NP 390 de 15 a 21/05/2020
Dia 20/05/2020 - Chamada para a transmissão 390
Programa 390 - Semana de 15 a 21/05/2020 –21ª Edição do ano Fonte-Ricardo Cravo Albin
Notícias Petroleiras e outras, estes são os nossos módulos. |
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Vinheta |
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21/05/2020 http://twitter.com/profivanluiz https://www.facebook.com/profile.php?i Ivan Luiz Jornalista – Reg. CPJ 38.690 - RJ –1977. |
Módulo I 10 razões para não ter saudades da ditadura |
Módulo II |
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Módulo III |
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Módulo IV Lutas e Revoluções na América Latina Séculos XIX, XX e XXI - |
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Módulo V - Homenageados na cultura
brasileira, destaque para |
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Módulo VI Relação completa dos aniversariantes de 15 a 21/05 |
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Módulo VII |
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Módulo VII_I |
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Módulo VII_III Carta de Paris: Sartre e a luta armada no Brasil |
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Urgente Nova Zelândia propõe semana de 4 dias |
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Homenagem Especial para: .......... |
EDITORIAL: Relevante: Getúlio Vargas
Nasceu em 19 de abril de 1882, no interior do Rio Grande do Sul, no município de São Borja (fronteira com a Argentina), filho de Manuel do Nascimento Vargas
e de Cândida Francisca Dornelles Vargas. Na juventude, alterou alguns
documentos, para fazer constar o ano de nascimento como 1883.
Este fato somente foi descoberto nas comemorações do centenário
de nascimento, quando, verificando-se os livros de registros de batismos da Paróquia de São Francisco de Borja,
descobriu-se que Getúlio nasceu em 1882, constando no seu assento de batismo.[nota 3]
A Revista do Globo, que fez uma série de
entrevistas com Getúlio, em 1950, antes da campanha eleitoral, contou que
Getúlio corrigiu os repórteres dizendo que nasceu em 1883.[8]
Getúlio Vargas provém de uma família de estancieiros[9] da zona rural da fronteira com a Argentina.
Os Vargas são originários do Arquipélago dos Açores.[10] Uma genealogia detalhada de
Getúlio Vargas foi escrita pelo genealogista Aurélio Porto, Getúlio
Vargas à luz da Genealogia, publicada pelo Instituto Genealógico Brasileiro
em 1943.[11]
Na era Vargas
foram criados
- Em
20 de junho de 1952, pela lei nº 1.628,[58] o BNDE, atual BNDES.
- Em
19 de julho de 1952, pela lei nº 1.649,[59] o Banco do Nordeste.
- Pela
lei nº 1.779,[60] de 22 de dezembro de
1952, o Instituto
Brasileiro do Café (IBC), extinto em 1990.
- Em
1953, a PETROBRAS, no
aniversário da Revolução de 1930, 3 de outubro, pela citada lei nº 2.004.
- Em
29 de dezembro de 1953, a lei nº 2.145,[61] criou a CACEX, Carteira de Comércio Exterior
do Banco do Brasil.
- Em
11 de janeiro de 1954, foi criado o seguro agrário, pela lei nº 2.168,[62] não revogada até hoje.
Getúlio
sancionou a lei nº 2.252,[63] de 1 de julho de 1954, que
dispunha sobre a corrupção de menores,
esta lei vigorou até 2.009, revogada pela lei nº 12.015.[64]
Em
1951, Getúlio enfrenta, pela segunda vez, uma grande seca no Nordeste do Brasil (a
primeira fora em 1932). Getúlio diz na Mensagem ao Congresso Nacional,
referente a 1951, que, nesse ano, dobrou o número de migrantes do Nordeste do
Brasil e do norte de Minas Gerais para São Paulo. Em 1950 foram 100.123, e, em
1951, 208.515 migrantes para São Paulo.
Houve
uma grande mobilização nacional conhecida como a campanha "O petróleo é nosso"
em torno da criação da PETROBRAS.
Getúlio
tentou, mas não conseguiu, criar a Eletrobrás, que só seria criada em 1961.
Em
1954, entrou em operação a Usina
Hidrelétrica de Paulo Afonso I.
Foi
iniciada a construção da Rodovia Fernão Dias ligando
São Paulo a Belo Horizonte, e que seria concluída por Juscelino Kubitschek.
Foi assinado, em março de 1952, um acordo de cooperação e ajuda
militar entre o Brasil e os Estados Unidos. Este acordo vigorou de 1953 até
1977, quando o presidente Ernesto Geisel denunciou o mesmo.
Houve uma série de acusações de corrupção a membros do governo e
pessoas próximas a Getúlio, o que levou Getúlio a dizer que estava sentado em
um "mar de lama".
O caso mais grave de corrupção, que jogou grande parte da opinião
pública contra Getúlio, foi a comissão
parlamentar de inquérito (CPI) do jornal Última Hora, de propriedade de Samuel Wainer. Samuel Wainer era acusado por
Carlos Lacerda e outros de receber dinheiro do Banco do Brasil para apoiar Getúlio.
O jornal Última Hora era praticamente o único
órgão de imprensa a apoiar Getúlio.
Destaque para Módulo I 10 razões para não ter saudades da ditadura - Topo
Publicado por DellaCella Souza
Advogados
há 6 anos
Temas
Tortura
e ausência de
direitos humanos
Censura
e ataque à
imprensa
Amazônia
e índios sob
risco
Baixa
representação política e
sindical
Saúde pública
fragilizada
Linha
dura na
educação
Corrupção
e falta de
transparência
Nordeste
mais pobre e
migração
Desigualdade: o bolo cresceu mas não foi
dividido
Precarização do
trabalho
T
opo
1.
Tortura
e ausência de
direitos humanos
As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura. Pensar em direitos humanos era apenas um sonho. Havia até um manual de como os militares deveriam torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos. Os
direitos humanos não prosperavam, já que tudo ocorria nos porões das unidades do Exército.
"As restrições às liberdades e à participação política reduziram a capacidade cidadã de atuar na esfera pública e empobreceram a circulação de ideias no país", diz o diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque.
Sem os direitos humanos, as torturas contra os opositores ao regime prosperaram. Até hoje a Comissão Nacional de Verdade busca dados e números exatos de vítimas do regime.
"Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade -tortura, estupro, assassinato, desaparecimento- que vitimaram opositores do regime e implantaram um clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do regime militar", afirma.
Para Roque, o Brasil ainda convive com um legado de "violência e impunidade" deixado pela militarização. "Isso persiste em algumas esferas do Estado, muito especialmente nos campos da justiça e da segurança pública, onde tortura e execuções ainda fazem parte dos problemas graves que enfrentamos", complementa.
2.
Censura e ataque à imprensa
Uma das marcas mais conhecidas da ditadura foi a censura. Ela atingiu a produção artística e controlou com pulso firme a imprensa.
Os militares criaram o "Conselho Superior de Censura", que fiscalizava e enviava ao Tribunal da Censura os jornalistas e meios de comunicação que burlassem as regras. Os que não seguissem as regras e ousassem fazer críticas ao país, sofriam retaliação -cunhou-se até o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o."
Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período. "Numa visita do presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de colocar as manchetes no jornalismo da TV: 'Geisel chega a Maceió; Ratos invadem a Pajuçara'. Telefonaram da polícia para o Pedro Collor [então diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos ratos", conta o jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram visitadas quase que diariamente por policiais federais.
Para
cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa. Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão para os profissionais.
A lei só foi revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009.
Muitos jornalistas sofreram processos com base na lei mesmo após a redemocratização. "Fui processado em 1999 porque publiquei declaração de Fulano contra Beltrano. A Lei de Imprensa da Ditadura permitia isso: punir o mensageiro, que é o jornalista", conta o jornalista e blogueiro do UOL, Mário Magalhães.
3.
Amazônia
e índios sob risco
No
governo militar, teve início um processo amplo de devastação da Amazônia. O general Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso "integrar para não entregar" a Amazônia. A partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram.
"Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os moradores das grandes cidades", diz a jornalista paraense e pesquisadora do tema, Helena Palmquist.
A ideia dos militares era que Amazônia era "terra sem homens", e deveria ser ocupada por "homens sem terra do Nordeste." Obras como as usinas hidrelétricas de Tucuruí e Balbina também não tiveram impactos ambientais ou sociais previamente analisados, nem houve compensação aos moradores que deixaram as áreas alagadas. Até hoje, milhares que saíram para dar lugar às usinas não foram indenizados.
A luta pela terra foi sangrenta. "Os Panarás, conhecidos como índios gigantes, perderam dois terços de sua população com a construção da BR-163 -que liga Cuiabá a Santarém (PA). Dois mil Waimiri-Atroaris, do Amazonas, foram assassinados e desaparecidos pelo regime militar para as obras da BR-174. Nove aldeias desse povo desapareceram e há relatos de que pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército", afirma.
4.
Baixa
representação política e sindical
Um dos primeiros direitos outorgados aos militares na ditadura foi a possibilidade do governo suspender os direitos políticos do cidadão. Em outubro de 1965, o Ato Institucional número 2 acabou
com o multi-partidarismo e autorizou a existência de apenas dois: a Arena, dos governistas, e o MDB, da oposição.
O
problema é que existiam diversas siglas, que tiveram de ser aglutinadas em um único bloco, o que fragilizou a oposição. "Foi uma camisa-de-força que inibiu, proibiu e dificultou a expressão político-partidária. A oposição ficou muito mal acomodada, e as forças tiveram que conviver com grandes contradições", diz o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, Michael Zaidan.
As representações sindicais também foram duramente atingidas por serem controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho. Isso gerou um enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão.
