imediato, houve reação de vários
setores que vinham construindo o ato unificado, principalmente quando
anunciaram na tarde do dia 27 de abril que estava oficializado o convite para
os representantes dos poderes constituídos, inimigos dos trabalhadores: Maia,
Alcolumbre e Toffoli. Frente a isso, o Sindipetro-RJ e a FNP decidiram por não
corroborar com este embuste contra os petroleiros e toda a classe trabalhadora
e construir um 1º de Maio classista, independente, internacionalista, de luta,
impulsionado pelas Centrais CSP-CONLUTAS e Intersindical – Instrumento de Luta.
Mãos à obra! Sem essa de colaborar com
quem explora os trabalhadores.
Vamos participar nesta sexta, 1º de
Maio, do ato “Em defesa da vida, dos direitos, salário, emprego e renda! A vida
acima do lucro: manter a quarentena!”, rompendo com a manobra das centrais
majoritárias.
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01 Maio, 2020 Independência
classista de verdade

Postado 11:24h em conjunturaDestaque
2
 
Não há justificativa para esconder a
cara de nossos inimigos
No Brasil, historicamente, e com
frequência, a burguesia recorre à narrativa do pacto para evitar a luta de
classes, promovendo a “domesticação” da classe trabalhadora. Acordos políticos
sempre foram construídos dentro desta linha, desde a era Vargas até os governos
petistas. A própria Constituição de 1988 é um grande exemplo disso, embora
represente um ganho ante às condições anteriores.
O fato é que o discurso de conciliação
é nada mais do que uma armadilha do capital para justificar a chamada
“democracia burguesa”, que legitima os interesses dos grandes grupos
econômicos, usando o sistema eleitoral e manipulando as políticas públicas do
Estado a seu bel-prazer. O socorro dado aos bancos no valor de R$ 1,2 trilhão
feito pelo governo de Jair Bolsonaro, diante da crise gerada pela pandemia da
COVID-19, exemplifica bem a situação.
Hoje, o modelo neoliberal ciclicamente
adotado pelos governos nos últimos 40 anos com mais ou menos força, minimiza o
papel do Estado diante da população mas não diante dos interesses do grande
capital privado. Esta contradição se estende até as representações políticas e
sindicais, que em tese deveriam defender a classe trabalhadora. E podemos citar
mais um exemplo disso quando se recorre à narrativa da empregabilidade para
justificar a retirada de direitos trabalhistas consagrados há décadas no
Brasil.
Não esqueçamos que essa também foi a
justificativa para a realização da reforma da Previdência. Ou seja, abra mão de
seus direitos para ter emprego, o que Bolsonaro e Paulo Guedes repetem
sistematicamente para justificar seus ataques aos trabalhadores.
Ainda neste processo, as privatizações
esvaziam e desmobilizam os trabalhadores diante dos apelos do movimento
sindical. Tomamos como (mau) exemplo um dirigente sindical que tentou acalmar
os trabalhadores de uma unidade da Petrobrás a ser vendida dizendo: “existe
vida após a privatização”. A frase resumiu bem como o sistema, através do
neoliberalismo, se impregnou no discurso de parte da representação sindical.
A verdade é que a tragédia da pandemia
de alguma forma expõe as fissuras do sistema e dá condições de um reordenamento
dos movimentos sociais e sindicais na construção de uma nova linha política
para mobilizar a classe trabalhadora, mostrando como a desigualdade afeta a
vida daqueles que são explorados. E como a política do Estado mínimo não
oferece respostas diante da crise.
Por isso, a independência de classe
deve ser uma referência, mesmo diante de uma conjuntura nefasta como a que
vivemos com o governo de Bolsonaro. Se o objetivo é derrubá-lo, vamos lutar por
isso, mas não barganharemos nossos direitos com uma burguesia que só quer
defender seus privilégios às custas de nossas vidas.

Fonte:Sindipetro RJ

Versão do impresso
Boletim 211
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Módulo II

Alternativas para uma economia pós-coronavírus - Volta ao topo Topo

Foto:
Colectivo 2+/Carlos Vera M.
28
Março 2020

governo Bolsonaro, com
apoio de Alcolumbre e Maia, ao contrário do
que faz todo o mundo, anunciou medidas legais que dão as bases jurídicas para
que a 
economia brasileira aprofunde
as tendências recessivas da 
crise
econômico-sanitária
. MP que permite a
suspensão de salários no setor privado, pelos próximos meses, somada à PEC
emergencial, que prevê a redução
dos 25% dos salários dos servidores públicos
 das três
esferas de governo, 
afetam diretamente aos
trabalhadores
. Unidas aos obstáculos
legais e administrativos para que os mais pobres tenham acesso aos 
programas sociais e
à 
previdência, se
antevê um choque negativo de demanda que vai provocar um desemprego crescente,
agravando as restrições de oferta impostas pela estratégia de isolamento social
de longa duração para combate ao 
covid-19.
Esse
programa de aprofundamento da crise econômico-sanitária, patrocinado pela 
direita brasileira e pelas demais
forças que apoiam o governo, demonstra que a combinação da incompetência, da
falta de visão e de interesses mesquinhos é o caminho certo para a forte
regressão de um sistema produtivo já em decadência bem como para a miséria e
todos os seus males. Tememos que esse quadro dê margem para uma escalada
autoritária justificada pela necessidade de contenção do caos social.
Nesse
sentido, professores do Departamento
de Ciências Econômicas da UFRRJ
 abaixo assinados nos
unimos aos esforços intelectuais e políticos que vem sendo realizados em todo
Brasil para
sublinhar a gravidade e complexidade da crise atual, mas, também, afirmar
alternativas democráticas muito superiores ao que o governo federal propõe para
vencer a crise econômico-sanitária, apresentando o Manifesto para um programa emergencial
de superação da crise econômico-sanitária de 2020
.
O
manifesto foi escrito por professores do Departamento de Ciências Econômicas da UFRRJ,
publicado em Outras
Palavras
, 26-03-2020.

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Eis
o manifesto.

 

P2 - Manifesto
para um programa emergencial de superação da crise econômico-sanitária de 2020
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O
ano de 2020 começa com um desafio extraordinário para as políticas públicas. O
mundo e o Brasil se
defrontam com uma crise de duas dimensões. De um lado, já se manifesta uma crise
financeira de grandes proporções, cuja origem remonta à modéstia das reformas
do sistema financeiro desde 2008 e avança nos países que se abraçaram à
austeridade. Suas consequências mais imediatas são a queda da demanda agregada,
o aumento da inadimplência e
do desemprego e
a redução dos investimentos. De outro, temos a eclosão da 
pandemia do covid-19, a
respeito da qual ainda se sabe pouco.
No
Brasil, mas não apenas, diante de um sistema de saúde debilitado pelo
sub-investimento devido a 
políticas de austeridade
prolongadas que desvalorizaram a saúde pública
, a
estratégia é distribuir o número de infectados ao longo do tempo para evitar
uma pressão muito grande sobre a oferta de leitos hospitalares. O problema é
que a estratégia de isolamento social, nessas
circunstâncias, acaba tendo duração indefinida. Isso debilita a demanda de bens
e serviços como impõe, imediatamente, restrições severas na oferta, pelo menos
daquelas atividades em que a presença física do trabalhador é essencial.
Assim,
se a crise
econômico-sanitária
 nos mostra, mais uma vez, que as
economias de mercado, deixadas por si, tendem a colapsar, desta vez, contudo,
as políticas expansionistas, que tradicionalmente são empregadas para salvá-la,
esbarram na inevitável crise de oferta que se vislumbra com a pandemia. A crise
de oferta e demanda é intolerável e insuportável, expondo o povo, de um lado,
ao risco do desemprego e, de outro, à ameaça de falta grave de bens e serviços.
Se esse quadro prosperar, o desemprego,
a fome, a violência
e a peste
 – não apenas o 
covid-19! – vão
assolar o 
Brasil.
Não
é trivial lidar com a combinação de crise de demanda com restrições de oferta.
A adoção de medidas para combatê-la é extremamente complexa. Complexidade, no
entanto, não significa impossibilidade. Exige o reconhecimento de que respostas
simples, modestas e diferidas no tempo serão completamente insuficiente
diante da crise econômico-sanitária. Medidas
financeiras/monetárias e fiscais
, em grande escala
deverão ser colocadas em prática rapidamente, mas não lograrão efeitos
positivos relevantes sem o essencial cuidado com o planejamento econômico e a
coordenação para lidar com a pesada restrição de oferta.
O
despreparo do governo federal para lidar com a complexidade do quadro fica
evidente pela superposição de medidas quase sempre contraditórias ou que se
revelam insuficientes já no dia seguinte. Apenas com a combinação do
expansionismo e do planejamento econômico será possível mitigar os efeitos
financeiros e econômicos da 
crise
econômico-sanitária
 e gerar os meios para
combater com sucesso a pandemia.
No
Brasil, será ainda fundamental reconhecer que as desigualdades sociais,
que pioraram nos últimos anos, deverão ser objeto de atenção prioritária.
Situações de carência material extremas não apenas são inaceitáveis, mas
introduzirão muitas dificuldades na contenção da pandemia. Estima-se que,
apenas na cidade de São Paulo haja 50 mil moradores de rua. No Rio de Janeiro, cuja
população de rua registra números crescentes, mais de 
20% da população mora em
favelas incrustadas na cidade
. Esse quadro, que se
reproduz nas aglomerações urbanas em todo o país, se soma à grande 
pobreza rural. Essas
populações, privadas de condições sanitárias adequadas e sujeitas a 
serviços públicos de
saúde pública
 claramente
insuficientes, já sofrem em tempos de normais e penam nas crises, mas serão ainda
mais duramente atingidas pelo 
COVID-19.
A
partir do momento em que forem afetadas, será razoável esperar a aceleração da
taxa de contaminação. Não apenas é fato que os grupos sociais de baixa e
baixíssima renda sofrerão as piores consequências pela dependência exclusiva de serviços
públicos
, como toda a sociedade será atingida pela súbita
pressão sobre a infraestrutura
de saúde
. É preciso agir rápido e com generosidade para que
crise econômico-sanitária não dê lugar à segregação social e à violência.
Seguem
algumas medidas financeiras/monetárias e fiscais que sugerimos para que a 
crise
econômico-sanitária
 seja combatida, e
para que seja construída, rapidamente, uma alternativa econômica em direção à
prosperidade. Elas se alinham ao crescente consenso em torno da urgência de
adoção, pelo governo federal implemente políticas orientadas pelo
expansionismo, pela equidade e pelo planejamento.
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P3 - Financeiro/monetário - Voltar ao Topo



Idealmente,
não se deve permitir que os 
fluxos financeiros
sofram rupturas
. Deve-se afastar ao
máximo a possibilidade de que as expectativas empresariais de insolvência, por
causa da queda das vendas, ganhem ainda mais corpo e se desdobrem em efeitos
depressivos, como as demissões em massa. Em uma economia já combalida como é a
nossa, expectativas negativas só levarão à insegurança e ao desespero, em uma
cena marcada pela indisfarçável ameaça à vida trazida pelo 
covid-19. Não
obstante, apenas jogar o dinheiro de helicóptero não será uma solução, pois não
se pode perder de vista que é preciso 
buscar formas de
combater o covid-19
 ao mesmo tempo em que
é necessário evitar as restrições
de oferta
.
Assim
sendo, é necessário garantir ao sistema
bancário
 que os problemas de falta de liquidez, e até
mesmo da insolvência, provocados pela inadimplência temporária, serão sanados
pelo Banco Central com
custos desprezíveis. O cumprimento dessa missão tradicional das 
autoridades monetárias será
importante para a 
saúde financeira dos
bancos
, mesmo que tenham sido
muito lucrativos até este momento, mas claramente insuficiente se não for
transformada em um programa de crédito
emergencial
, com condições favoráveis, para o resgate da saúde
financeira das empresas, para a manutenção
de empregos
 e para o combate ao 
covid-19.
O
crédito emergencial às empresas deve ser concedido em volumes generosos, com
juros baixos, desde que seja para a renegociação de todas as obrigações de
curto prazo, as que vencem nos próximos 6 meses – tempo estimado para o fim da 
pandemia. Devem
incluir todas as obrigações com fornecedores, pagamentos de impostos,
contribuições e tarifas
públicas
, além de despesas novas para melhorar radicalmente
as condições
sanitárias
 no ambiente de trabalho e o pagamento da folha
de salários. Esse é o caminho para ampliar a produção e o funcionamento das
empresas, sustentar o emprego e fortalecer o combate à 
pandemia.
As
linhas de crédito deverão ser condicionadas principalmente à manutenção – ou,
quem sabe, aumento – do nível de empregos formais de 8 horas diárias, mas
também ao adimplemento com fornecedores, serviços públicos e obrigações tributárias,
além da melhoria das condições sanitárias pelo prazo de duração do
financiamento. A adesão das empresas ao programa de crédito emergencial
resultaria na manutenção de empregos, no pagamento de salários, impostos e
tarifas públicas, dívidas com fornecedores e na operação das empresas com
redução do potencial de contágio (de clientes e empregados) pelo 
covid-19.
Nenhuma
empresa seria obrigada a tomar essa linha de crédito, em condições favoráveis,
com juros baixos e prazos bem dilatados. No entanto, a condição que as empresas
têm de obedecer, se quiserem se servir dessa linha de crédito, é manter seu
contingente de funcionários e o valor da folha de pagamentos até a quitação
total do financiamento, além do cumprimento das demais obrigações. A penalidade
seria o vencimento antecipado da dívida, com juros punitivos. Para
o empresário, seria oferecida a possibilidade de dilatar os prazos do 
financiamento por
um período longo. Mais suaves seriam as suas prestações, mas maior o tempo em
que se obrigariam a manter funcionários empregados. Os incentivos poderiam ser
ainda maiores para o alongamento do financiamento,
com juros mensais menores na medida em que os prazos de financiamento forem
maiores.
Uma
das dificuldades é saber se os bancos privados poderão ter interesse nesse tipo
de financiamento, mesmo que os bancos centrais os financiassem a custos muito
baixos, o que incluiria juros baixíssimos e a determinação de que os
financiamentos emergenciais não consumissem capital, para efeito do cálculo do índice de Basileia. Claro,
para assegurar o sucesso desse programa, os bancos públicos deveriam estar
preparados para conceder créditos em volumes suficientes e em condições
generosas, aumentando a pressão competitiva sobre os bancos privados, que
possivelmente teriam seu apetite aumentado pela manutenção da SELIC em
patamares baixos.
Essa
modalidade de financiamento poderia ser estendida, ainda, às famílias. De modo
similar ao que se faz com as empresas, a linha de crédito deve mirar o 
pagamento de empregadas
domésticas
, impostos e tarifas
públicas, além da renegociação de dívidas por um período equivalente, mesmo
durante o período de isolamento social. A obrigação da
família deveria ser semelhante à das empresas, isto é, manter as empregadas
domésticas formalizadas e munidas de equipamentos de segurança, recebendo em
dia, pelo período de duração do financiamento.
Se
essas medidas forem implementadas, elas mirarão nas dificuldades urgentes de
empresas e famílias, mas gerarão efeitos macroeconômicos positivos que poderão
se perpetuar. Assim, se as empresas e famílias conseguirem pagar seus
fornecedores, suas contas de água, luz e outros serviços, tributos e,
principalmente, os salários de seus funcionários, acabarão sendo beneficiadas
pelo crescimento da renda. O combate ao 
covid-19 impõe que se
inclua nos financiamentos a aquisição de máscaras, luvas e equipamento de
segurança, higiene e limpeza para assegurar condições de trabalho e aumentar as
condições para que as empresas voltem a funcionar sem que se tornem vetores que
acelerem a taxa de contaminação. Trata-se de combater, simultaneamente o choque
de oferta e demanda a partir da organização existente da produção.
Se
o governo liderar essas ações com determinação e generosidade, a sociedade se
tornará mais confiante, empresas
e famílias manterão seus funcionários
, melhorarão as condições
sanitárias e pagarão suas despesas financeiras ligadas ao programa. As empresas
fornecedoras de serviços públicos terão receitas garantidas e a arrecadação de
tributos e contribuições será mantida, melhorando a saúde financeira dos entes federativos.
As
demais linhas de financiamento, desde aquelas voltadas para o investimento até
a aquisição de bens de consumo poderiam ser também facilitadas. Evidentemente,
o financiamento de atividades consideradas essenciais no combate ao
Coronavírus, como expansão de leitos hospitalares, da indústria farmacêutica,
higiene e limpeza, ou da indústria ligada ao saneamento, desde que
tenham que cumprir alguma missão designada pelas decisões políticas orientadas pelo
planejamento, poderiam contar com vantagens adicionais, como juros baixíssimos,
carências e prazos dilatados. Como já mencionado acima, os gastos com a
manutenção de condições sanitárias ideais nas empresas e nas famílias devem ser
indubitavelmente privilegiados.
Por
fim, cabe dar um tratamento cuidadoso à 
Bolsa de Valores. Muitas
pessoas e até economistas consideram, com alguma razão, que a Bolsa de Valores é
um cassino e que, como em todo cassino, se quebrar, deve ser assunto tratado
entre apostadores e gangsters.
Em que pese a falta de simpatia popular pela Bolsa de Valores, o
fato é que, em vários países, é nesse espaço que se negocia a propriedade em
empresas relevantes, como, no nosso caso, a Petrobrás e a Vale. Além disso,
Bolsa de Valores,
mesmo no Brasil, tem potencial, que não pode ser desperdiçado, de se tornar uma
alternativa para o funding do
investimento.
Recentemente,
BNDES vendeu
ações da 
Petrobrás. Por
coincidência, vendeu na alta, obtendo lucros que salvaram seu pífio desempenho
recente com operações de financiamento de longo prazo. Agora que os preços das
ações, incluindo os da própria Petrobrás, estão na bacia das almas, o BNDES deveria,
imediatamente, recomprar as ações da Petrobrás, bem como colocar em prática a
compra de ações de outras empresas estratégicas para o desenvolvimento brasileiro.
Sabe-se que o governo atual não se comoverá com o argumento de que a recompra
das ações dará ao Estado maior controle sobre as empresas estratégicas para
acelerar seus investimentos. Contudo, um argumento mais mesquinho poderia
sensibilizar a favor da recompra de ações: a recomposição da carteira
propiciaria maiores lucros no futuro para o BNDES, passada a atual
crise das commodities, elevando o resultado primário e o lucro da instituição.
Mesmo
que a motivação tenha essa origem mais baixa, um banco de desenvolvimento que
pretende fortalecer o sistema bancário privado e o mercado de capitais não pode
desprezar o valor da estabilização da Bolsa, ainda mais nessa 
crise
econômico-sanitária
.
Agindo
como um market-maker,
anunciando a compra de ações até um preço fixo e até um volume relevante,
calculado a partir dos seus muitos recursos ociosos e de linhas especiais
abertas pelo Banco
Central
 para essa finalidade, o BNDES ajudaria a
estabilizar as cotações, com efeitos positivos:
1)
daria mais tranquilidade aos bancos que tem essas ações como garantias de
financiamentos concedidos às empresas;
2)
reduziria as perdas de fundos e investidores em geral, mitigando a pressão
desses agentes, em busca de liquidez, sobre os mercados financeiros já
combalidos;
3)
re-estabeleceria a confiança do público em investidores institucionais que se
arriscam em mercados diferentes dos de dívida pública.
Por
fim, se o BNDES for
determinado e fizer um anúncio à altura do desafio, os preços das ações-alvo
poderiam subir e se estabilizar sem que, necessariamente, fosse levada a cabo a
intervenção maciça anunciada. Exerceria, assim, mais facilmente o seu papel,
pelo efeito positivo sobre as expectativas, de estabilizar a bolsa de valores.
Contribuiria, ainda, para contrariar a visão consolidada no Brasil de que
Bolsa de Valores,
em particular, e o mercado de capitais, em geral, operam como cassinos que
jamais poderão ser uma alternativa de funding do
investimento.
Essas
medidas precisam ser coordenadas com uma política fiscal mais agressiva para
contrariar a tendência de economias de mercado em situações de estresse/crise,
que é explodir em uma crise financeira e promover a desmobilização produtiva.


crise econômico-sanitária será
muito grave se medidas
fiscais emergenciais
, em escala e bem direcionadas, não forem
tomadas para fortalecer a demanda e a oferta, simultaneamente. Operações de
crédito podem ser necessárias para manter as empresas operando, incentivar
ações empresariais e atividades específicas, mas não deverão ser suficientes
nesse quadro de demanda deprimida. O desemprego, já elevado, e o investimento,
em baixa, devem piorar com a conjunção entre a 
crise financeira internacional
e a 
pandemia do covid-19.
O
apego ao mito da austeridade não recuperou e nem vai recuperar a demanda, assim
como a desejada vacina e medicamentos necessários para a cura do 
covid-19, que ainda não estão
disponíveis, não autorizam o retorno à convivência social com a qual nos
acostumamos. Dar a direção das políticas públicas a partir do desejo que o
corte de gastos trará de volta a confiança e os investimentos, e com a ilusão
de que não é mais necessário tomar precauções quanto à 
pandemia porque
uma medicação trará a cura amanhã e porque poucos morrerão, é a receita do desastre. O
impacto do 
covid-19 afetará
a demanda e a oferta, colocando a sociedade em pânico.
Para
reativar a economia, quando as variáveis de demanda estão deprimidas, deve-se
apostar nos gastos públicos para ampliar o tamanho dos mercados e estimular a
produção e a renda. Neste momento, no entanto, se os gastos forem feitos em
escala, rapidamente, a economia pode colidir com a restrição de oferta. A
melhor forma de afastar essa restrição é ampliar os gastos na produção
explorando as possibilidades indicadas pelo planejamento, aumentando o combate
ao 
covid-19 e
a capacidade das empresas operarem mesmo diante de restrições impostas
pelo isolamento social.