"Existiam
as leis trabalhistas, mas para que elas sejam cumpridas, com os reajustes, é absolutamente necessário que os sindicatos judicializem, intervenham para que os patrões respeitem. Essas liberdades foram reprimidas à época. Os sindicatos eram compostos mais por agentes do governo que trabalhadores", lembra Zaidan.
Folhapress
5.
Saúde
pública
fragilizada
Se a saúde pública hoje está longe do ideal, ela ainda era mais restrita no regime militar. O INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais.
"A
imensa maioria da população não tinha acesso", conta o cardiologista e sindicalista Mário Fernando Lins, que atuou na época da ditadura. Surgiu então a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas.
"Somente
após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a uma parcela de 80% da população", diz Lins.
Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas localidades. "As doenças infectocontagiosas, como tuberculose, eram fonte de constante preocupação dos médicos", afirma Lins.
Segundo
estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), "entre 1965/1970 reduz-se significativamente a velocidade da queda [da mortalidade infantil], refletindo, por certo, a crise social econômica vivenciada pelo país".
6.
Linha
dura na
educação
A educação brasileira passou por mudanças intensas na ditadura. "O grande problema foi o controle sobre informações e ideologia, com o engessamento do currículo e da pressão sobre o cotidiano da sala de aula", sintetiza o historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Sávio Almeida.
As disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas pela de OSPB (Organização Social e Política Brasileira, caracterizada pela transmissão da ideologia do regime autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo dos alunos e, segundo especialistas, privilegiando o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise) e Educação, Moral e Cívica. Ao mesmo tempo, com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram.
Na área de alfabetização, a grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização), uma resposta do regime militar ao método elaborado pelo educador Paulo Freire, que ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi considerado "subversivo" pelo governo e exilado. Segundo o estudo "Mapa do Analfabetismo no Brasil", do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral foi um "retumbante fracasso."
Os problemas também chegaram às universidades, com o afastamento delas dos centros urbanos e a introdução do sistema de crédito. "A intenção do regime era evitar aglomeração perto do centro, enquanto o sistema de crédito foi criado para dispersar os alunos e não criar grupos", diz o historiador e vice-reitor do Fejal (Fundação Educacional Jayme de Altavila), Douglas Apratto.
Roberto
Stuckert/Folha Imagem
7.
Corrupção
e falta de transparência
No período da ditadura, era praticamente impossível imaginar a sociedade civil organizada atuando para controlar gastos ou denunciando corrupção. Não havia conselhos fiscalizatórios e, com a dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram analisadas, nem havia publicidade dos gastos públicos, como é hoje obrigatório.
"O
maior antídoto da corrupção é a transparência. Durante a ditadura, tivemos o oposto disso. Os desvios foram muitos, mas acobertados pela força das baionetas", afirma o juiz e um dos autores da Lei da Ficha Limpa, Márlon Reis.
Reis
afirma que, ao contrário dos anos de chumbo, hoje existem órgãos fiscalizatórios, imprensa e oposição livres e maior publicidade dos casos. "Estamos muito melhor agora, pois podemos reagir", diz.
Outro ponto sempre questionado no período de ditadura foram os recursos investidos em obras de grande porte, cujos gastos eram mantidos em sigilo.
"Obras faraônicas como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço, por exemplo, foram realizadas sem qualquer possibilidade de controle. Nunca saberemos o montante desviado" , disse Reis. "Durante a ditadura, a corrupção não foi uma política de governo, mas de Estado, uma vez que seu principal escopo foi a defesa de interesses econômicos de grupos particulares."
8.
Nordeste
mais pobre e
migração
A
consolidação do Nordeste como região mais pobre do país teve grande participação do governo do militares. "Nenhuma região mudou tanto a economia como o Nordeste", diz o doutor em economia regional Cícero Péricles Carvalho, professor da Universidade Federal de Alagoas.
Com
as políticas adotadas, a região teve um crescimento da pobreza. "Terminada a ditadura, o Nordeste mantinha os piores indicadores nacionais de índices de esperança de vida ao nascer, mortalidade infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres no Nordeste aumentou de 19,4 milhões para 23,7 milhões, e sua participação no total de pobres do país subiu de 43% para 53%", afirma Péricles
O
crescimento urbano registrado teve como efeito colateral a migração desregulada. "O modelo agroindustrial reduziu as atividades agropecuárias, que eram determinantes na riqueza regional, com 41% do PIB, para apenas 14% do total em 1990", diz Péricles.
Enquanto o campo era relegado, as atividades urbanas saltaram, na área industrial, de 12% para 28% e, na área do comércio e serviços, de 47% para 58%.
"A migração gerou mais pobreza nas cidades, sem diminuir a miséria no campo. A população do campo reduziu-se a um terço entre 1960 e 1990", acrescenta Péricles.
9.
Desigualdade
: bolo cresceu, mas não foi
dividido
"É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". A frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto é, até hoje, uma das mais lembradas do regime militar. Mas o tempo mostrou que o bolo cresceu, sim, ficou conhecido como "milagre brasileiro", mas poucos comeram fatias dele.
A distribuição de renda entre os estratos sociais ficou mais polarizada durante o regime: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois.
Assim, na ditadura houve um aumento das desigualdades sociais. "Isso levou o país ao topo desse ranking mundial", diz o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles.
Entre 1968 e 1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano. Mas, em contrapartida, o salário mínimo -que vinha recuperando o poder de compra nos anos 1960- perdeu com o golpe. "Em 1974, em pleno 'milagre', o poder de compra dele representava a metade do que era em 1960", acrescenta Péricles.
"As altas taxas de crescimento significavam mais oportunidades de lucros altos, renda e crédito para consumo de bens duráveis; para os mais pobres, assalariados ou informais, restava a manutenção de sua pobreza anterior", explica o economista.
Divulgação
/ Pequi Filmes
10.
Precarização
do
trabalho
Apesar de viver o "milagre brasileiro", a ditadura trouxe defasagem aos salários dos trabalhadores. "Nossa última ditadura cívico-militar foi, em certo ponto, economicamente exitosa porque permitiu a asfixia ao trabalho e, por consequência, a taxa salarial média", diz o doutor em ciências sociais e blogueiro do UOL, Leonardo Sakamoto.
Na
época da ditadura, a lei de greve, criada em 1964, sujeitava as paralisações de trabalhadores à intervenção do Poder Executivo e do Ministério Público. "Ir a Justiça do Trabalho para reclamar direitos era possível, mas pouco usual e os pedidos eram minguados", explica Sakamoto.
"Nada é tão atrativo ao capital do que a possibilidade de exercício de um poder monolítico, sem questionamentos", diz Sakamoto, que cita a asfixia dos sindicatos, a falta de liberdade de imprensa e política foram "tão atraentes a investidores que isso transformou a ditadura brasileira e o atual regime político e econômico chinês em registros históricos de como crescimento econômico acelerado e a violência institucional podem caminhar lado a lado".
Topo
Temas
Tortura
e ausência de
direitos humanos
Censura
e ataque à
imprensa
Amazônia
e índios sob
risco
Baixa
representação política e
sindical
Saúde pública
fragilizada
Linha
dura na
educação
Corrupção
e falta de
transparência
Nordeste
mais pobre e
migração
Desigualdade: o bolo cresceu mas não foi
dividido
Precarização do
trabalho
A soberania alimentar será camponesa ou não será
Diante da crise sanitária, coletivo de associações francesas assina
manifesto pela proteção e pelo reconhecimento da agricultura familiar e
camponesa como atividade de interesse público, e contra a ditadura econômica dos
mercados imposta pela agroindústria (Grifo é nosso)
Por Vários autores* - 15/05/2020 12:26
Créditos da foto: (Reprodução)
A INFORMAÇÃO NÃO É MERCADORIA, É UM BEM PÚBLICO.
Durante
a crise sanitária que atravessamos, ouvimos muito falar de soberania alimentar.
Mas do que se trata realmente e como construí-la? Essa expressão é bastante
usada de maneira vazia por antigos ou atuais atores políticos que nunca fizeram
nada concreto para que ela fosse alcançada. Até a indústria agro-alimentar e os
gigantes do varejo dizem defendê-la. Mas como esperar que contribuam para
concretizá-la quando sempre priorizaram os mercados globalizados, a competição
entre os pequenos produtores, as exportações descontroladas de produtos de
baixo custo, a fragilização das agriculturas locais...? Esses atores estão
entre os responsáveis por nossa dependência e dificuldades atuais e, para eles,
a soberania alimentar é, antes de tudo, a promessa de um novo mercado a
conquistar.
Para nós, a soberania alimentar é muito mais do que uma simples resposta à
necessidade de alimentos (1). Ela é pensada e iniciada coletivamente, com
solidariedade entre os povos, e pode se tornar uma das bases de refundação de
nossa democracia. A soberania alimentar incarna as aspirações, a capacidade e o
direito das populações de um território de decidir sobre sua alimentação e,
portanto, o direito de determinar o sistema alimentar desde os campos até a
mesa, sem causar danos às agriculturas dos outros.
A soberania alimentar é uma democracia de iniciativa que escreve seu próprio
destino alimentar e agrícola, englobando o vínculo com o território, a saúde, o
meio ambiente, o emprego e o clima, com o claro objetivo de servir ao interesse
comum, permitindo que uma alimentação de qualidade seja acessível a todos.
Enfrentamento das crises
alimentares
Para escrever a história de uma verdadeira soberania alimentar e agrícola aqui
e no exterior, acreditamos que é hora de reconhecer o papel central das
agricultoras e dos agricultores. São elas e eles que nos permitirão enfrentar
coletivamente as crises alimentares, climáticas e ecológicas de nossos
territórios e de nosso planeta. Com seu conhecimento, autonomia sobre suas
terras, vínculo com a terra e a natureza, bem como a resiliência de uma
policultura e criações diversificadas, do pastoralismo ou ainda de agro-florestas e sistemas de pastos, elas e eles produzem alimentos saudáveis e
de qualidade, que permitem uma gestão dos ecossistemas do nosso planeta
adaptada à sua diversidade e às transformações do clima.