carências que poderiam ser progressivamente amenizadas com decisão política de
encomendar bens e serviços, e contratar de pessoal para intensificar o combate
ao 
covid-19. A
produção de luvas, máscara, álcool em gel, paracetamol, demais equipamentos de 
segurança sanitária, não
só para profissionais de saúde, de segurança pública, como, também, para os
demais trabalhadores (coleta de lixo, limpeza urbana, logística, comércio e
indústria), poderia ser estimulada por meio do compromisso de aquisição
ilimitada, pelo governo, dos bens e serviços elegíveis.
Isso
significa que não haveria restrições orçamentárias para o ministério da saúde e
para ações de outros ministérios (por exemplo, o dos Transportes) que
concorressem com o sucesso do combate à 
crise
econômico-sanitária
. Essa decisão (aliada
às linhas de crédito especiais) facilitaria o planejamento das cadeias
produtivas, aumentando a confiança empresarial para ampliar a produção,
incluindo a reativação de fabricas e instalações ociosas, o que compreende as
possibilidades de reconversão
de fábricas e instalações
 voltadas para outras
finalidades, deslocando para cima a restrição de oferta de bens e serviços.
Um
obstáculo a esse programa se concentraria naqueles casos em que os montantes
produzidos pelas empresas, muito concentrados no tempo, fossem insuficientes
para garantir uma taxa de retorno atraente para os gastos realizados com
adaptações e reconversões industriais. Nesses casos, seria importante, ainda, a
introdução de medidas de compensação, como prolongamento de contratos ou, caso
não fosse possível, a concessão de subsídios para esses investimentos.
Certamente, o compromisso do governo com a manutenção do pleno emprego nos anos
seguintes representaria um incentivo importante ao empresariado que facilitaria
as negociações.
De
todo modo, a aquisição ilimitada de bens e serviços, direta e indiretamente
necessários para o combate à pandemia, requer que, de um lado, se rompa com o 
Teto de Gastos, Regra de Ouro e
LRF.
A falta de recursos financeiros para a contratação de pessoal e para a
aquisição de serviços e bens, prioritariamente produzidos no país, é
simplesmente um erro que tem sido crescentemente reconhecido por economistas e
políticos. Falta
dinheiro não por um problema econômico fundamental
, mas,
precisamente, por causa desse arcabouço legal. A obediência a regras fiscais
impostas pelos defensores de políticas de austeridade, em nome da estabilidade
do mercado financeiro ou da confiança, já se demonstravam antes um erro e um
desperdício de oportunidades de crescimento. Um programa neoliberal, ao reduzir
a demanda, aumentará ainda mais as defasagens no sistema produtivo, já dando
sinais de colapso no sistema de tratamento do 
covid-19 e na oferta dos
demais bens e serviços necessários.
De
outro lado, o planejamento é fundamental. A timidez, a desorganização e a
anarquia administrativa com que se implementam ações que deveriam ser tomadas
com ousadia e organização pode levar ao caos ao colocar a economia na armadilha
do dilema da 
crise de oferta e
demanda
. Neste momento,
deve-se antecipar os cenários mais improváveis, sem a preocupação exagerada com
o risco do superdimensionamento. Os planejadores devem procurar atender às
necessidades tomando todas as medidas para aproveitar todos os recursos ociosos
e adaptar aqueles que poderiam ter melhor uso, explorando ao máximo as
possibilidades que vão se apresentando, como a possibilidade de escalonamento
dos horários de funcionamento de empresas que precisam funcionar para diminuir
o pico de demanda no uso dos transportes, explorar as inovações tecnológicas e fortalecer as
comunicações
.

ainda que se ter atenção e respeito com a massa de famílias pobres e
miseráveis, cujos provedores são desempregados e subempregados. Dadas as
possibilidades limitadas de gerar empregos rapidamente, o governo não apenas
tem a obrigação de garantir que as transferências
sociais
 continuarão a ser pagas, como deveria ampliar o
seu público alvo e os valores dos benefícios sociais pelo período que for
necessário. Essa é uma medida que ajudará a combater o 
covid-19, melhorando
as precárias condições materiais dos mais pobres e miseráveis. Só assim poderão
manter o isolamento social e os cuidados com a contaminação, sem que lhes
deixasse sem recursos, colocando-os numa luta desesperada pela sobrevivência.
O
aumento do gasto público, assim como da oferta de crédito, devidamente
coordenados e planejados, melhoram os prognósticos de que a economia possa
vencer os efeitos perversos da falta de demanda sobre os empregos e das
restrições de oferta causado pel
covid-19. Esse
é o caminho para o aumento dos recursos que vão combater a pandemia e assegurar
ao povo a provisão material de suas necessidades.
Nessa
hora mais difícil, infelizmente, mas não de forma surpreendente, podemos
testemunhar que as lideranças do Congresso
Nacional
 e a Presidência
da República
 agem no sentido oposto ao que deveria ser
feito. A insistência nas reformas e nas medidas dos cortes de gastos e redução
de salários favorecem os mecanismos mais perversos das economias de mercado
contra os interesses populares.
A
reforma trabalhista, a reforma da Previdência e as medidas de austeridade, ao
contrário do que seus patrocinadores prometeram, rebaixaram os salários,
tornaram normal o trabalho precário e não resultaram numa recuperação acelerada
do emprego, além de debilitarem o serviço público, cuja expressão dos nossos
tempos é o colapso antecipado do sistema de saúde. É preciso que as lideranças
mudem de posição diante das limitadas condições da sociedade brasileira
enfrentar a 
crise
econômico-sanitária
. Eles de ser
convencidos a mudar sua lógica e a caminhar no sentido oposto àquele das
medidas que nos trouxeram até aqui. Mas, ao invés disso, a realidade e as
declarações das lideranças, ao menos até o momento, nos dizem que a
aliança Bolsonaro-Guedes-Alcolumbre-Maia apostará
no 
caminho do caos.
Os
ajustes fiscais, que continuam sendo feitos, na forma da introdução de
restrições legais e burocráticas à concessão de benefícios previdenciários e ao 
bolsa-família têm
prejudicado diretamente os mais pobres. Além disso, as lideranças vêm gastando
seu capital político para aprovar uma emenda constitucional, a toque de caixa,
que visa cortar os salários dos 
servidores públicos e
sustentar MPs para
a supressão dos salários no setor privado.
Por
fim, o governo federal continua insistindo em medidas que serão inúteis do
ponto de vista fiscal, mas deixarão sequelas graves para o país, como, por
exemplo, o corte nas bolsas de pesquisa. Faz-se exatamente o oposto do que se
deveria quando a sociedade precisa mais da ciência. É um programa da miséria e
da ignorância que tem de ser encerrado e substituído por uma política expansionista e planejada de
combate à crise econômico-sanitária
.
Essas
e outras ações contraproducentes não apenas enfraquecerão demanda agregada e
agravarão a concentração de renda como, ainda, aumentarão a já elevada
antipatia e resistência contra o Congresso Nacional e ao Executivo. Isso é
péssimo para o país, pois é precisamente agora que se exige confiança nas
autoridades para uma ação conjunta e coordenada que visa combater a crise econômico-sanitária.
crise econômico-sanitária que
vivemos vai exigir dos estados e municípios muito esforço. Ocorre que não só
não lhes cabe fazer política monetária como não são capazes de gerar recursos
financeiros para executar suas políticas para além de sua arrecadação, bastante
limitada pela crise e estagnação vivida nos últimos anos, e por sua limitada
capacidade de endividamento. Precisariam do apoio do governo federal para
executar as políticas pelas quais são constitucionalmente responsáveis.
Contudo, a sinalização do governo 
Bolsonaro-Guedes tem sido péssima,
apontando sempre para o ajuste das finanças em vez da sua expansão, e para o
conflito com os governadores ao invés do planejamento das ações e da
cooperação.
Na
condição de principal credor de estados e municípios, o governo federal deve,
desde já, aliviar-lhes o pagamento das dívidas, se antecipando às medidas
judiciais como a que garantiu o benefício ao Estado de São Paulo. Mas isso será
claramente insuficiente: é preciso que o governo federal patrocine as políticas
dos entes, transferindo-lhes recursos em massa, e coordenar, com a maior
precisão, as ações federais, estaduais e municipais, orientado pelo fato de que
crise
econômico-sanitária
 é de demanda e de oferta!
O
Governo Federal não pode perder de vista, mesmo na relação com Estados e Municípios, que seus
objetivos são o de mitigar o sofrimento econômico e social e recuperar, o
quanto antes, a produção de bens e serviços ao mesmo tempo em que combate a
pandemia do 
covid-19.
Na
relação federativa, o papel do planejamento é fundamental para assegurar que os
resultados das políticas sejam adequados.
A
segurança pública, as ações rápidas de saneamento, o controle das estradas, das
demais vias e a oferta de diversos serviços essenciais, como os de saúde e
educação, cabe, em parte, a Estados e Municípios. A
atribuição clara e pactuada de hierarquias e responsabilidade, orientadas pela
minimização de conflitos com as unidades da federação exigirá confiança mútua,
que se atinge com negociações sérias, inteligentes, com generosidade fiscal, sempre
orientadas pelo conhecimento, em ambiente democrático.
Infelizmente,
o que se vê, é o conflito, com o 
governo federal tentando
se impor através da imposição de restrições aos estados e municípios.

 

P5 - Considerações finais - Topo



É
preciso reconhecer que será difícil ultrapassar essa 
crise
econômico-sanitária
. Os desafios urgentes
são enormes e as possibilidades de superá-los com a eliminação completa de
sacrifícios é uma esperança vã. Não obstante, a aposta no acaso e nas forças de
economia de mercado para resolver os problemas de oferta e demanda imporá dor e
sofrimento elevados e desnecessários à população, em especial, aos mais pobres.
A pandemia e a crise
financeira
 aceleraram os processos econômicos,
gerando consequências
graves
, como o 
aumento radical do
desemprego
 e a escassez de bens
e serviços. Dependendo da escala que esses problemas podem alcançar, a
segurança pública e os laços de convivência sofrerão grandes ameaças, deixando
a sociedade entregue ao caos.
Medidas econômicas que
não sustentem a demanda nem mirem na melhoria rápida das condições de oferta
aprofundarão a crise, abaterão a confiança e a solidariedade necessária para
que a sociedade vença as atuais dificuldades. Pior, o aumento do já elevado
desemprego e o colapso do sistema de saúde podem levar a episódios frequentes
de revolta popular, que poderão ser usadas para justificar medidas violentas e
autoritárias.
Vencer
caos exige que se
considere a múltipla natureza da atual crise
. Ela é de falta de
demanda e é de estresse financeiro, mas também de restrições de oferta e de
ameaça direta à vida. A obediência a qualquer mito levará ao fracasso não
apenas do Executivo e
do Legislativo,
mas da sociedade, pois os desdobramentos dessa crise apontam para um desastre
iminente se não houver planejamento e ousadia.
É
urgente a ruptura das tolas amarras fiscais atualmente vigentes e a atenção
total à estabilização de fluxos financeiros. Em um necessário ambiente de
expansão, para aumentar o emprego, a afirmação do planejamento,
orientado pela ciência e pelos especialistas, será fundamental para guiar a
oferta de bens e serviços necessários para a resolução dos problemas de demanda
e de oferta de curtíssimo e curto prazo ligados à pandemia e à 
crise econômico-financeira. Isso
exigirá a um ambiente de confiança mútua, formado a partir da negociação
política interna e externa em um ambiente democrático.
Mais
do que nunca, o esforço, a determinação, a perseverança e a 
inteligência serão
exigidas das lideranças
. Não se poderá vacilar
nesse momento para que se possa almejar e merecer as recompensas de uma
sociedade mais solidária, operando em busca do pleno emprego e com muita saúde.
Rio
de Janeiro, 23/03/2020
Assinam
Antonio
José Alves Junior

Alexandre Freitas

Marcelo Pereira Fernandes

Rúbia C. Wegner

Miguel Carvalho

Lamounier Erthal Villela

Débora Mesquita Pimentel


Câmara aprova em 1º turno alterações na PEC do Orçamento de
Guerra

Segundo turno deve ocorrer nesta terça-feira


Publicado em 04/05/2020 - 21:02 Por Heloisa Cristaldo -
Repórter da Agência Brasil - Brasília

Atualizado em 04/05/2020

A
Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (4), em primeiro turno, o
substitutivo do Senado da Proposta de Emenda à Constituição 10/20,
 chamada PEC do Orçamento de Guerra. Os parlamentares rejeitaram os
destaques ao texto-base e o segundo turno deve ocorrer nesta terça-feira (5).
A PEC
cria um regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para o
enfrentamento pandemia do novo coronavírus no país e foi aprovada pela Câmara no
início de abril. No entanto, após modificações do texto no Senado ,
a proposta retornou para nova análise dos deputados. 
A
medida flexibiliza travas fiscais e orçamentárias para dar mais agilidade à execução
de despesas com pessoal, obras, serviços e compras do Poder Executivo e vai
vigorar até o dia 31 de dezembro deste ano – mesmo prazo para o estado de
calamidade pública causado pela pandemia.
O
relator da PEC, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), recomendou a aprovação
integral do texto oriundo do Senado. De acordo com parlamentar, a proposta
viabiliza um acréscimo de R$ 600 bilhões no Orçamento da União para o
enfrentamento da emergência em saúde pública provocada pelo novo coronavírus no
Brasil.