Além disso, a profissão de agricultor(a) é uma importante resposta à urgência
social. Com muitos camponeses e camponesas instalados em pequenas propriedades,
formam-se novas dinâmicas rurais e uma economia local se organiza na escala de
todo um território. São milhares de empregos no campo de volta, que geram
outros, de qualidade, no processamento agro-alimentar e na distribuição.
Iniciativas coletivas, solidárias e cooperativas são recriadas. Toda uma vida
renasce em países antes negligenciados e esquecidos, com impactos nos serviços
públicos, escolas, hospitais, cultura... Agora é hora de construir o
pós-alimentação!
É por isso que precisamos de bem mais camponesas e camponeses. Queremos um
milhão amanhã, e ainda mais depois de amanhã. Para atingir esse objetivo,
exigimos que sejam tomadas hoje decisões que rompam claramente com a ditadura
econômica dos mercados imposta pela agroindústria, e que reconheçam o valor da
agricultura familiar e camponesa e do ofício de agricultoras e agricultores.
Precisamos de muitos agricultores que dependem de uma lei fundiária que
preserve e distribua a terra; de uma política de fixação massiva; de uma
política agrícola comum baseada em geração de empregos e não em hectares.
Criação de laços duradouros
Camponesas e camponeses devem ser remunerados dignamente, com a regulamentação
dos volumes e dos mercados para garantir preços justos e estáveis, e com a
arbitragem pública das relações comerciais para garantir o direito à
remuneração dos agricultores.
Agricultoras e agricultores devem ser protegidos e reconhecidos, suspendendo-se
imediatamente todos os acordos de livre comércio; todo apoio à industrialização
da agricultura deve ser interrompido, deve ser dado apoio financeiro para a
transição agro ecológica a fazendas autônomas e sustentáveis, e uma política
agrícola e alimentar comum deve ser criada, a fim de criar laços duradouros
entre camponeses e consumidores.
Essa crise deve abrir nossos olhos para a importância do trabalho no campo.
Assim como os trabalhadores da educação e da saúde, camponesas e camponeses
exercem profissões de evidente utilidade pública. Profissões que têm o poder de
estruturar nossa vida coletiva em todos os territórios, e que devem ser a base
sobre a qual construiremos uma sociedade mais social e ecologicamente justa:
uma sociedade nova.
(1) O conceito foi desenvolvido pela Via Campesina e levado ao debate público
por ocasião da Cúpula Mundial da Alimentação, em 1996. Desde sua origem,
apresenta uma alternativa às políticas neoliberais aplicadas ao setor agrícola.
A soberania alimentar designa o direito das populações, seus Estados ou uniões
de definir sua política agrícola e alimentar, sem destruir a de outros países.
*Signatários: Nicolas Girod, porta-voz da Confédération paysanne,
associação Abiosol, Khaled Gaiji, presidente da Friends of
the Earth France, Aurélie Found, porta-voz da Attac France,
Sylvie Bukhari de Pontual, presidente da CCFD-Terre Solidariedade,
Fabrice Bouin, presidente da Civam, Raphaël Bellanger e Virginie
Raynal, copresidentes da FADEAR, Alain Grandjean, presidente
da Fundação Nicolas-Hulot, Benoît Teste, secretário geral da FSU,
Jean-François Julliard, diretor-geral do Greenpeace França, Évelyne
Boulongne, porta-voz da Miramap, Marie Pochon, secretária geral
da Notre Affaire à Tous, Cécile Duflot, diretora-geral da Oxfam
França, Slow food França, Clotilde Bato, delegada geral
da SOL, Michel Vampouille , Presidente da Fédération
nationale terre de liens, Françoise Vernet, Presidente da Terre
& Humanisme, Éric Beynel, porta-voz da Union Syndicale
Solidaires, Arnaud Schwartz, Presidente da France nature
environnement.
**Tradução de Clarisse Meireles
Topo
Jornalista,
escritor e comunicador
Para nós, a soberania alimentar é muito mais do que uma simples resposta à necessidade de alimentos (1). Ela é pensada e iniciada coletivamente, com solidariedade entre os povos, e pode se tornar uma das bases de refundação de nossa democracia. A soberania alimentar incarna as aspirações, a capacidade e o direito das populações de um território de decidir sobre sua alimentação e, portanto, o direito de determinar o sistema alimentar desde os campos até a mesa, sem causar danos às agriculturas dos outros.
A soberania alimentar é uma democracia de iniciativa que escreve seu próprio destino alimentar e agrícola, englobando o vínculo com o território, a saúde, o meio ambiente, o emprego e o clima, com o claro objetivo de servir ao interesse comum, permitindo que uma alimentação de qualidade seja acessível a todos.
Para escrever a história de uma verdadeira soberania alimentar e agrícola aqui e no exterior, acreditamos que é hora de reconhecer o papel central das agricultoras e dos agricultores. São elas e eles que nos permitirão enfrentar coletivamente as crises alimentares, climáticas e ecológicas de nossos territórios e de nosso planeta. Com seu conhecimento, autonomia sobre suas terras, vínculo com a terra e a natureza, bem como a resiliência de uma policultura e criações diversificadas, do pastoralismo ou ainda de agro-florestas e sistemas de pastos, elas e eles produzem alimentos saudáveis e de qualidade, que permitem uma gestão dos ecossistemas do nosso planeta adaptada à sua diversidade e às transformações do clima.
Além disso, a profissão de agricultor(a) é uma importante resposta à urgência social. Com muitos camponeses e camponesas instalados em pequenas propriedades, formam-se novas dinâmicas rurais e uma economia local se organiza na escala de todo um território. São milhares de empregos no campo de volta, que geram outros, de qualidade, no processamento agro-alimentar e na distribuição. Iniciativas coletivas, solidárias e cooperativas são recriadas. Toda uma vida renasce em países antes negligenciados e esquecidos, com impactos nos serviços públicos, escolas, hospitais, cultura... Agora é hora de construir o pós-alimentação!
É por isso que precisamos de bem mais camponesas e camponeses. Queremos um milhão amanhã, e ainda mais depois de amanhã. Para atingir esse objetivo, exigimos que sejam tomadas hoje decisões que rompam claramente com a ditadura econômica dos mercados imposta pela agroindústria, e que reconheçam o valor da agricultura familiar e camponesa e do ofício de agricultoras e agricultores. Precisamos de muitos agricultores que dependem de uma lei fundiária que preserve e distribua a terra; de uma política de fixação massiva; de uma política agrícola comum baseada em geração de empregos e não em hectares.
Camponesas e camponeses devem ser remunerados dignamente, com a regulamentação dos volumes e dos mercados para garantir preços justos e estáveis, e com a arbitragem pública das relações comerciais para garantir o direito à remuneração dos agricultores.
Agricultoras e agricultores devem ser protegidos e reconhecidos, suspendendo-se imediatamente todos os acordos de livre comércio; todo apoio à industrialização da agricultura deve ser interrompido, deve ser dado apoio financeiro para a transição agro ecológica a fazendas autônomas e sustentáveis, e uma política agrícola e alimentar comum deve ser criada, a fim de criar laços duradouros entre camponeses e consumidores.
Essa crise deve abrir nossos olhos para a importância do trabalho no campo. Assim como os trabalhadores da educação e da saúde, camponesas e camponeses exercem profissões de evidente utilidade pública. Profissões que têm o poder de estruturar nossa vida coletiva em todos os territórios, e que devem ser a base sobre a qual construiremos uma sociedade mais social e ecologicamente justa: uma sociedade nova.
(1) O conceito foi desenvolvido pela Via Campesina e levado ao debate público por ocasião da Cúpula Mundial da Alimentação, em 1996. Desde sua origem, apresenta uma alternativa às políticas neoliberais aplicadas ao setor agrícola. A soberania alimentar designa o direito das populações, seus Estados ou uniões de definir sua política agrícola e alimentar, sem destruir a de outros países.
*Signatários: Nicolas Girod, porta-voz da Confédération paysanne, associação Abiosol, Khaled Gaiji, presidente da Friends of the Earth France, Aurélie Found, porta-voz da Attac France, Sylvie Bukhari de Pontual, presidente da CCFD-Terre Solidariedade, Fabrice Bouin, presidente da Civam, Raphaël Bellanger e Virginie Raynal, copresidentes da FADEAR, Alain Grandjean, presidente da Fundação Nicolas-Hulot, Benoît Teste, secretário geral da FSU, Jean-François Julliard, diretor-geral do Greenpeace França, Évelyne Boulongne, porta-voz da Miramap, Marie Pochon, secretária geral da Notre Affaire à Tous, Cécile Duflot, diretora-geral da Oxfam França, Slow food França, Clotilde Bato, delegada geral da SOL, Michel Vampouille , Presidente da Fédération nationale terre de liens, Françoise Vernet, Presidente da Terre & Humanisme, Éric Beynel, porta-voz da Union Syndicale Solidaires, Arnaud Schwartz, Presidente da France nature environnement.
**Tradução de Clarisse Meireles
Depois da Covid-19 o
mundo não será o mesmo. Quem disse?
Vamos continuar vivendo sob o
mesmo sistema econômico, o capitalista. Então, para se mudar alguma coisa, esse
sistema produtor de grandes desigualdades sociais teria que ser repensado. Mas
não vai - 6
de abril de 2020, 09:33 h
Tenho lido e ouvido por aí que
“depois da Covid-19 o mundo não será o mesmo”. Como assim? Tenho cá as minhas
dúvidas.
Pra começar, vamos continuar
vivendo sob o mesmo sistema econômico, o capitalista. Então, para se mudar
alguma coisa, esse sistema produtor de grandes desigualdades sociais teria que
ser repensado. Mas não vai. Os bilionários do mundo vão querer continuar sendo
os bilionários do mundo e, principalmente em países como o Brasil, as poucas
centenas de bilionários continuarão a reter a grande parcela da riqueza
nacional, cabendo à maior parte da população a menor parcela da riqueza, ou
seja, as desigualdades sociais e a grande desigualdade de renda vão continuar.
Os bancos vão continuar
praticando seus juros abusivos, principalmente em cima da população menos
favorecida economicamente e dos pequenos e médios empresários.
Os impostos continuarão altos e
o retorno desses impostos para os investimentos sociais (água, saneamento,
saúde, educação...) continuará do jeito que é hoje.
Por exemplo, e entrando na
minha praia, que é a alimentação, só mudará alguma coisa mesmo se houver, como
tenho dito sempre, investimento maciço no desenvolvimento da agricultura
familiar, com mais crédito e juros mais baixos. Mas duvido que isso aconteça;
ao contrário, os principais investimentos vão continuar indo para o agronegócio
e para a produção de commodities agrícolas, produtos de
exportação.
O alto investimento na produção
e utilização de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos continuará, em
detrimento do investimento na agro-ecologia, que é o desenvolvimento agrícola
ecológico e sustentável e considerada pela FAO (Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura) como” essencial para o futuro da
humanidade, que deve preservar o planeta e ao mesmo tempo garantir alimentos
saudáveis para todos”.
A Nestlé continuará sendo a
maior empresa de alimentos do mundo, e fará de tudo para não perder o posto. E
isso vale também para a Unilever, a Pepsico e outras multinacionais. Ninguém
vai querer perder o seu posto.
Cai o
consumo de arroz e feijão
Uma mudança de paradigma seria
fazer com que as pessoas passassem a ter uma alimentação mais saudável,
cozinhando sua própria comida, comendo mais produtos naturais ou minimamente
processados. Dessa forma se evitaria, por exemplo, o aumento da obesidade, que
já é um problema de saúde pública em países como os Estados Unidos e mesmo no
Brasil.
Olhem só a quantas anda o
problema.
Divulgada na última sexta-feira
(3 de abril), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, mostrou que,
em 15 anos (entre 2003 e 2018) o consumo de arroz e feijão caiu 40% na mesa do
brasileiro, perdendo espaço para comida industrializada, ou seja, os alimentos
ultraprocessados.
(Realizada desde a década de
1970, a POF é um levantamento detalhado em relação aos padrões de consumo dos
brasileiros. Nesta edição o IBGE pesquisou cerca de 58 mil dos 70 milhões de
lares brasileiros, em 1,9 mil cidades.)
A população está comendo menos
cereais, dando preferência a produtos como biscoitos, doces, sorvetes e
refrigerante. O consumo de alimentos preparados industrialmente cresceu 56% em
15 anos.
A boa notícia é que dobramos o
consumo de ovos no período. São mais de 3,3 kg/ano consumo de ovos.
Obesidade
Está mais do que comprovado que
o consumo de alimentos ultraprocessados contribui para o aumento da obesidade.
Segundo o Ministério da Saúde, o país ganha um milhão de novos obesos por ano,
que hoje somam 20% da população.
Não vai
mudar
E esse quadro vai mudar? Me
desculpem, mas não vai não. As multinacionais da alimentação vão continuar
tratando comida como lucro financeiro, vão continuar, por intermédio de
propaganda maciça, tentando mostrar que comer comida industrializada é melhor,
mais prático e mais barato (o que não é verdade) do que fazer sua própria
comida.
E assim segue a vida...
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Fonte: Brasil
247
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Data
Módulo IV - Lutas e revoluções Populares na América Latina nos
séculos XIX, XX e XXI
O anjo torto
As surpresas da toupeira
Marx havia prognosticado que a luta de classes se tornaria
mais aguda nos países
mais avançados dó capitalismo. Ao maior
desenvolvimento econômico corresponderiam classes sociais mais estratificadas,
maiores conflitos entre elas e possibilidades superiores para a esquerda e o socialismo. A Inglaterra, a
França e a Alemanha
seriam então os países com melhores perspectivas para a esquerda. Além do nível superior da luta de
classes, ali se dariam
as condições de desenvolvimento econômico que tornariam possível passar da
riqueza multiplicada, mas concentrada em poucas mãos pelo capitalismo, a' uma sociedade em que todos
viveriam de
seu trabalho, socializando a riqueza e implantando
a justiça social.
Mas as tentativas revolucionárias nos países mais desenvolvidos do
capitalismo revelavam
dificuldades que Marx não suspeitava no seu tempo. Vivendo em melhores
condições do que os trabalhadores das outras regiões do mundo, até mesmo porque
as burguesias de seus países se
enriqueciam brutalmente com a exploração das colônias e distribuíam uma pequena
parte dessa riqueza a alguns estratos dos trabalhadores, diminuindo assim os conflitos de classe, os
trabalhadores da Inglaterra,
da França e da Alemanha se mostraram
menos propensos a romper com
o capitalismo do que os dos países periféricos
desse sistema. Os partidos social-democratas tinham mais força que os comunistas, ao contrário do que
acontecia
nos países da periferia capitalista, onde as condições de exploração eram mais brutais, as perspectivas de
luta legal para a
esquerda eram quase nulas e as possibilidades
da luta insurrecional a via mais possível.
Marx dizia que a revolução era como uma ''velha toupeira", que circula incessantemente por baixo da terra,
sem que se
perceba sua trajetória, até que, de repente,
irrompe bruscamente na superfície. Com isso queria dizer que, apesar de períodos de calmaria, a luta de
classes - considerada
por ele como o "motor da história"
- não se detinha e surpreendia a
muitos, reiteradamente, pelos lugares e formas
que assumia.
A Rússia, na compreensão de Lênin, era um desses elos mais frágeis, justamente porque o Estado
desenvolvia uma exploração mais radical de seu povo, para tentar arrecadar recursos e se
transformar numa
potência imperialista mundial. Porém, isso se fazia calcado na população atrasada e pobre de um país que
tinha apenas
umas poucas regiões industrializadas, cercadas por um imenso cordão de zonas agrícolas
pré-capitalistas.
O Estado russo czarista era ditatorial e já havia sofrido uma séria
derrota militar contra o Japão, no começo do século, na sua tentativa de
avançar sobre a Mandchúria.
Aliado às potências ocidentais
dirigidas pela Inglaterra e França, o czar
russo pretendia disputar o despojo dos
vencedores da guerra, repartindo os domínios
dos vencidos, e por isso entrou na guerra contra o Japão e a
Alemanha.
A participação da Rússia na guerra só piorou
as condições sociais internas do país e gerou uma situação
favorável para a esquerda se lançar à conquista do poder. Significou o
recrutamento para o exército de milhões de camponeses, até ali
dispersos, incultos, desinformados e despolitizados, junto a
operários em processo de mobilização e organização política, colocando-se armas
nas suas mãos.
A intensa propaganda do partido comunista russo - chamado partido
bolchevique, por propor um programa de grandes transformações
anticapitalistas, ao contrário do partido social-democrata, chamado
de menchevique, favorável a transformações de menor alcance, dentro do
capitalismo - politizou os camponeses, forjando a aliança com os operários, sob o lema "Paz, pão e terra". O termo "Paz" significava a
retirada russa do conflito, no qual o povo não tinha nenhum interesse e os
trabalhadores russos lutavam contra os trabalhadores de outros países.
"Pão" era a forma de designar a necessidade de saciar a fome da
população, que havia piorado ainda mais com a prioridade dada pelo Estado
russo aos gastos bélicos. E "Terra" simbolizava uma maneira de
dar aos milhões de camponeses o direito de produzirem os alimentos para matar
a fome do povo russo.
A péssima performance do mal armado e famélico exército russo
diante do poderoso exército alemão agravou os problemas internos da Rússia e
desarticulou a hierarquia do exército, criando as condições para que o regime
czarista caísse, em fevereiro de 1917, antes do final da guerra. Como o
governo dirigido pelos mencheviques não mencionava retirar a Rússia da guerra
e, tampouco, resolver os dois outros problemas do país - a fome e a terra -,
isto fez com que o poder ficasse com os bolcheviques, em outubro daquele ano.
Revelava-se assim
que a resistência do poder das elites ao ataque dos trabalhadores era menor
nos países da periferia capitalista do que nos do centro. Mas, em compensação, o atraso econômico, social e cultural tornava muito mais difícil
a construção da nova sociedade. O que fazer, então? Para Lenin se tratava de
incentivar a revolução na Europa, nos países mais avançados, especialmente na
Alemanha. Com a revolução num daqueles países, a Rússia teria apoio. A
Revolução Russa seria apenas a espoleta que detonaria a revolução na Europa
avançada, que, por sua vez, resgataria a Rússia atrasada e tornaria possível o
socialismo pela integração internacional de todos os países no caminho da
construção da nova sociedade.
A revolução na Europa adiantada não aconteceu. Por duas vezes, no
pós-guerra, ela pareceu ser possível na Alemanha, justamente o país perde dor
da guerra, para o qual se transferiam as maiores tensões sociais. Mas, com o
apoio da social-democracia, as tentativas revolucionárias foram derrotadas
após o assassinato da principal líder da esquerda alemã, Rosa Luxemburgo.
Outras ofensivas da esquerda tampouco prosperaram na Itália, na Hungria, e
assim a revolução ficou isolada na Rússia atrasada. O que fazer, então?
Esta foi a grande discussão entre os revolucionários, em todo o
mundo; sabia-se que na Rússia se decidiria o destino da revolução e da
esquerda, por ser o único país em que os trabalhadores tinham chegado ao
poder. Depois de um acirrado debate, concluído já após a morte de Lênin,
triunfaram, contra as de Trotsky, as teses de Stálin afirmando a possibilidade
de seguir adiante na construção do socialismo, mesmo nas condições da
Rússia atrasada, sem conexão com nenhuma Outra revolução em países avançados.