Manutenção de empregos

Hugo
Motta retirou da proposta o trecho que condiciona o recebimento de benefícios
creditícios, financeiros e tributários, direta ou indiretamente, ao compromisso
das empresas de manutenção de empregos. Segundo Motta, a contrapartida já é uma
garantia de medidas provisórias editadas pelo governo federal.
“A
retirada do [trecho] vem não como uma medida que não seja um compromisso desta
Casa com os trabalhadores e com os empregos do país — algumas das medidas
provisórias já propostas pelo governo exigem a manutenção dos empregos. Acho,
contudo, que, se criarmos um entrave e trouxermos mais uma resistência para que
as micro e as pequenas empresas sejam ajudadas, nós não estaremos fazendo o bem
ao nosso país”.
No
entanto, um destaque do Partido dos Trabalhadores, defende a manutenção do
dispositivo aprovado pelos senadores.
“Entendemos
que é importante colocar que os empregos sejam mantidos por aquelas empresas
que vão ser beneficiadas por ação do governo. Ou seja, empresas que recebem benefícios
de créditos, benefícios tributários ou benefícios financeiros, nessa fase do
coronavírus, da União, direta ou indiretamente, têm que ter um comprometimento
de manter os empregos”, disse a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).

 

Títulos
públicos

O
relator da proposta recomendou ainda a rejeição da lista de títulos privados
que o Banco Central poderá comprar segundo autorização dada pela PEC. Dessa
forma, a aquisição dos títulos ficará a critério do próprio Banco Central.
“Em
contato com o Banco Central, nós tivemos o cuidado de não trazer para essa
matéria nenhum tipo de insegurança sobre as atitudes que o Banco Central terá a
possibilidade de tomar nos próximos dias na compra de títulos. Nós também
tivemos a preocupação de dar segurança e dar transparência para não prejudicar
as ações que o Banco Central poderá fazer de socorro à nossa economia”,
explicou o deputado.
Pelo
texto de Hugo Motta, serão retirados do texto as debêntures não conversíveis em
ações; as cédulas
de
crédito imobiliário; os certificados de recebíveis imobiliários; os
certificados de recebíveis do agronegócio; as notas comerciais; e as cédulas de
crédito bancário.
“O Banco Central fará
leilões de compra de ativos no mercado secundário, estabelecendo as condições
de volume, as características dos ativos e os preços de corte. Todos os
portadores desses títulos poderão apresentar suas propostas através de bancos
ou corretoras de valores”, acrescentou o deputado.
Matéria
atualizada às 23h44 para acréscimo do resultado da votação do primeiro turmo
Edição: Fábio Massalli

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Fonte:

 







Data

Guerrilhas na América Latina - Voltar ao Topo


HISTÓRIA DA AMÉRICA

A guerra de guerrilhas se configurou
como prática de guerrilheiros na América Latina, a partir do século XX. Poucos
movimentos guerrilheiros lograram êxito e conquistaram o poder.
No século
XX, a guerra de guerrilhas foi amplamente difundida na América Latina. Os
principais grupos de guerrilheiros latino-americanos surgiram na Colômbia,
Venezuela, Peru, Guatemala, Argentina, Brasil, Nicarágua, entre outros.
Contudo,
somente duas guerras de guerrilhas lograram êxito no continente americano, isto
é, conquistaram o poder. A primeira foi em Cuba, no ano de 1959, na chamada
Revolução Cubana, com os líderes Fidel Castro e o mártir Ernesto Che Guevara (a
imagem de Che configurou-se como representação ideal-típica do guerrilheiro). O
segundo movimento guerrilheiro que ostentou a tomada do poder na América Latina
se deu na Nicarágua, em 1979, por meio da Frente Sandinista de Libertação
Nacional. Os principais líderes foram Augusto Sandino, fundador da guerrilha
nicaraguense, na década de 1920; e Daniel Ortega, que assumiu o poder no ano de
1979.
As
principais ações das guerrilhas consistiram na efetivação do foquismo (ou os
chamados focos), que se pautava na existência de condições objetivas, nas quais
a prática revolucionária poderia ser colocada em ação. A prática da guerra de
guerrilha consistia no combate em focos revolucionários a partir da luta
armada, ou seja, para as guerrilhas ou guerrilheiros a luta armada consistia na
única forma encontrada para combater os regimes ditatoriais presentes em vários
países da América Latina e para conquistar o poder.
Em vários
países latino-americanos, os guerrilheiros de díspares concepções
política-ideológicas, como nacionalistas, marxistas, guevaristas, entre outros,
utilizaram a luta armada para combater as ditaturas instaladas em diferentes
países latino-americanos, como nos casos do grupo guerrilheiro Sendero
Luminoso, atuante nas décadas de 1970 e 1980, no Peru; e das FARC (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia), atuantes até os dias de hoje.
No
Brasil, a guerrilha de foco também existiu e foi colocada em prática pelos
guerrilheiros brasileiros no ano de 1968, na conhecida Guerrilha do Araguaia,
onde guerrilheiros revolucionários adotaram a luta armada como principal forma
de derrubar a ditatura militar que havia sido instalada no Brasil, no ano de
1964. O foco guerrilheiro no Brasil se concentrou próximo ao rio Araguaia, na
cidade de Xambioá, que naquela época pertencia ao estado de Goiás (hoje integra
o estado do Tocantins), e na divisa dos atuais estados do Pará e Maranhão.
No final
da década de 1960 e início de 1970, a Guerrilha do Araguaia foi duramente
combatida pelo exército brasileiro. Sob o crivo do então presidente militar,
Garrastazu Médici, vários guerrilheiros foram mortos e torturados pelos
militares brasileiros. Até os dias atuais vários corpos de guerrilheiros que
combateram na Guerrilha do Araguaia não foram encontrados.



Portanto, as tentativas de guerrilhas na América Latina não lograram
êxito, com exceção de Cuba e Nicarágua (como foi dito acima), por diversos
fatores: o primeiro seria o fato de as guerrilhas terem sido organizadas em
locais isolados e remotos, como no caso da Guerrilha do Araguaia. O segundo
fator foi a preponderância da questão militar sobre a questão política; e o
terceiro fator que decretou a falência das guerrilhas foi a pouca importância
dada às particularidades históricas de cada região/país. Dessa forma, as
guerrilhas na América Latina decretaram falência.
Leandro
Carvalho - Mestre em História

Os
guerrilheiros nicaraguenses, Augusto Sandino e Daniel Ortega e os guerrilheiros
da Revolução Cubana, Fidel Castro e Ernesto Che Guevara
Gostaria de fazer a referência
deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
CARVALHO,
Leandro. "Guerrilhas na América Latina"; Brasil Escola.
Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/guerrilhas-na-america-latina.htm.
Acesso em 01 de maio de 2020.

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Módulo_V  - Módulo Destaque Cultural

Biografia 


 Ataulfo Alves (111 anos) – 02
- Ataulfo Alves de Sousa

 2/5/1909 Miraí,
MG



 20/4/1969 Rio
de Janeiro, RJ
- Compositor. Cantor. Nasceu na Fazenda Cachoeira,
município de Miraí, Zona da Mata de Minas Gerais. Filho de Severino de Sousa e
Matilde de Jesus. O pai, que tinha o apelido de
Capitão, embora nunca
tivesse sido militar, tocava viola, sanfona e fazia repentes. Ficou conhecido
em toda a região
. Começou
a compor por volta de 1929, quando tinha 19 anos e era diretor de harmonia do
bloco "Fale quem quiser", organizado no bairro do Catumbi. Em 1933,
Alcebíades Barcelos, o Bide, depois de ouvir algumas de suas composições,
levou-o ao escritório de Mr. Evans, um americano, diretor da RCA Victor.

Biografia  

 Beth Carvalho (74 anos) – 05
- Elizabeth Santos Leal de Carvalho

 5/5/1946 Rio de
Janeiro, RJ


 30/4/2019 Rio
de Janeiro, RJ 
 - Cantora. Compositora.
Instrumentista.   Nascida no bairro da Gamboa, criada no Catete,
Laranjeiras, Urca, Ipanema, Leblon e Botafogo, bairros da Zona Sul do Rio de
Janeiro. Participou ainda criança do programa "Trem da alegria", da
Rádio Mayrink Veiga. Estudou na Escola Nacional de Música. Aos 13 anos
abandonou as partituras e dedicou-se ao balé clássico. Sempre eleita a melhor
aluna da escola, estava pronta a seguir carreira de bailarina quando ouviu pela
primeira vez João Gilberto cantando "Chega de saudade" e
"Desafinado". Chegou a cursar Relações Internacionais, mas abandonou
o curso para dedicar-se exclusivamente à carreira de cantora. Irmã da também
cantora Vânia Carvalho. Sua filha, Luana, participa como back-vocal de seus
shows e discos. Em 2017 foi enredo da escola de samba da série A Alegria da
Zona Sul, com o samba “Vou festejar com Beth Carvalho, a Madrinha do Samba”,
desfilando na avenida na sexta-feira de carnaval, rodeada por amigos como
Nelson Sargento, Moacyr Luz, Moyseis Marques, Wanderley Monteiro, Claudinho
Guimarães, Marcelinho Moreira, Edmundo Souto, Fred Camacho, Elisa Lucinda,
Gustavo Gasparani e o elenco da musical “Andança”. No início de 2019 foi internada
no Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde faleceu dias antes de
completar 73 anos de idade, por conta de uma infecção generalizada. O velório
foi realizado na sede do Botafogo, seu time de futebol, que prestou uma
homenagem à Madrinha do Samba, fazendo um minuto de samba antes da partida com
o Bahia, no estádio Nilton Santos

Biografia

 Orestes Barbosa (127 anos) – 07 -
Orestes Dias Barbosa

 7/5/1893 Rio de
Janeiro, RJ


 15/8/1966 RJ - Compositor. Poeta. Escritor.
Jornalista.  Nasceu no bairro carioca de Vila Isabel. Depois de seu
nascimento sua família morou na ilha de Paquetá, mudando-se para a Gávea quando
ele tinha sete anos. Seu pai chamava-se Caetano Lourenço da Silva Barbosa e era
major. Sua mãe chamava-se Maria Angélica Bragança Dias Barbosa. A família
passou por dificuldades financeiras ao longo de toda a sua infância. Por causa
disso não freqüentou a escola. Aprendeu a ler sozinho, vendo os letreiros de
bondes e manchetes de jornais com a ajuda de um vizinho, Clodoaldo de Moraes,
pai de Vinícius de Moraes, que também lhe ensinou as primeiras lições no
violão, quando ele tinha dez anos.  Em 7 de maio de 1902, o jornalista João
Guedes de Melo registrou no jornal "O Paiz", o aniversário do menino:
"Aniversaria hoje Orestes Dias Barbosa, meigo e talentoso menino que se
faz estimar por quem o vê, tão clara e reveladora é a sua inteligência."
Entrou para a escola aos 12 anos, O Liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu o
ofício de revisor. Aos 13 anos, venceu um concurso literário na revista
"Tico-tico". Em 1907, então com 14 anos, empregou-se como revisor do
jornal "O Século", dirigido por Rui Barbosa. Aos vinte anos,
tornou-se repórter do "Diário de Notícias", também sob a direção de
Rui Barbosa. Além de repórter, trabalhou como revisor, secretário e cronista,
exercendo todas as funções dentro de um jornal. Uma das manchetes criadas por
ele, a pedido de Rui Barbosa, tornou-se célebre: "Cortou o mal pela
raiz", anunciava um caso policial em que a esposa cortara o órgão sexual
do marido que a havia traído. Trabalhou nos periódicos "A gazeta de
Notícias", "A Manhã", "O Radical",
"Opinião", "O Mundo", "A Hora", "O
Avante", "A Folha", "A Noite", "O Dia",
"A Notícia", "O Globo", "Diretrizes", "A
Pátria" e "A Imprensa".  Em 1913, quando trabalhava para o
jornal "A Noite", de Irineu Marinho, liderou um grupo de repórteres
na instalação, no Largo da Carioca, de uma roleta de papelão com o seguinte cartaz:
"Jogo é franco - Roleta com 32 números - só ganha freguês". O jornal
fazia campanha contra a jogatina desenfreada que ocorria na capital do país,
insinuando a conivência das autoridades. Foi esse episódio que inspirou a
famosa letra do samba "Pelo telefone", de Donga e Mauro de Almeida:
"O Chefe da Polícia pelo telefone mandou avisar/ Que na Carioca tem uma
roleta para se jogar...". 