Marx havia escrito que o socialismo supunha o desenvolvimento
econômico e social do capitalismo, que seria superado pela socialização dos
frutos da produção e pela apropriação coletiva dos destinos da sociedade por
todos os trabalhadores. Isso significava redirecionar o desenvolvimento
econômico conforme uma planificação democraticamente estabelecida por toda a
sociedade mas, ao mesmo tempo, significava também um maior grau de liberdades
políticas e culturais para todos. Em todos os planos o socialismo
representaria uma superação do capitalismo na direção de uma sociedade sem
classes e sem Estado e, portanto, sem exploração e sem dominação.
O máximo que a Rússia atrasada podia fazer era redirecionar o seu
desenvolvimento econômico por um tipo de planejamento central que, mesmo assim,
não podia ser democrático, porque a maioria da população era camponesa, não
havia participado diretamente na revolução e pretendia defender a pequena
propriedade que havia conquistado, não se identificando com a socialização da
produção e seu planejamento. Como resultado da opção feita por Stálin, foi privilegiado o
desenvolvimento econômico em detrimento da democracia política. A União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), nome que passou a ter a federação
constituída em torno da Rússia, conseguiu dar um impressionante salto econômico
nas décadas de 1930 e 1940, mas isto foi feito mediante uma socialização
militarizada da propriedade agrícola, com a morte maciça de camponeses que a
ela resistiam, com a imposição de um regime sem nenhuma liberdade interna no
partido bolchevique e com a constituição de um Estado ditatorial.
Dissociaram-se assim democracia e desenvolvimento econômico na
primeira experiência de construção de uma sociedade anticapitalista. A
esquerda mundial dividiu-se entre os que apoiavam a URSS - especialmente os
partidos comunistas e os que criticavam o caminho assumido por aquele país
sob a direção de Stálin. Dentre estes, os social-democratas consideravam que
os trabalhadores não deviam ter tomado o poder na Rússia atrasada, porquanto o
país deveria passar ainda por uma etapa de desenvolvimento capitalista antes de
chegar ao socialismo. E havia os que criticavam a URSS pela esquerda, isto é,
considerando que os caminhos escolhidos pelo stalinismo, ao terminar a
democracia no partido e na sociedade, determinaram o surgimento de um regime
que havia expropriado a burguesia - o que devia ser feito -, mas que havia
colocado no poder, no lugar dos trabalhadores, uma triste burocracia.
Topo
Data
Módulo IV - Lutas e revoluções Populares na América Latina nos
séculos XIX, XX e XXI
O anjo torto
As surpresas da toupeira
Marx havia prognosticado que a luta de classes se tornaria
mais aguda nos países
mais avançados dó capitalismo. Ao maior
desenvolvimento econômico corresponderiam classes sociais mais estratificadas,
maiores conflitos entre elas e possibilidades superiores para a esquerda e o socialismo. A Inglaterra, a
França e a Alemanha
seriam então os países com melhores perspectivas para a esquerda. Além do nível superior da luta de
classes, ali se dariam
as condições de desenvolvimento econômico que tornariam possível passar da
riqueza multiplicada, mas concentrada em poucas mãos pelo capitalismo, a' uma sociedade em que todos
viveriam de
seu trabalho, socializando a riqueza e implantando
a justiça social.
Mas as tentativas revolucionárias nos países mais desenvolvidos do
capitalismo revelavam
dificuldades que Marx não suspeitava no seu tempo. Vivendo em melhores
condições do que os trabalhadores das outras regiões do mundo, até mesmo porque
as burguesias de seus países se
enriqueciam brutalmente com a exploração das colônias e distribuíam uma pequena
parte dessa riqueza a alguns estratos dos trabalhadores, diminuindo assim os conflitos de classe, os
trabalhadores da Inglaterra,
da França e da Alemanha se mostraram
menos propensos a romper com
o capitalismo do que os dos países periféricos
desse sistema. Os partidos social-democratas tinham mais força que os comunistas, ao contrário do que
acontecia
nos países da periferia capitalista, onde as condições de exploração eram mais brutais, as perspectivas de
luta legal para a
esquerda eram quase nulas e as possibilidades
da luta insurrecional a via mais possível.
Marx dizia que a revolução era como uma ''velha toupeira", que circula incessantemente por baixo da terra,
sem que se
perceba sua trajetória, até que, de repente,
irrompe bruscamente na superfície. Com isso queria dizer que, apesar de períodos de calmaria, a luta de
classes - considerada
por ele como o "motor da história"
- não se detinha e surpreendia a
muitos, reiteradamente, pelos lugares e formas
que assumia.
A Rússia, na compreensão de Lênin, era um desses elos mais frágeis, justamente porque o Estado
desenvolvia uma exploração mais radical de seu povo, para tentar arrecadar recursos e se
transformar numa
potência imperialista mundial. Porém, isso se fazia calcado na população atrasada e pobre de um país que
tinha apenas
umas poucas regiões industrializadas, cercadas por um imenso cordão de zonas agrícolas
pré-capitalistas.
O Estado russo czarista era ditatorial e já havia sofrido uma séria
derrota militar contra o Japão, no começo do século, na sua tentativa de
avançar sobre a Mandchúria.
Aliado às potências ocidentais
dirigidas pela Inglaterra e França, o czar
russo pretendia disputar o despojo dos
vencedores da guerra, repartindo os domínios
dos vencidos, e por isso entrou na guerra contra o Japão e a
Alemanha.
A participação da Rússia na guerra só piorou
as condições sociais internas do país e gerou uma situação
favorável para a esquerda se lançar à conquista do poder. Significou o
recrutamento para o exército de milhões de camponeses, até ali
dispersos, incultos, desinformados e despolitizados, junto a
operários em processo de mobilização e organização política, colocando-se armas
nas suas mãos.
A intensa propaganda do partido comunista russo - chamado partido
bolchevique, por propor um programa de grandes transformações
anticapitalistas, ao contrário do partido social-democrata, chamado
de menchevique, favorável a transformações de menor alcance, dentro do
capitalismo - politizou os camponeses, forjando a aliança com os operários, sob o lema "Paz, pão e terra". O termo "Paz" significava a
retirada russa do conflito, no qual o povo não tinha nenhum interesse e os
trabalhadores russos lutavam contra os trabalhadores de outros países.
"Pão" era a forma de designar a necessidade de saciar a fome da
população, que havia piorado ainda mais com a prioridade dada pelo Estado
russo aos gastos bélicos. E "Terra" simbolizava uma maneira de
dar aos milhões de camponeses o direito de produzirem os alimentos para matar
a fome do povo russo.
A péssima performance do mal armado e famélico exército russo
diante do poderoso exército alemão agravou os problemas internos da Rússia e
desarticulou a hierarquia do exército, criando as condições para que o regime
czarista caísse, em fevereiro de 1917, antes do final da guerra. Como o
governo dirigido pelos mencheviques não mencionava retirar a Rússia da guerra
e, tampouco, resolver os dois outros problemas do país - a fome e a terra -,
isto fez com que o poder ficasse com os bolcheviques, em outubro daquele ano.
Revelava-se assim
que a resistência do poder das elites ao ataque dos trabalhadores era menor
nos países da periferia capitalista do que nos do centro. Mas, em compensação, o atraso econômico, social e cultural tornava muito mais difícil
a construção da nova sociedade. O que fazer, então? Para Lenin se tratava de
incentivar a revolução na Europa, nos países mais avançados, especialmente na
Alemanha. Com a revolução num daqueles países, a Rússia teria apoio. A
Revolução Russa seria apenas a espoleta que detonaria a revolução na Europa
avançada, que, por sua vez, resgataria a Rússia atrasada e tornaria possível o
socialismo pela integração internacional de todos os países no caminho da
construção da nova sociedade.
A revolução na Europa adiantada não aconteceu. Por duas vezes, no
pós-guerra, ela pareceu ser possível na Alemanha, justamente o país perde dor
da guerra, para o qual se transferiam as maiores tensões sociais. Mas, com o
apoio da social-democracia, as tentativas revolucionárias foram derrotadas
após o assassinato da principal líder da esquerda alemã, Rosa Luxemburgo.
Outras ofensivas da esquerda tampouco prosperaram na Itália, na Hungria, e
assim a revolução ficou isolada na Rússia atrasada. O que fazer, então?
Esta foi a grande discussão entre os revolucionários, em todo o
mundo; sabia-se que na Rússia se decidiria o destino da revolução e da
esquerda, por ser o único país em que os trabalhadores tinham chegado ao
poder. Depois de um acirrado debate, concluído já após a morte de Lênin,
triunfaram, contra as de Trotsky, as teses de Stálin afirmando a possibilidade
de seguir adiante na construção do socialismo, mesmo nas condições da
Rússia atrasada, sem conexão com nenhuma Outra revolução em países avançados.
Marx havia escrito que o socialismo supunha o desenvolvimento
econômico e social do capitalismo, que seria superado pela socialização dos
frutos da produção e pela apropriação coletiva dos destinos da sociedade por
todos os trabalhadores. Isso significava redirecionar o desenvolvimento
econômico conforme uma planificação democraticamente estabelecida por toda a
sociedade mas, ao mesmo tempo, significava também um maior grau de liberdades
políticas e culturais para todos. Em todos os planos o socialismo
representaria uma superação do capitalismo na direção de uma sociedade sem
classes e sem Estado e, portanto, sem exploração e sem dominação.