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Módulo VI - Relação completa dos aniversariantes da
semana.
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Intervalo
compreendido do 01 a 07/05
Aniversariantes

1

2

3







4

5

6







7

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Módulo VII >Módulo
VII

Foco em
exploração e produção (E&P) compromete o desenvolvimento do Brasil e o
futuro da Petrobrás

30 AbrilLido 251 vezes
Em
entrevista à TV Senado, o presidente da AEPET, Felipe Coutinho, analisou os
aspectos estruturais e conjunturais da atual crise da indústria petrolífera
e suas consequências
sobre a Petrobrás.
Respondendo à
jornalista Antônia Márcia Vale, Coutinho reafirma a importância da Petrobrás se
manter como uma empresa energética integrada, desde a exploração e produção de
petróleo à entrega dos derivados que, efetivamente, movem a economia,
garantindo o desenvolvimento.
Para Coutinho, o foco
da atual administração em exploração e produção de petróleo (E&P) e na
exportação de petróleo cru compromete o futuro da Petrobrás, a garantia energética
do País e a apropriação e distribuição da renda petrolífera para amplos e
diversos segmentos da economia nacional.
Clique
aqui
 para assistir a entrevista

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                                                           Última
Homenagem ao Companheiro Pery Ribeiro do EDISEN

30 abr, 2020 COVID-19:
trabalhador EDISEN é mais um na estatística de
vítimas fatais

Postado 11:17h em COVID-19Destaque
2
 
O engenheiro de equipamentos da Petrobrás,
Pery de Macedo Ribeiro, 59 anos, é mais uma vítima da COVID-19 . Profissional
de vasta experiência, Pery trabalhava atualmente na gerência
SRGE/ESUP/EEI/EIAC.

Após internação em um hospital em Cabo Frio-RJ, devido à COVID-19, permaneceu
em entubação respiratória por cinco dias, mas infelizmente acabou não
resistindo.
O
Sindipetro-RJ expressa condolências à família, amigos e aos companheiros de
trabalho pelo falecimento do petroleiro.

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Leia mais
sobre as alternativas para uma economia pós-coronavírus


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Módulo VII_I


POR QUE
BOLSONARO ADOTOU A LÓGICA DE NEGAR A PANDEMIA

O arsenal bolsonarista: conflito e caos como
métodos da ação política

Edição
154 
| Brasil Le Monde Brasil Diplomatique - por Vinicius do Valle -
29 de
Abril de 2020


A
natureza e a estratégia das ações bolsonaristas envolvem criar fatos, medidas e
declarações que aparentam confrontar normas e poderes estabelecidos. É por meio
do confronto e do caos, portanto, que o bolsonarismo mobiliza, responde às suas
bases e ganha espaço e poder na sociedade. Assim, situações de caos e de
desmanche institucional podem alargar a influência e o poder do presidente
Um dos poucos consensos na interpretação do
período político atual é a avaliação de que o governo Bolsonaro corresponde a
um momento particular na história brasileira. Tanto em leituras de acadêmicos
como na dos atores políticos, da esquerda à extrema direita, a constatação
dessa singularidade está presente. Por conta desse ineditismo de escolhas e
práticas pouco usuais, que contrariam a lógica dos incentivos institucionais e
econômicos, Bolsonaro muitas vezes é interpretado como sendo irracional e
suicida, e já teve até mesmo sua sanidade mental questionada.
O presidente, no entanto, não é louco, ainda
que manifeste características associadas à psicopatia e que, ultimamente,
segundo informações de bastidores, esteja apresentando crises de insônia,
cansaço e pânico. Não é com base na loucura e em atributos morais que podemos
entender as ações do governo Bolsonaro, e sim com base em seus interesses e
métodos políticos. E, sim, as ações do presidente e do movimento que encampa
possuem método e lógica, ainda que singulares.
Para entender o bolsonarismo é preciso
analisá-lo a partir do contexto em que ele emergiu: um momento de forte
polarização ideológica, em que o antipetismo radical e a rejeição ao sistema
político vigente se tornaram características centrais do ambiente político
brasileiro. As manifestações de junho de 2013, iniciadas pela esquerda e,
posteriormente, ampliadas com a entrada de atores à direita, marcaram o início
desse período. Em seguida, o conjunto de três elementos criaram a tempestade
perfeita para a desorganização da política e do tecido social de então:
(i)            
o cavalo de pau na política econômica do
governo Dilma Rousseff, que a partir da nomeação de Joaquim Levy iniciou um
forte ajuste fiscal recessivo, entendido por muitos setores progressistas como
um estelionato eleitoral;
(ii)           
a forte crise econômica que assolou o país,
gerando milhões de desempregados; e
(iii)          
a Operação Lava Jato, que, com métodos pouco
ortodoxos, trouxe à tona um gigantesco escândalo de corrupção, associado
principalmente às gestões petistas no governo federal.

Com a base social lulista abalada em meio a
uma crise econômica brutal que acabou sendo associada e vista como consequência
da corrupção que a Lava Jato revelara, o lulismo vivenciou uma tempestade
perfeita, coroada com a retirada do poder da ex-presidenta Dilma, em um
processo de impeachment até hoje controverso. Mas, em meio a esse processo, não
foi só o PT que ganhou rejeição e ódio de uma grande camada de brasileiros, e
sim todo o sistema político e partidário, inclusive os partidos de oposição,
compostos por forças tradicionais da política brasileira que, além de nunca
terem despertado paixões, estavam também denunciadas em peso por corrupção.
Nesse contexto, novos atores emergiram e
ganharam força no cenário político. Vale lembrar que a cientista política
Camila Rocha nos mostra que, ainda nos anos Lula, na segunda metade da década
de 2000, uma nova direita já vinha germinando no cenário nacional.1 Esse
novo movimento se diferenciava da direita tradicional e tinha como principal
característica a junção do ideário do ultraliberalismo econômico com a
avaliação de que existia uma hegemonia cultural de esquerda no país, que
precisaria ser combatida. Essa nova direita encontrou terreno fértil para
crescer no contexto do pós-2013, já que ela não podia ser associada aos
escândalos de corrupção da direita tradicional e que sua interpretação de que
haveria uma hegemonia esquerdista do mundo podia ser vista como uma crítica a
todo o sistema político e às instituições da sociedade civil brasileira. Ela,
então, influenciou o nascimento de novos grupos, movimentos e atores políticos,
entre eles o bolsonarismo, que até 2018 era apenas a versão radical e tosca do
antipetismo, do pensamento antissistema e do autoritarismo sempre presente em
nossa história política. As eleições presidenciais daquele ano marcaram o
momento de aglutinação de todos esses movimentos em torno de Bolsonaro, que
acabou se tornando a única opção viável eleitoralmente do campo conservador.
 
Lógica antissistema e embate constante

Caso Bolsonaro normalizasse seu
comportamento ao chegar à Presidência da República, adequando-se às normas, ao
decoro do cargo, à negociação política e ao discurso amplo e politicamente
correto, ele seria visto como traidor por sua base social – como se tivesse se
convertido em parte do “sistema”. A antropóloga Isabela Kalil nos mostra, com
base em suas pesquisas com militantes de extrema direita, que, em momentos de
ensaio de normalização e negociação política, Bolsonaro costuma ser criticado
por setores de sua base que esperam do presidente mais radicalismo e
enfrentamento. Em meio a esse jogo, Bolsonaro procura manter sua imagem de
político diferenciado, em guerra contra um sistema poderoso que, conforme nos
mostra o filósofo Marcos Nobre, passa ser encarado como toda a esfera
institucional da democracia brasileira e a maioria dos políticos que a
representa. O conflito constante é parte do DNA bolsonarista e, por esse
motivo, conforme argumentei em artigo online no Le Monde Diplomatique Brasil (2
abr. 2020), situações de caos favorecem e alimentam o bolsonarismo.
Não por acaso, os grupos sociais em que o
bolsonarismo é forte têm em comum o descontentamento com normas estabelecidas,
quando não com a sociedade em geral. Em minha interpretação, destaco os
seguintes grupos:
– Camadas do alto empresariado que,
preocupadas em amplificar seus lucros, veem na regulação econômica e nos
direitos trabalhistas entraves para seus negócios.
– Pequenos comerciantes locais que, afetados
pela crise econômica, converteram-se ao antipetismo radical. Há entre eles
também a ideia de que os impostos e direitos trabalhistas são a causa de sua
situação econômica.
– Grupos ruralistas, madeireiros e
mineradores que veem nas leis ambientais, na demarcação de terras indígenas e
quilombolas e na legislação que classifica o trabalho em condições análogas à
escravidão entraves para seus negócios.
– Grupos de policiais, guardas e
profissionais de segurança privada que consideram o ideário de direitos humanos
um entrave às políticas de combate à criminalidade. Ironicamente, há também um
grupo de policiais criminosos próximo a Bolsonaro por causa das relações do clã
com as milícias.
– Frações de autônomos e “empreendedores”
individuais, grupo que agrega uma vasta gama de trabalhadores precarizados,
desde profissionais uberizados até autônomos tradicionais. Nesse grupo há a
ideologia do mérito decorrente unicamente do esforço próprio, individual, sem
relação com ações coletivas ou auxílios estatais. Além disso, entre eles é
comum os argumentos liberais contra a regulação estatal, os direitos
trabalhistas e os impostos.
Além desses grupos ligados a setores
econômicos e interesses materiais identificáveis, há pelo menos outros dois
próximos ao bolsonarismo cuja identificação é puramente ideológica, e não
ligada a fatores de classe ou ocupação. São eles:
– Setores evangélicos pentecostais: minhas
pesquisas com evangélicos pentecostais mostram que entre eles é comum a
interpretação de que o mundo vem passando por uma deterioração moral, que se
manifestaria na violência, no uso de drogas, na pobreza, nos desvios da
sexualidade heteronormativa, nos conflitos familiares etc. Para eles, a
esquerda e os movimentos feministas e LGBT são vistos como consequência e parte
desse fenômeno de deterioração. Diante desse quadro, pensam que a solução
deveria ser a aproximação dos evangélicos com a política institucional e o
fortalecimento de figuras fortes de direita que romperiam a hegemonia
“esquerdista e imoral”, tais como Bolsonaro. Além disso, conforme argumenta o
antropólogo Ronaldo Almeida, a teologia da prosperidade, que advoga a fé para
obter prosperidade econômica de forma individual, sem o questionamento das
estruturas sociais e sem ajuda do Estado, possui afinidades com o liberalismo e
a ideologia do empreendedor individual, categoria também próxima ao
bolsonarismo, conforme citamos anteriormente.
– Um grupo que, na falta de nome melhor,
chamaremos de conservadores populares. Entre esses há os predominantemente
antifeministas, anti-LGBT ou contra os direitos humanos, de forma geral. Há
também um perfil mais genérico, muito comum nos interiores e no “Brasil
profundo”, mas não restrito a esses espaços, composto por pessoas que
manifestam desagrado com a complexidade do mundo, seja ela manifestada no campo
social, cultural, intelectual, urbano ou econômico. Essas pessoas veem no
autoritarismo e na defesa de uma ordem social clara e simples, que remete a um
passado seguro (porém, inexistente), uma proteção e uma salvaguarda diante da
complexidade desse mundo que não entendem bem. Essas pessoas também veem na
intelectualidade, no pensamento complexo e abstrato e na existência de culturas
e formas de vida distintas uma hegemonia de esquerda e do “politicamente correto”,
a qual deve ser combatida em prol de uma ordem simplista e conhecida do mundo.
Todos esses grupos, de diferentes formas,
possuem demandas contra normas estabelecidas, sejam elas de leis trabalhistas e
ambientais, normas de trânsito, regulações econômicas, regulações sobre uso de
armas, demarcações de terras indígenas, políticas de direitos humanos, de
igualdade de gênero, de combate à LGBTfobia e de respeito à diversidade. Todas
essas normas são entendidas, por cada grupo em questão, como sendo tanto uma
parte do “sistema” quanto elementos da “hegemonia esquerdista mundial” que
precisaria ser derrotada. É importante um olhar atento para a composição dessa
base: ela abarca setores tanto do pico quanto da base da pirâmide social
brasileira. Esse é, aliás, um aspecto que nenhuma análise sobre o bolsonarismo
pode deixar escapar: ele possui uma base real, inclusive entre setores
populares.
 
Guerra de movimento

A natureza e a estratégia das ações bolsonaristas envolvem criar fatos, medidas e declarações que aparentam
confrontar normas e poderes estabelecidos. É por meio do confronto e do caos,
portanto, que o bolsonarismo mobiliza, responde às suas bases e ganha espaço e
poder na sociedade. Assim, situações de caos e de desmanche institucional podem
alargar a influência e o poder do presidente. Vale lembrar que o caos pode
servir como justificativa para a implantação de operações de Garantia da Lei e
da Ordem e para a decretação do estado de sítio – ambas situações que aumentam
o poder presidencial. Em versões mais amenaspodem
também facilitar decisões judiciais atípicas a favor do presidente, embasadas
na extraordinariedade do momento. Em versões mais fortes, a dinâmica de
conflito e caos pode servir como pretexto para um golpe militar. Não menos
importante, o estado de desorganização social constrói terrenos férteis para a
criação, a ampliação e o fortalecimento de milícias que, por meio ilegal,
oferecem segurança e controle de produtos específicos e do tráfico de drogas em
territórios desassistidos pelo Estado. Em outras palavras, a milicianização da
sociedade parece ser uma política de governo, ao mesmo tempo que as milícias
constituem parte de sua base de sustentação.
O bolsonarismo, mais do que incentivar o
caos e o conflito social, faz isso de forma planejada. Em seu método de disputa
política, o clã Bolsonaro se utiliza de estratégias do campo militar. Tenho
proposto a categoria da guerra de movimento para entender suas ações, em uma
recuperação atualizada do conceito homônimo gramsciano. Assim, na guerra de
movimento bolsonarista, a luta política é estabelecida de forma múltipla,
sobrecarregando o debate político com várias pautas, utilizando-se em massa de
redes sociais, de convocações de atos de rua, pronunciamentos públicos, ações
para confundir a imprensa e uso da caneta presidencial para decisões políticas
controversas. Em cada ação, discurso ou canetada, há o ataque às instituições e
a grupos considerados inimigos, em meio a uma narrativa criada em que sempre há
uma grande conspiração que necessita ser desmontada pelo capitão e suas forças
patrióticas. Tão importante quanto identificar esses instrumentos é entender
que eles são utilizados em cadeia de movimentos, em que as ações e versões
mudam de forma rápida conforme os ventos do dia, forçando que a conjuntura
esteja permanentemente em movimento. Desse modo, Bolsonaro sempre age com
rapidez suficiente para estar no ataque e vários passos à frente dos
adversários políticos, ainda que por vezes lance mão de ações aparentemente
contraditórias.
Peguemos o exemplo da cadeia de movimentos
de Bolsonaro na crise sanitária do coronavírus: (1) Bolsonaro diz que o
coronavírus é uma “gripezinha” que não vai atingir o Brasil e sua economia. (2)
Assim que o vírus chega ao país, contrariando o postulado pelo presidente, um
de seus filhos diz que a culpa do vírus é da “ditadura comunista da China”,
tensionando ideologicamente a pandemia. (3) Pouco tempo depois, o ministro da
Saúde Luiz Henrique Mandetta passa a atuar de forma a levar a sério o vírus,
atraindo a sociedade para o trabalho concreto que o governo estaria fazendo.
(4) Mas, dado que o enfrentamento ao vírus geraria um grande impacto econômico,
Bolsonaro rapidamente vai à TV e condena o fechamento do comércio, colocando-se
como protetor da atividade econômica e dos empregos, jogando aos governadores e
prefeitos o ônus das medidas de isolamento, e novamente questionando a
gravidade dos fatos. (5) Ao mesmo tempo, os filhos do presidente produzem e
replicam postagens, afirmando que as aglomerações do Carnaval foram as
responsáveis pela transmissão do vírus e culpando artistas, prefeitos e
governadores que promoveram as festas, mais uma vez tensionando ideologicamente
a crise. (6) O ministro da Saúde volta a endossar a política de isolamento e a
ressaltar a seriedade do quadro sanitário do país. (7) Conforme o número de
mortos aumenta, Bolsonaro passa a desacreditar os dados oficiais, insinuando
que médicos estariam mentindo sobre as estatísticas para prejudicar o governo.
(8) Bolsonaro sai às ruas de Brasília para cumprimentar comerciantes,
contrariando as medidas de isolamento defendidas por seu próprio ministro e diz
que tentará liberar a volta à normalidade por meio de um decreto. (9) Em meio a
uma onda de críticas e a uma crise estabelecida com seu ministro da Saúde, que
ganha popularidade com as ações de combate à pandemia, Bolsonaro volta à TV em
novo pronunciamento nacional, aparentemente recuando de suas posições
anteriores, atestando a realidade do vírus, a ausência de tratamento
cientificamente comprovado e a necessidade de compatibilizar o combate à
pandemia e a preservação dos empregos. (10) Bolsonaro atrasa a sanção do
projeto aprovado pelo Congresso de ajuda emergencial aos comerciantes,
autônomos e vulneráveis, postergando o trâmite de socorro estatal aos mais
necessitados. (11) Em mais um episódio de crise com seu ministro da Saúde,
Bolsonaro tenta demiti-lo, mas não encontra apoio para tal, transparecendo um
possível isolamento no cargo. (12) Bolsonaro passa a defender o uso da
cloroquina para o tratamento do vírus e a apoiar atos contra o isolamento
social, participando de alguns deles por videoconferência e tornando suas
saídas para cumprimentar pessoas nas ruas um hábito, tensionando a permanência
do titular do Ministério da Saúde, que acaba manifestando em uma entrevista seu
desagrado com a situação. (13) Considerando a entrevista do ministro da Saúde
um ato de insubordinação e quebra de hierarquia, consegue demiti-lo, em plena
pandemia. (14) Imediatamente após a substituição na pasta da Saúde, Bolsonaro
dá uma entrevista dizendo que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo
Maia, estaria boicotando seu governo e lutando para retirá-lo do poder. (15)
Dias depois, o presidente apoia atos em frente a quartéis do Exército ao redor
de todo o país, os quais pedem o fim do isolamento social, o fechamento do
Congresso e do STF e a instalação de um novo AI-5. Ele vai pessoalmente ao ato
de Brasília, em frente ao Quartel General do Exército, onde discursa e
cumprimenta apoiadores.
Nos fatos citados, cada passo é dado de
forma rápida, em questão de dias ou horas, alternando entre estratégias
discursivas e ações concretas. A cada movimento, reforça-se a narrativa de que
Bolsonaro e seu governo estão lutando contra um inimigo que precisa ser
derrotado para o bem do país. Isso faz que seus apoiadores estejam
constantemente mobilizados e em estado de guerra, enquanto a oposição não
consegue responder a todas as frentes de ataque em bloco e à altura. Mais do
que isso, em cada radicalização do capitão, seus seguidores vão se tornando
também mais radicais e coesos, num processo em que a experiência comum vai
moldando o grupo, à imagem e sob certo controle do líder. Em meio a esse
movimento, a radicalização também vai normalizando práticas e discursos. Em
outras palavras, a corda vai sendo esticada e, com isso, vai se ampliando a
gama de ações e discursos aceitos na disputa política. Durante essa tensão pode
haver recuos, mas sempre os atos posteriores mostram que se tratava de mais um
movimento estratégico, para uma nova cadeia de ações que vêm na sequência.
O mais recente episódio de conflito no
governo, envolvendo o presidente e o ex-ministro Sérgio Moro, pode ser visto
como mais um capítulo da guerra de movimento bolsonarista. O controle da
Polícia Federal para Bolsonaro tem uma finalidade dupla, servindo tanto para
estancar as investigações que envolvem a si e seus familiares, como para minar
as instituições de controle do Estado de direito – ou seja, do “sistema”. Moro,
por sua vez, não poderia aceitar a interferência presidencial sem perder sua
imagem entre os setores do Judiciário, do alto escalão da PF e da sociedade que
lhe dão suporte, ainda mais depois que as investigações chegassem à imprensa, o
que já estava prestes a ocorrer. Como o ex-juiz da Lava Jato tem pretensões
políticas, ele resolveu ir para o confronto para disputar com o presidente a
proeminência sobre a base de direita e extrema-direita do Brasil.
Com a deserção de Moro, Bolsonaro voltou
contra ele sua máquina de guerra. No primeiro pronunciamento presidencial,
horas depois da saída do ex-ministro, Bolsonaro já acusou Moro de usar a
disputa em torno da direção da PF para barganhar uma vaga no STF.
Imediatamente, as redes virtuais bolsonaristas começaram a trabalhar:
levantaram hashtags a
favor do presidente, condenaram a aproximação do ex-aliado com a arqui-inimiga
Rede Globo e chamaram-no de traidor. O plano não é diferente das demais frentes
de combate bolsonarista: envolve criar diferentes enredos para construção da
narrativa em que Bolsonaro estaria lutando contra um “sistema poderoso”, contra
o “esquerdismo e o comunismo”, luta que Moro teria abandonado para se juntar
aos “inimigos da nação”. Iniciaram os discursos: “O sistema persegue Bolsonaro
e Moro está se juntando justamente a esses inimigos do establishment”; “Moro
nunca foi tão de direita assim”; “Ele não era tão armamentista, trouxe pessoas
abortistas para perto de si”; “Era antipetista, não anticomunista”; “Ele se foi
e a luta contra o comunismo deve continuar”.
Possivelmente, o episódio signifique alguma
redução na base bolsonarista, mas a tática presidencial de estar sempre em
movimento e para frente cria mobilização e pauta os termos do debate,
direcionando o que se fala na sociedade e, consequentemente, o que não se fala
tanto assim. Nesse processo, conforme já assinalado, a base do presidente vai
se tornando cada vez mais radical, à sua imagem e semelhança, ainda que
quantitativamente ela possa se reduzir. Vale dizer que, um dia depois da saída
do ex-juiz da Lava Jato, Bolsonaro já havia reabsorvido uma parte dos seus
apoiadores que, inicialmente, haviam feito postagens criticando o presidente.
Caso esse movimento de reabsorção se confirme, o que parecia à primeira vista
um tiro em seu próprio pé terá servido para consolidar uma base mais radical e
que vê exclusivamente em Bolsonaro a referência política.
Por todas essas características, por vezes,
as ações do presidente parecem irracionais, mas não são. O modus operandi do
bolsonarismo cria ações que rompem a lógica regular da política, dificultando
sua compreensão e, por consequência, o enfrentamento ao governo. Maquiavel, no
século XVI, mostrou ao mundo que a moral do governante é distinta da moral do
homem comum. Recuperando o pensador florentino, Max Weber, no início do século
XX, propõe o princípio da ética da responsabilidade para pensar as ações de
quem está em posição de poder, sendo representante de um Estado ou de um grupo.
Para Weber, a ética da responsabilidade nortearia ações dos governantes, que
avaliariam os resultados e os melhores meios para atingi-los, de forma
desprendida das convicções pessoais e da moralidade privada. O bolsonarismo, a
princípio, subverte as noções de meios e fins, tornando os meios os próprios
fins em si. Dessa forma, o conflito e o caos viram tanto o método de ação
quanto o resultado esperado, num ciclo veloz e constante, que garante a
existência de seu movimento político e sua competitividade eleitoral. Nessa
repetição também é possível vislumbrar uma conclusão derradeira, que seria a
ruptura do Estado democrático de direito e a instalação de um ultraliberalismo
autoritário – este, sim, o fim último do bolsonarismo.
O combate ao bolsonarismo