O máximo que a Rússia atrasada podia fazer era redirecionar o seu desenvolvimento econômico por um tipo de planejamento central que, mesmo assim, não podia ser democrático, porque a maioria da população era camponesa, não havia participado diretamente na revolução e pretendia defender a pequena propriedade que havia conquistado, não se identificando com a socialização da produção e seu planejamento. Como resultado da opção feita por Stálin, foi privilegiado o desenvolvimento econômico em detrimento da democracia política. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), nome que passou a ter a federação constituída em torno da Rússia, conseguiu dar um impressionante salto econômico nas décadas de 1930 e 1940, mas isto foi feito mediante uma socialização militarizada da propriedade agrícola, com a morte maciça de camponeses que a ela resistiam, com a imposição de um regime sem nenhuma liberdade interna no partido bolchevique e com a constituição de um Estado ditatorial.
Dissociaram-se assim democracia e desenvolvimento econômico na
primeira experiência de construção de uma sociedade anticapitalista. A
esquerda mundial dividiu-se entre os que apoiavam a URSS - especialmente os
partidos comunistas e os que criticavam o caminho assumido por aquele país
sob a direção de Stálin. Dentre estes, os social-democratas consideravam que
os trabalhadores não deviam ter tomado o poder na Rússia atrasada, porquanto o
país deveria passar ainda por uma etapa de desenvolvimento capitalista antes de
chegar ao socialismo. E havia os que criticavam a URSS pela esquerda, isto é,
considerando que os caminhos escolhidos pelo stalinismo, ao terminar a
democracia no partido e na sociedade, determinaram o surgimento de um regime
que havia expropriado a burguesia - o que devia ser feito -, mas que havia
colocado no poder, no lugar dos trabalhadores, uma triste burocracia.
Biografia –
Antônio 7 Cordas (92 anos) Antônio
Fernandes de Souza -
15/5/1928 Santana do Matas, RN -
9/4/1999
Natal, RN - Compositor.
Violonista. Nasceu no interior do Rio Grande do Norte e ainda criança passou a
residir na cidade de Natal. Foi o primeiro divulgador do violão de sete cordas
no Rio Grande do Norte, instrumento que aprendeu a tocar com Dino Sete Cordas.
Residiu durante algum tempo no Rio de Janeiro.
Biografia
Biografia –
Biografia –
Biografia –
Biografia –
Módulo VI - Relação completa dos aniversariantes da
semana.
Intervalo compreendido do dia 15 a 21/05 - Topo
A vida é cheia de imprevistos. No âmbito pessoal, fracasso,
perda de amizades, doença, morte. No global, eventos que nenhum analista ou
futurólogo prevê, como as quedas do Muro de Berlim e das Torres Gêmeas, de Nova
York. Também ninguém suspeitou de que, em pleno século XXI, com todos os
recursos da ciência, a humanidade seria ameaçada por uma pandemia.
Quem poderia imaginar que viria da China, na forma de
enfermidade contagiosa, a causa da mais profunda crise do capitalismo desde
2008? Segundo o Morgan Stanley Composite Index, em poucas semanas o mercado
financeiro viu as ações das Bolsas de Valores do mundo perderem 15.5 trilhões
de dólares! Mais de 8 vezes o PIB do Brasil em 2019!
Será que algum desses especuladores e megainvestidores afetados
pelo bolso (a parte mais sensível do corpo humano) ficou pobre? E, no entanto,
antes da pandemia quase todos se negavam a contribuir para medidas de combate à
fome e ao aquecimento global.
Isso me faz lembrar o cerco de Jerusalém pelos romanos, no ano
70. Chegou um momento em que o rico oferecia um pote de ouro em troca de um
pedaço de pão…
O coronavírus nos obriga a nova espiritualidade e atitude diante
da realidade. Não faz distinção de classe, como a gastroenterite, que mata
milhares de crianças desnutridas, nem de orientação sexual, como a aids, que
atingia majoritariamente homossexuais. Agora somos todos vulneráveis, embora
variem as faixas etárias e situações de risco.
Estamos todos obrigados ao retiro compulsório. Voltar-se para
dentro de casa e de si mesmo. Desapegar-se. Esse abandono das atividades
rotineiras e das agendas programadas pode nos revoltar ou humanizar. Revoltados
ficarão os apegados a certos hábitos que, por ora, estão proibidos, como ir ao
cinema, ao teatro, ao clube. Para idosos, não ter contato com os netos e
manter-se o mais possível dentro de casa.
Viagens aéreas foram reduzidas; fronteiras nacionais, fechadas;
roteiros turísticos, cancelados. Não nos resta alternativa senão ficar quietos
onde estamos. Huit-clos,
entre quatro paredes. Pode ser que descubramos, como Sartre, por que os outros
são o inferno. E pode ser que resgatemos o convívio familiar, o diálogo com os
parentes, o cuidado da casa (tudo deve ser higienizado).
É hora de aprender a trabalhar e estudar sem nos deslocar do
espaço doméstico. Agora, temos mais tempo para ver filmes na TV, navegar na
internet, ler bons livros, pesquisar, meditar e orar.
O vírus iguala todos. Mas não nivela caráteres. O casal burguês
que nunca se deu ao trabalho de entrar na cozinha ou limpar a casa, agora se vê
forçado a arregaçar as mangas ou correr o risco de ter o vírus trazido por um
dos empregados. O relapso não segue instruções das autoridades sanitárias, e o
egoísta compra na farmácia todo o estoque de álcool gel e máscaras.
Conheço uma jovem que, no prédio em que mora, se ofereceu aos
moradores vulneráveis para ir às compras por eles, sem nada cobrar. Outra
espalhou seu número de telefone para os idosos isolados terem com quem
conversar. Um casal de advogados vai de carro todas as manhãs buscar a
cozinheira na periferia, e levá-la de volta à tarde, para evitar que use transporte
coletivo. Três famílias vizinhas a um hospital decidiram preparar lanches para
enfermeiros e médicos que dobram a carga horária. Na Itália, vizinhos chegam à
janela no fim da tarde e cantam em coro. Igrejas, mesquitas, sinagogas, abrem
suas portas a quem vive na rua e necessita de cuidados higiênicos. Enfim, são
inúmeros os exemplos de generosidade e solidariedade nesse período em que
estamos todos potencialmente ameaçados.
Esses gestos têm sua fonte na espiritualidade, ainda que sem
caráter religioso. Espiritualidade é a capacidade de se abrir amorosamente ao
outro, à natureza e a Deus. E o que ela melhor nos ensina é o desapego, o
segredo da felicidade. Rico não é quem tem tudo, dizia Buda, e sim quem precisa
de pouco.
Frei Betto é escritor, autor de “Fome de Deus – espiritualidade no mundo atual” (Paralela/Companhia das Letras), entre outros livros.
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Muitos
já sentenciaram: depois do coronavírus não é mais possível levar avante o
projeto do capitalismo como modo de produção nem do neoliberalismo como sua
expressão política.O capitalismo é somente bom para os ricos; para os demais é
um purgatório ou um inferno e para a natureza, uma guerra sem tréguas.
O que
nos está salvando não é a concorrência – seu motor principal – mas a
cooperação, nem o individualismo – sua expressão cultural – mas a
interdependência de todos com todos.
Mas
vamos ao ponto central: descobrimos que a vida é o valor
supremo, não a acumulação de bens materiais. O aparato bélico montado, capaz de
destruir por várias vezes, a vida na Terra se mostrou ridículo face a um
inimigo microscópico invisível, que ameaça a humanidade inteira. Seria o Next
Big One (NBO) do qual temem os biólogos, “o próximo Grande
Vírus”, destruidor do futuro da vida? Não cremos. Esperamos que a Terra tenha
ainda compaixão de nós e nos dê apenas uma espécie de ultimato.
Já que
o vírus ameaçador provém da natureza, o isolamento social nos oferece a
oportunidade de nos questionarmos: qual foi e como deve ser nossa relação face
à natureza e, em termos mais gerais, face à Terra como Casa Comum? Não são
suficientes a medicina e a técnica, por mais necessárias. Sua função é atacar o
vírus até exterminá-lo. Mas se continuarmos a agredir a Terra viva,”nosso lar
com uma comunidade de vida única”como diz a Carta da Terra (Preâmbulo) ela
contra-atacará de novo com pandemias mais letais, até uma que nos exterminará.
Ocorre
que a maioria da humanidade e dos chefes de Estado não têm consciência de que
estamos dentro da sexta extinção em massa. Até hoje não nos sentíamos parte da
natureza e nós humanos a sua porção consciente; nossa relação não é para com um
ser vivo, Gaia, que possui valor em si mesmo e deve ser respeitado mas de mero
uso em função de nossa comodidade e enriquecimento. Exploramos a Terra
violentamente a ponto de 60% dos solos terem sido erodidos, na mesma proporção
as floresta úmidas e causamos uma espantosa devastação de espécies, entre
70-100 mil por ano. É a vigência do antropoceno e do necroceno. A continuar
nesta rota vamos ao encontro de nosso próprio desaparecimento.
Não
temos outra alternativa senão, fazermos nas palavras da encíclica papal “sobre
o cuidado da Casa Comum” uma “radical conversão ecológica”. Nesse
sentido o coronavírus é mais que uma crise como outras, mas a exigência de uma
relação amigável e cuidadosa para com natureza. Como implementá-la num mundo
montado sobre a exploração de todos os ecossistemas? Não há projetos prontos.
Todos estão em busca. O pior que nos pode acontecer, seria, passada a pandemia,
voltarmos ao que era antes: as fábricas produzindo a todo vapor mesmo com certo
cuidado ecológico. Sabemos que grandes corporações estão se articulando para
recuperar o tempo e os ganhos perdidos.
Mas há
que conceder que esta conversão não poderá ser repentina, mas processual.