As ações de Bolsonaro representam hoje uma
grande ameaça ao país, atingindo a democracia, destruindo as instituições por
dentro e flertando com a instalação de um regime de exceção. No atual momento,
suas ações também atingem a saúde pública e colocam vidas em risco, dado que o
boicote do presidente às medidas de isolamento social e às políticas públicas
sanitárias pode gerar um adicional de milhares de mortos em meio à pandemia.
O enfrentamento ao bolsonarismo torna-se,
dessa forma, necessário para qualquer força responsável e democrática do país.
No entanto, esse enfrentamento precisa ser feito de forma estratégica. Do
contrário, qualquer investida só servirá para alimentar a lógica de conflito e
caos, amplificando os ânimos bolsonaristas. Diante da estratégia do conflito e
do caos em movimento, que invariavelmente resulta em conflitos internos, como
mostram os episódios com Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, é preciso
aproveitar as oportunidades e minimizar as margens de ação e movimentação do
bolsonarismo, fragmentando sua base institucional e social e encurralando-o com
outros movimentos rápidos e certeiros. Em outras palavras, é preciso aproveitar
os breves intervalos de vulnerabilidade para enfraquecer o apoio do presidente
e promover uma situação em que Bolsonaro tenha pouca margem de manobra, de modo
que possa ser tirado do poder com poucas ações e em curto espaço de tempo. Para
isso, no plano institucional, independentemente do método adotado –
impeachment, acusação de crime comum, afastamento por incapacidade ou renúncia
–, será preciso encurtar prazos e agir coordenadamente. Mais do que nunca,
faz-se necessária a coordenação política entre as forças democráticas, de forma
mais ampla possível, desde a oposição consolidada até ex-bolsonaristas que
abandonaram – e continuam a abandonar – a tropa do capitão. Já no plano social,
é preciso entender os anseios materiais da base popular bolsonarista para
oferecer diálogo e respostas concretas às demandas de pelo menos parte delas, e
que sejam melhores e mais reais das que o bolsonarismo oferece. Nesse sentido,
atenuar os efeitos devastadores do capitalismo pode ser o melhor remédio para
que não tenhamos mais bolsonaros na vida pública brasileira.

Vinicius do Valle
É doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo e professor da Faculdade Santa Marcelina. É autor
de Entre a religião e o
lulismo: um estudo com pentecostais em São Paulo
, publicado pela
editora Recriar (2019). Vinicius fala sobre essa obra no episódio #19 do
podcast Guilhotina (https://diplomatique.org.br/guilhotina-19-vinicius-valle/).

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Módulo VII_II



Maia defende punição
para ‘criminosos’ que agrediram jornalistas e enfermeiros

Agressões foram
feitas por partidários de Bolsonaro; para Maia, cabe às instituições
democráticas impor a ordem legal
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03/05/2020 - 18:20
 
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
criticou as manifestações e agressões promovidas por partidários do presidente
da República, Jair Bolsonaro, neste domingo (3). Para Maia, o País além de
enfrentar o coronavírus, enfrenta o extremismo político, mas destacou que a
democracia vai vencer esses obstáculos.

“No Brasil, infelizmente, lutamos contra o coronavírus e o vírus do extremismo,
cujo pior efeito é ignorar a ciência e negar a realidade. O caminho será mais
duro, mas a democracia e os brasileiros que querem paz vencerão”, disse.
Najara Araújo/Câmara
dos Deputados



Maia:
"Que a Justiça seja célere para punir esses criminosos”
Na manhã deste domingo, Bolsonaro, mais uma
vez participou de manifestação em frente ao Palácio do Planalto com ataques ao
STF e ao Congresso Nacional. Bolsonaro foi até a rampa acenar para os seus apoiadores,
que se aglomeravam na Praça dos Três Poderes. Mais cedo, jornalistas foram
atacados por apoiadores do presidente, e ontem, enfermeiros que protestavam
pacificamente contra a atuação do governo em relação à pandemia, foram atacados
por bolsonaristas.
“Minha solidariedade aos jornalistas e
profissionais de saúde agredidos. Que a Justiça seja célere para punir esses
criminosos”, disse Rodrigo Maia.
“Ontem [sábado] enfermeiras ameaçadas. Hoje
[domingo] jornalistas agredidos. Amanhã, qualquer um que se opõe à visão de
mundo deles. Cabe às instituições democráticas impor a ordem legal a esse grupo
que confunde fazer política com tocar o terror”, afirmou o presidente da
Câmara.
Reportagem - Luiz
Gustavo Xavier

Edição – Wilson Silveira
Fonte: Agência Câmara de Notícias

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Módulo VII_III


quarta-feira, 06 de maio de 2020 – Boletim Camara
dos Deputados – Brasilia DF
SAÚDE
CIÊNCIA E TECNOLOGIA

 

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Especial
Marx 200 anos




No 200º Aniversário de Nascimento de Karl
Marx




Por Lal Khan dirigente e teórico da organização marxista
do Paquistão “The Struggle” (A Luta)
Publicado na edição Especial da Asian Marxista Review
por ocasião do 200º Aniversário de Nascimento de Karl Marx
5 de maio marca o 200º aniversário do nascimento de Karl
Marx. Este aniversário é comemorado em um momento em que suas previsões e
perspectivas estão sendo confirmadas pelos eventos em erupção em todo o mundo.
É um paradoxo histórico que ocorreu desde o colapso da União Soviética, a
degeneração capitalista da revolução chinesa e a queda do muro de Berlim na
esfera da economia global serviram para sublinhar a presciência de Marx; a
veracidade de sua convicção de que o capitalismo carrega consigo as sementes de
sua própria destruição foi reconhecida até mesmo por alguns dos que estão
aborrecidos com suas ideias.
A implacável crise do capitalismo impulsionou mais uma
vez a relevância das ideias de Marx e sua estratégia de lutar pela emancipação
da humanidade no centro das atenções da política mundial. O número de artigos
sendo escritos, suas obras sendo republicadas e as discussões em torno de suas
ideias entre a “intelligentsia” e a mídia na época do segundo centenário de seu
nascimento são sem precedentes nos últimos tempos. Estes talvez sejam mais
amplamente conversados ​​do que até mesmo durante a chamada existência do
“bloco socialista”.
Marx, ao contrário da maioria dos críticos do século XIX
do capitalismo industrial, era um verdadeiro revolucionário. Sua vida e obra
foram dedicados à revolução socialista e à emancipação da humanidade das
cadeias da labuta capitalista e da coerção social. Marx e Engels capturaram
isso brilhantemente em “O Manifesto Comunista”. Após sua morte, as revoluções
comunistas que ocorreram, além da revolução bolchevique de 1917, estavam de
acordo com os princípios e a metodologia de Marx. No entanto, estes estavam em
seu nome. Em meados do século XX, mais de um terço das pessoas no mundo vivia
sob regimes que se diziam marxistas, socialistas ou comunistas. Alguns dos
ativistas e líderes nessas revoluções, talvez erroneamente, mas sinceramente se
consideravam marxistas. É cínico culpar Marx pelo modo distorcido como essas
revoluções tomaram forma e seus resultados, às vezes estados totalitários
perversos, no século XX.
Marx escreveu em sua famosa décima primeira tese sobre
Feuerbach: “Os filósofos até agora só interpretaram o mundo de várias maneiras;
agora trata-se de transformá-lo.” Marx não estava tornando a filosofia
irrelevante, mas explicou que as contradições filosóficas surgem das condições
materiais de vida. Isso só poderia ser resolvido alterando radicalmente essas
condições. As ideias de Marx foram e estão sendo usadas nos esforços para
recriar o mundo e acabar com a miséria, a alienação, as devastações e a tirania
infligidas pelo capitalismo obsoleto e podre.
Em 14 de março de 1883, Marx morreu aos sessenta e
quatro anos. Marx permaneceu obscuro do horizonte mundial mais amplo durante
sua vida. Havia apenas onze pessoas presentes em seu funeral. Além de seu amigo
leal e camarada por toda vida, Friedrich Engels, poucos teriam imaginado quão
influente ele se tornaria para as gerações vindouras. No funeral, o discurso de
Engels resumiu a vida e a obra de Marx e seus impactos no futuro da luta pela
libertação da humanidade.
Engels solenemente falou: “Marx era antes de tudo um
revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de uma forma ou
de outra, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições do
Estado que ela havia criado, para contribuir para a libertação do proletariado
moderno, que foi o primeiro a se conscientizar de sua própria posição e suas
necessidades, consciente das condições de sua emancipação, o combate era seu
elemento e lutava com paixão, tenacidade e sucesso, como poucos rivalizavam. Ele
escreveu e militou em organizações em Paris, Bruxelas e Londres e, finalmente,
coroando tudo, a formação da grande Associação Internacional dos Trabalhadores
– esta foi uma conquista da qual seu fundador poderia ter ficado orgulhoso,
mesmo que não tivesse feito nada. E, consequentemente, Marx era o homem mais
odiado e caluniado de seu tempo, os governos, tanto absolutistas quanto
republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses conservadores ou
ultrademocráticos, disputavam quem mais o caluniaria. Tudo isso ele afastou
como se fosse uma teia de aranha, ignorando-a, respondendo apenas quando a
necessidade extrema o obrigava. E morreu amado, reverenciado e com lamento por
milhões de trabalhadores e revolucionários … e ouso dizer que, embora teve muitos
oponentes, não teve um só um inimigo pessoal. Seu nome e sua obra atravessará
os séculos. “
Vinte e oito anos depois, um marxista russo, Vladimir
Ilyich Lenin, um dos principais oradores de outro funeral, o da filha de Marx,
Laura e seu marido Paul Lafarge em 1911 na cidade de Paris, declarou que “as
ideias do pai de Laura seriam triunfantemente realizadas, mais cedo do que
imaginamos”.
É também um fato indubitável que sem a vitoriosa
Revolução Bolchevique de 1917 na Rússia, Marx provavelmente teria permanecido
na obscuridade como muitos outros filósofos, sociólogos, economistas e teóricos
políticos do século XIX. A Revolução Russa foi o maior evento do século XX,
fato que o levou ao centro do planeta, impulsionando Marx e suas ideias e seus
esforços para organizar o proletariado internacional no cenário mundial e
forçando os burgueses a levarem suas ideias a sério. Depois de 1917, o
comunismo não era mais uma fantasia utópica. Mesmo depois do colapso da União
Soviética e da queda do Muro de Berlim, os subsequentes reveses políticos entre
a parcela mais consciente do proletariado foram agora postos de lado.
Ironicamente, no período recente, mesmo economistas burgueses, acadêmicos e
teóricos reconhecem a validade das ideias de Marx, particularmente no que diz
respeito à decadência e crise de excedente de capacidade produtiva,
superprodução, queda na taxa de lucro e decadência geral do capitalismo. Não há
dúvida de que a influência de Marx está novamente em ascensão com a iminente
crise do capitalismo mundial. Em uma pesquisa realizada pela BBC na virada do
século XX, Marx foi eleito como a personalidade mais influente do último
milênio.
Marx nasceu em 1815 na pequena cidade alemã de Trier.
Seu pai queria que ele se tornasse advogado, mas ele escolheu estudar
filosofia. Ele estudou na Friedrich-Wilhelms-Universität, em Berlim, onde Hegel
já havia ensinado. Ele se juntou a um grupo de intelectuais conhecidos como os
“jovens hegelianos”, mas logo desenvolveu diferenças com aspectos cruciais da
filosofia hegeliana. Marx e Engels escreveram uma polêmica contra a política
estagnada e sectária de seus ex-associados entre os jovens hegelianos
intitulada A Sagrada Família ou Crítica da Crítica Crítica. A ironia no título
implica, uma crítica impiedosa daqueles jovens hegelianos que ficaram presos na
lama da “crítica” escolástica, divorciada das realidades da vida.
Marx estava apaixonado e ficou noivo de Jenny von
Westphalia, também de Trier. Ele tinha dezoito anos e ela vinte e dois. Esse
namoro durou sete anos. Jenny era excepcionalmente bonita e dedicada a ele.
Marx escreveu muitas poesias amorosas e apaixonadas para ela. Em sua vida
pessoal, Marx era modesto e gentil. Ele era brincalhão, alegre e carinhoso
quando não marcado pela doença. Muitas vezes inventava histórias para suas três
filhas e gostava de charutos baratos e vinho tinto. Sua esposa e filhas o
adoravam. Um espião do governo prussiano que visitou Marx em sua casa em 1852
ficou surpreso ao encontrá-lo “o homem gentil e simpático”.
Marx era um escritor apaixonado e prolífico. Ele
escrevia por toda noite em nuvens de fumaça de charutos, livros e papéis
empilhados em volta dele. Marx e Engels escreveram sobre tantos assuntos e
detalhes que estão espalhados em 54 grandes volumes compilados até agora. E
alguns ainda podem estar faltando nessas coletâneas. Quando se tratava de
questões de princípios ideológicos, ele era intransigente. Era um orador
persuasivo, mas tinha um pequeno defeito nas pronuncias de algumas palavras,
portanto, sua oratória não era tão fluente e raramente discursava para
multidões. Devido ao seu compromisso e persistência em princípios ideológicos,
Marx fez muitos inimigos até mesmo de seus antigos amigos e aliados com seu
estilo de escrita implacável e sincera. Ainda assim, ele mantinha o respeito.
Quando Marx tinha apenas vinte e oito anos, um colega o descreveu como “um
líder nato do povo”. Ele era um editor meticuloso e a principal figura da
Associação Internacional de Trabalhadores, conhecida como a Primeira
Internacional.
Além de alguns pequenos adiantamentos na publicação dos
livros, o jornalismo era a única fonte de renda obtida por Marx. Embora a
maioria de seus escritos estivessem na Europa, seus artigos sobre o
subcontinente indiano talvez sejam as melhores análises dos eventos que ocorreram
no subcontinente do sul da Ásia na época. Marx editou e contribuiu para jornais
políticos na Europa, de 1852 a 1862 foi colunista do New York Daily Tribune, o
maior jornal de circulação do mundo na época. Foi durante esse período que Marx
escreveu alguns dos melhores escritos sobre a colonização britânica da Índia e
a Grande Revolta de 1857. Marx tinha um grande interesse nos desenvolvimentos
da situação na Índia, na China e escreveu vários artigos sobre a ebulição das
lutas ocorridas na Índia, tanto durante a Grande Revolta de 1857 quanto no
período que antecedente. Nesses artigos, Marx analisou a conquista e a
subjugação da Índia e delineou diferentes formas e métodos de domínio e
exploração colonial britânicos. Segundo Marx, a Companhia das Índias Orientais
era uma ferramenta de conquista e enfatizava que os britânicos confiscaram
territórios indígenas aproveitando a disputa feudal entre príncipes locais e
abalando antagonismos raciais, religiosos, tribais e de castas entre o povo.
Em um artigo escrito em 22 de julho de 1853 para o New
York Daily Tribune, Marx escreveu: “O supremo poder do Grande Mogul foi
quebrado pelos Mogul Viceroys. Os mahrattas quebraram o poder dos Mughals. Os
afegãos quebraram o poder dos mahrattas e, enquanto todos lutavam contra todos,
os britânicos invadiam e logravam subjugar a todos. Um país não só dividido
entre maometanos e hindus, mas entre tribos e tribos, entre castas e castas;
uma sociedade cuja estrutura foi baseada em uma espécie de equilíbrio,
resultante de uma repulsa geral e exclusão constitucional entre todos os seus
membros. Tal país e tal sociedade, não eram a presa predestinada da conquista?
Se não soubéssemos nada da história passada do Hindustão, não haveria um grande
e incontestável fato de que, até agora, a Índia é mantida em escravidão inglesa
por um exército indiano mantido à custa da Índia?
Em outro artigo no New York Daily Tribune, Marx
escreveu: “Qualquer que seja a burguesia inglesa forçada a fazer, não
emancipará nem consertará materialmente a condição social da massa do povo. Os
hindus não colherão os frutos dos novos elementos da sociedade espalhados entre
eles pela burguesia britânica, até que na própria Grã-Bretanha as atuais
classes dominantes serem suplantadas pelo proletariado industrial, ou até que
os próprios hindus se tornem fortes o suficiente para derrotar o jugo inglês
completamente. “
Os hindus lutaram uma vez com uma revolta no exército
indiano que se espalhou rapidamente pelo país. Os britânicos chamaram de motim
e levante isolado, mas, para Marx, chamara isso de “nada menos do que uma
insurreição”, que era apenas parte de uma luta de libertação geral
anti-colonial das nações oprimidas que se desenrolou na década de 1850 em quase
toda a Ásia. Marx foi o primeiro a refutar a mentira de que a Grande Revolta de
1857 foi um mero motim dos soldados e que não havia envolvimento de setores
mais amplos da sociedade.
Marx continuou dizendo que a revolta reuniu religiões e
comunidades. “Muçulmanos e hindus renunciando a suas antipatias mútuas combinaram-se
contra seus inimigos comuns; que os distúrbios que começaram com os hindus
terminaram de fato ao colocar no trono de Délhi um imperador maometano; que o
motim não se limitou a algumas localidades. Uma das frases mais célebres de
Marx que resumem as perspectivas do colonialismo britânico foi: “é uma regra
histórica que o instrumento de opressão seja forjado não pelos opressores, mas
pelos próprios oprimido.”
O trabalho jornalístico de Marx no New York Daily
Tribune lhe proporcionou alguma renda regular, mas isso logo secou, ele estava
falido. Engels o apoiou financeiramente nas mais difíceis ocasiões. A maior
parte de sua vida, Marx viveu em privação e pobreza. O autor de “Capital” era
financeiramente sempre sem capital para suas necessidades básicas e para poder
continuar a escrever. Apesar de pertencer a uma família abastada, Marx aceitava
a pobreza como o preço de sua ideologia e luta política. Ele ficaria feliz em
morar numa favela, mas não queria que sua família sofresse. Três dos seus
filhos morreram jovens e um quarto nasceu morto devido à pobreza e
precaríssimas condições de vida.
As ideias revolucionárias e a luta de Marx fizeram dele
um eterno exilado. Em 1843, foi expulso de Colônia por seus escritos
“subversivos” em um jornal chamado Rheinische Zeitung. Marx fugiu para Paris,
onde sua camaradagem e amizade pessoal com Fredrick Engels floresceram. Em
1845, Marx foi expulso da França e teve que se mudar para Bruxelas.
Em 1848, surgiram revoluções em toda a Europa. Marx e
Engels escreveram “O Manifesto Comunista”, o documento icônico que ataravessou
épocas e gerações e ainda é a análise mais moderna do sistema e da sociedade.
Em uma introdução à sua nova edição, republicada em 26 de abril deste ano em
Londres, Yanis Varoufakis, o ex-ministro das Finanças da Grécia, descreveu este
documento icônico, “Para um manifesto ter sucesso, ele deve falar aos nossos
corações como um poema que contagia a mente, com imagens e ideias que são
deslumbrantemente novas. Ele precisa abrir nossos olhos para as verdadeiras
causas das mudanças imprevisíveis, perturbadoras e excitantes que ocorrem a
nossa volta, expondo as possibilidades com as quais nossa realidade atual está
grávida. Deve nos fazer sentir desesperadamente inadequados por não termos
reconhecido essas verdades por nós mesmos e isso deve levantar a cortina sobre
a inquietante compreensão de que temos agido como cúmplices insignificantes,
reproduzindo um passado sem saída. Por fim, precisa ter o poder de uma sinfonia
de Beethoven, instando-nos a nos tornar agentes de um futuro que acabe com o
desnecessário sofrimento em massa e que inspire a humanidade a realizar seu
potencial de liberdade autêntica.”
Naqueles eventos tempestuosos de 1848, quando o
movimento chegou a Bruxelas, Marx foi acusado de apoiar insurgentes e foi
expulso da Bélgica. Ele voltou para Paris. No entanto, na derrota das
revoluções de 1848, Marx comentou: “a primeira vez como tragédia, a segunda
como farsa”. A “tragédia” foi o destino da Revolução Francesa sob Napoleão e a
“farsa” foi a “eleição” do sobrinho de Napoleão, Louis-Napoleon Bonaparte em
dezembro de 1848, à Presidência da França que Marx considerou como
mediocridade. Em 1849, Marx foi forçado ao exílio mais uma vez. Ele fugiu com
sua família para Londres e viveu lá pelo resto de sua vida. Na Sala de Leitura
do Museu Britânico, ele fez a pesquisa para “Capital” e seu túmulo está no
cemitério de Highgate.
Durante a vida de Marx, a Comuna de Paris de 1871 foi a
única revolução proletária bem sucedida quando os trabalhadores tomaram o poder
na França. Foi o primeiro estado dos trabalhadores na história da humanidade.
No entanto, foi derrotado e encharcado de sangue após apenas setenta dias de
domínio proletário. As elites da Alemanha e da França, os inimigos por milênios
de repente perderam suas diferenças e uniram forças para esmagar a revolução.
Isso resultou no declínio do movimento de trabalhadores
internacionalmente. Marx foi novamente confrontado com uma árdua situação
política e objetiva. Mas a crença firme de Marx no futuro socialista da
humanidade nunca envelheceu ou vacilou. Ele permaneceu comprometido e otimista
da vitória do comunismo revolucionário até sua morte em 1883. Shakespeare era
um dos poetas favoritos de Marx. Em sua lendária peça Hamlet, o diálogo de
Shakespeare resume a vida e a luta de Marx em muitos aspectos: “Devo me
conformar à ordem vigente, sofrendo as fundas e flechas da ultrajante fortuna
que as forças irresistíveis da história me concederam? Ou devo unir-me a essas
forças, pegando em armas contra o status quo e, opondo-se a ele, introduzindo
um admirável mundo novo?”
Marx ousou lutar contra todas as probabilidades e mudar
o curso da história. Suas ideias são ainda mais relevantes para os
revolucionários em todo o planeta para realizar essa tarefa histórica de
emancipação da raça humana.
Marcado como:

200 ANOS / ANIVERSÁRIO / KARL MARX / MARX 200



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