Quando o Presidente francês Maccron disse que “a lição da pandemia era de que
existem bens e serviço que devem ser colocados fora do mercado” provocou a
corrida de dezenas de grandes organizações ecológicas, tipo Oxfam, Attac e
outras pedindo que os 750 bilhões de Euros do Banco Central Europeu destinados
a sanar as perdas das empresas fossem direcionados à reconversão social
e ecológica do aparato produtivo em vista de mais cuidado para com a
natureza, mais justiça e igualdade sociais. Logicamente isso só se fará
ampliando o debate, envolvendo todo tipo de grupos, desde a participação
popular ao saber científico, até surgir uma convicção e uma responsabilidade
coletivas.
De uma
coisa devemos ter plena consciência: ao crescer o aquecimento global e ao
aumentar a população mundial devastando habitats naturais e assim aproximando
os seres humanos aos animais, estes transmitirão mais vírus que encontrarão em
nós novos hospedeiros para os quais não estamos imunes. Daí surgirão as
pandemias devastadoras.
O ponto
essencial e irrenunciável é a nova concepção da Terra, não mais como
um mercado de negócios colocando-nos como senhores (dominus), fora
e acima dela mas como um super Ente vivo, um sistema auto-regulador e auto-criativo, do qual somos a parte consciente e responsável, junto com os
demais seres como irmãos (frater). A passagem do dominus (dono)
a frater (irmão) exigirá uma nova mente e um novo coração,
isto é, ver de modo diferente a Terra e sentir com o coração a nossa pertença a
ela e ao Grande Todo. Junto a isso o sentido de inter-retro-relacionamento de
todos com todos e uma responsabilidade coletiva face ao futuro comum. Só assim
chegaremos, como prognostica a Carta da Terra, a “um modo sustentável de vida”e
a uma garantia de futuro da vida e da Mãe Terra.
A atual
fase de recolhimento social pode significar uma espécie de retiro reflexivo e
humanístico para pensarmos sobre tais coisas e a nossa responsabilidade face a
elas. O tempo é curto e urgente e não podemos chegar tarde demais.
Leonardo Boff escreveu Como cuidar da Casa Comum, Vozes 2018 e A opção Terra: a solução da Terra não cai do céu, Record 2009. - Topo
Módulo VII_II -
Conhecido popularmente como Pepe Mujica[2] (Montevidéu, 20 de maio de 1935),
é um agricultor e político uruguaio tendo sido Presidente da República
Oriental do Uruguai entre 2010 e 2015.[3][4] Após deixar a
presidência, foi senador de março de 2015 até agosto de 2018[5].
Mujica
teve importante papel no combate à ditadura
militar no Uruguai (1973-1985).
Na guerrilha, coparticipou de assaltos, sequestros e do episódio
conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969,
quando os tupamaros tomaram a delegacia de polícia,
o quartel do corpo de bombeiros,
a central telefônica e
vários bancos da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu.[6][7] Mujica passou 14
anos na prisão, de onde só saiu no final da ditadura, em 1985.[8]
Já
foi deputado, ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca e, durante a juventude,
militou em atividades de guerrilha, como membro
do Movimento
de Libertação Nacional-Tupamaros.[9]
Exerceu
o cargo de Presidente Pro tempore do MERCOSUL até 12 de julho de 2013,
quando foi sucedido pelo estreante venezuelano, Nicolás Maduro (tal cargo é um mandato
rotativo de seis meses exercido entre presidentes dos países membros).[10]
Juntamente
com outros líderes de esquerda, foi um dos fundadores do Grupo de Puebla,[11] entidade apontada
como sucessora do Foro de São Paulo,[12] criada no México em 12 de Julho de 2019.[13]
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Carta de Paris: Sartre e a luta armada no Brasil
Em discurso histórico, o filósofo apontou a
miragem de uma burguesia nacionalista brasileira pré-1964. «Só existe uma
burguesia, cuja atitude varia em função de seus interesses do momento» Por Leneide Duarte-Plon
20/05/2020 15:33
Naquele dia 15 de janeiro de 1970, cerca de dois mil brasileiros
exilados se reuniram na Salle Mutualité, em Paris, ao lado de centenas de
franceses.
O nome oficial do encontro era Meeting
de solidarité avec le peuple brésilien en lutte (Comício de
solidariedade na luta do povo brasileiro) e na tribuna encontravam-se os
filósofos Jean-Paul Sartre e Michel de Certeau. Miguel Arraes e o dominicano
Paul Blanquart, um dos mais ardentes defensores da revolução brasileira, também
estavam na tribuna. Foi o dominicano quem revisou o discurso de Arraes. Além
deles, falaram George Casalis, Jean Talpe, Pierre Jalée, Jean-Jacques de Félice
e Luigi Maccario, representando o Comité Italiano Europa-América Latina.
No encontro, foi feito o lançamento oficial da Frente
Brasileira de Informação -FBI, que passou a editar um jornal com denúncias
de prisões políticas e tortura. No primeiro número foram publicados os
discursos feitos na Mutualité.
A Frente fora criada em outubro de 1969 pelo ex-governador pernambucano Miguel
Arraes, por sua irmã, Violeta, e pelo ex-deputado Márcio Moreira Alves e tinha
duas sedes: Argel, onde Arraes morava, e Paris, onde moravam Marcio Moreira
Alves e Violeta Arraes. A sigla FBI para um órgão que tinha como objetivo
denunciar ao mundo os crimes do regime militar soava como uma perfeita ironia.
Naquele início de 1970, os exilados brasileiros em Paris estavam ainda sob o
choque da execução recente de Carlos Marighella, em São Paulo, em 4 de novembro
de 1969. O encontro acontecia setenta dias depois da morte do líder da ALN :
uma grande foto de Marighella, eleito « inimigo público número 1 » pela
ditadura, ocupava grande parte do palco.
Duas frases se destacavam em grandes faixas. A do padre colombiano Camilo
Torres: “O dever de todo cristão é ser revolucionário”. E a de Che Guevara: “O
dever de todo revolucionário é fazer a revolução”.
Naquele mês de janeiro, quando Jean-Paul Sartre fazia seu discurso na Mutualité
defendendo a revolução brasileira e denunciando a dominação norte-americana na
América do Sul, frei Tito de Alencar Lima e seus confrades estavam atrás das
grades do Presídio Tiradentes, em São Paulo. Ao local, não paravam de chegar
novos presos políticos, resultado da repressão contra os grupos de resistência
à ditadura, intensificada depois do sequestro do embaixador americano, em
setembro do ano anterior.
Sartre leu seu discurso intitulado « Sous le feu croisé des bourgeois » (Sob o
fogo cruzado dos burgueses) no qual analisa a história dos golpes brasileiros
depois da Segunda Guerra, a ilusão da existência de uma burguesia nacionalista
e a resistência armada ao regime militar.
A seguir, a íntegra do discurso, que traduzi para revisitar a realidade daquele
momento dramático da nossa História:
« Não vamos lamentar os presos barbaramente torturados no Brasil ; säo
combatentes e, o que devemos fazer é nos associar ao combate deles. No caso
brasileiro, costuma-se pensar que se trata de um simples acidente de percurso
da democracia ; na verdade, o problema é outro e o que se passa atualmente no
Brasil é uma imagem de um destino possível e mesmo provável de muitos países
europeus.
Durante anos, o Partido Comunista Brasileiro jogou o jogo como se houvesse um
patronato nacionalista ; ele disse : « É preciso que os burgueses nacionalistas
que querem, no fundo, ter uma economia totalmente autônoma sejam apoiados no
esforço para se opor ao imperialismo e, depois, veremos quando retornaremos às
questões da luta de classes ».
A derrota da burguesia nacionalista em 1964 é uma resposta a esta técnica e a
esta política. Explico : não devemos conceber que existe, no caso do Brasil por
exemplo, uma boa burguesia que seria nacionalista e uma outra que seria
cúmplice do imperialismo. Só existe uma burguesia cuja atitude varia em função
de seus interesses do momento.
O engodo da burguesia nacionalista
O setor nacionalista da burguesia brasileira havia tentado ganhar o mercado
interno substituindo os bens de consumo importados pelos bens produzidos por
suas empresas. Os resultados desta política foram que esta burguesia só poderia
viver da pauperisaçäo crescente do Brasil e, neste sentido, ela preparou a
invasão imperialista do Brasil de hoje. É preciso saber que ela era obrigada a
se ligar com os grandes proprietários feudais do Nordeste que mantêm os
camponeses numa miséria atroz mas que eram os grandes responsáveis pela entrada
de divisas e, por isso, era preciso aliar-se a eles. Por isso, a burguesia
nacionalista nunca realizou a reforma agrária ainda que afirmasse de vez em
quando sua intenção de fazê-la.
Por outro lado, é preciso se dar conta que a prosperidade da burguesia
nacionalista sempre coincidiu com grandes crises econômicas pois o povo, com
poder aquisitivo reduzido, tinha que comprar produtos brasileiros.
Enfim, é preciso não esquecer que esta burguesia só se constituiu se apoiando
numa enorme massa de desempregados, praticamente estimulando o desemprego, o
que lhe permitia reduzir ao mínimo seus custos de produção, aumentando os
lucros que só beneficiavam a ela mesma ; para continuar competitiva, ela não
tinha, pois, necessidade de melhorar seus produtos, sua tecnologia, de promover
a economia brasileira no seu conjunto.
Uma só burguesia
Esta política da burguesia nacionalista, da qual relembramos as condições de
existência, levou o país ao empobrecimento e a economia brasileira a à condição
de presa fácil do imperialismo norte-americano. E quando uma crise econômica
inevitável surgiu em 1961, a outra parte da burguesia brasileira, a que era
intimamente ligada ao imperialismo, começou a levantar a cabeça e a crer de
novo em sua oportunidade. Não esqueçamos que esta luta entre as duas partes da
burguesia brasileira data de 1945 e que o golpe de Estado de 1964 é o ápice
desta luta que tinha visto, em 1945, a deposição de Vargas seguida de seu
retorno em 1951 e seu suicídio em 1954 e que tinha visto também, em 1955, a
tentativa frustrada de impedir Kubitschek de assumir e, enfim, em 1961, a
demissão forçada de Quadros. Esta luta, ainda que terminando frequentemente com
vantagem para a burguesia nacionalista, não impedira que os investimentos
estrangeiros se expandissem no Brasil : 220 milhões de dólares em 1946-1950 et
743 milhões em 1960-1964. Em 1961, entre 66 empresas com capital superior a um
milhão de cruzeiros, havia 32 empresas estrangeiras que detinham 34% do capital
e as empresas nacionais detinham apenas 11% do capital. Nessa situação, em
1964, os militares não tiveram dificuldade em fazer um golpe de Estado com a
bênção – e mesmo, talvez, mais que isso – dos Estados Unidos, para se livrar,
de uma vez por todas, da burguesia nacionalista. E, o que é notável é que esta
burguesia desapareceu. De fato, uma das primeiras medidas do governo militar
foi a redução do crédito e as empresas nacionais foram obrigadas a se vender ou
se associar ao capitalismo estrangeiro. Houve, pois, uma reconciliação dos dois
ramos da burguesia, o que prova perfeitamente que, no fundo, sempre houve
apenas uma mas que seus interesses são flutuantes. Em seguida, o governo
promulgou um decreto de garantia dos investimentos estrangeiros autorizando as
empresas estrangeiras a fixar elas próprias, após greves ou perturbações
sociais, qual o montante dos prejuízos e pedir ao governo brasileiro o
reembolso deles, prejuízos que serão pagos com o dinheiro dos brasileiros,
claro. Só resta, aos imperialistas e à burguesia, efetuar a pilhagem completa
do Brasil e, para o governo, só resta manter o povo em situação de resistência
mínima a esta pilhagem, através de uma repressão constante.
Em 1969, Nelson Rockefeller foi encarregado por Nixon de visitar diferentes
países da América Latina e, no seu relatório, declarou, entre outras coisas : «
Há regimes democráticos e regimes militares ; mas não se deve examinar os regimes
militares segundo uma ideologia qualquer, mas apenas segundo sua atitude para
com os Estados Unidos ». Ele ressaltou, por outro lado, que essas ditaduras
militares não tinham, muitas vezes, senão armamentos ultrapassados ; que, é
verdade, eles compravam armas americanas mas seria preciso comprar mais, para
que pudessem defender melhor seus países. Aqui pode-se perguntar : « Contra
quem ? Contra quem treinam os soldados brasileiros no Panamá ou nos Estados
Unidos? Contra os soviéticos? Contra os chineses? Ninguém pode imaginar uma
invasão do Brasil por soviéticos ou chineses. Na verdade, os brasileiros estão
confiando seus soldados aos americanos para que os americanos lhes ensinem a
atirar no povo brasileiro. O exército serve cada vez menos para preparar a
defesa contra um eventual agressor externo. Ele se prepara para reforçar a
repressão interna”.
Uma escolha inelutável
Desta forma, a esquerda brasileira deve ser um exemplo duplo para nós. Exemplo
antes de 1964, porque naquele momento ela contou com uma aliança do
nacionalismo burguês com as forças populares para combater o imperialismo e
vimos a que ponto ela foi traída e se enganou. Exemplo depois de 1964, porque a
partir daquela data a esquerda compreendeu que o único meio de combater o
imperialismo e seus aliados internos era a luta armada.
O que é surpreendente é que esta luta armada é uma escolha inelutável. De fato,
em qualquer manifestação, o resultado é imediato : os soldados impedem ou
atiram; logo, a luta de massa através das grandes manifestações, como se fazia
ainda há poucos anos no Brasil, tornou-se impossível e ineficaz. Chegou-se
agora a um momento em que a esquerda está acuada e não tem outra escolha senão
a luta armada : resistência, grupos de ação clandestina, guerrilha urbana e guerrilha
rural.
O inimigo é uno, a resposta deve ser unificada
Durante algum tempo, os grupos que se formaram estavam divididos e foram se
enfraquecendo. Houve a Ação Popular que, num primeiro momento, quis agir
através de grandes manifestações e que, reconhecendo seu erro, passou à luta
clandestina ; houve o Partido Comunista do Brasil – que não é o Partido
Comunista Brasileiro – de inspiração maoista, que também escolheu a luta armada
; há ainda outras organizações, que não é preciso citar. Depois de algum tempo,
a unificação desses grupos foi realizada pela luta armada, unificação da qual
Carlos Marighella compreendera a necessidade. Foi por isso que ele pediu que os
15 prisioneiros libertados depois do sequestro de Charles Burke Elbrick,
embaixador dos Estados Unidos no Brasil, pertencessem a diferentes tendências.
Para Marighella, a unificação não deveria ser realizada somente no Brasil; para
ele, “era preciso responder ao imperialismo americano no plano global por um
plano global latino-americano”.
O inimigo é uno, por conseguinte, a resposta deve ser unificada. Havia um certo
Monroe que dizia: ‘A América para os americanos’, mas agora esta doutrina é
interpretada como ‘a América do Sul para os americanos do Norte’. É preciso,
pois, realizar a unidade da luta de uma América oprimida, a do Sul, contra a
outra América, opressora, a do Norte”.
O combate heróico travado pelos brasileiros deve nos fazer refletir sobre nossa
própria situação. Aqui na França também existe uma burguesia nacionalista e há
investimentos americanos também. Todos os dias, nas informações econômicas
lemos que uma empresa francesa se internacionaliza, o que, de fato, quer dizer
que ela se financia por um banco americano ; pode-se ler, também, que uma
sociedade americana escolheu a França no campo da informática, por exemplo, o
que se reveste de um tom um tanto « galanteador ». O poder gaullista de um lado
e o poder pompidouliano, de outro, se assemelham aos dois setores da burguesia
brasileira : um defensor de um nacionalismo um tanto vão, outro favorável à
entrada dos capitais americanos. E pode-se continuar a comparação : vocês
pensam que não encontraríamos aqui coronéis e comandantes prontos a apoiar os
que querem jogar o « jogo internacional » ?
Nosso dever não é, portanto, somente apoiar os revolucionários brasileiros em
sua luta, trata-se também de nosso interesse e de nossa liberdade.
Jean-Paul Sartre
Leneide Duarte-Plon é coautora, com Clarisse
Meireles, de « Um homem torturado, nos passos de frei Tito de Alencar »
(Editora Civilização Brasileira, 2014). Em 2016, pela mesma editora, a autora
lançou « A tortura como arma de guerra- Da Argélia ao Brasil : Como os militares
franceses exportaram os esquadrões da morte e o terrorismo de Estado ». Ambos
foram finalistas do Prêmio Jabuti. O segundo foi também finalista do Prêmio
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Nova Zelândia propõe semana de 4 dias
Nova Zelândia propõe semana com 4 dias de trabalho para retomar economia
Segundo a primeira-ministra, Jacinda Ardern, medida impulsionaria o turismo local e beneficiaria a saúde mental dos funcionários
Redação - 20 maio 2020, 12h18
Jacinda Ardern se tornou uma referência mundial no combate à Covid-19 Getty Images/Getty Images
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, apontada como uma das mais eficientes lideranças mundiais no combate ao coronavírus, deu uma sugestão para reestruturar a economia do país.
Ela aconselhou empregadores a estabelecer uma rotina mais flexível, com apenas quatro dias de trabalho por semana, o que impulsionaria o turismo local e traria maior equilíbrio e saúde mental aos funcionários nesta retomada.
Ardern apresentou suas ideias em uma live no Facebook, de dentro de um carro, enquanto retornava de Rotorua, uma das zonas turísticas do país, na última terça-feira 19. Ela disse ter se reunido com empresários, que deram diversas sugestões, como a redução da semana de trabalho até a inclusão de feriados para incentivar o turismo doméstico, já que as fronteiras permanecem fechadas para estrangeiros.
“Ouvi muitas sugestões de que deveríamos ter uma semana de trabalho de quatro dias. Ultimamente, essa tem sido uma decisão entre empregadores e empregados. Mas, como já dissemos, aprendemos muitas coisas com a Covid-19 e que podemos ter produtividade com a flexibilidade do trabalho de casa”, disse ela. “Eu realmente incentivaria as pessoas a pensarem nisso.
Se você é um empregador e está em posição de fazê-lo, pense se isso é algo que funcionaria no seu local de trabalho, pois certamente ajudaria o turismo em todo o país.”
Com dimensões pouco inferiores às do Tocantins e uma população de menos de 5 milhões de habitantes, a Nova Zelândia conseguiu eliminar o coronavírus rapidamente – tem pouco mais de 1.000 casos confirmados e 21 mortes -, graças a uma resposta rápida e respeito às normas de isolamento. Adern, no entanto, diz que é preciso permanecer em alerta. “Sabemos que um único caso de Covid-19 se pode transformar em 90 depois de uma saída à noite ou de um simples evento.”
A ideia da semana de trabalho reduzida não é uma novidade na Nova Zelândia.
Em 2018, a Perpetual Guardian, uma empresa sediada em Auckland que gerencia bens e testamentos, ganhou repercussão mundial ao implementar a medida. Seu fundador, Andrew Barnes, reforçou a posição da primeira-ministra e ressaltou que a mudança tornou seus funcionários mais felizes e produtivos.
“A Nova Zelândia poderia definitivamente passar a ter uma semana de trabalho de quatro dias depois de Covid, e, de fato, seria uma estratégia para reconstruir a economia e, em particular, o mercado de turismo mais afetado, à medida que se volta para um foco doméstico”, disse Barnes ao site local Newshub. Segundo ele, a redução da jornada e o home office promovem saúde mental e física e proteção ao meio ambiente e à vida familiar
Revista VEJA Leitor: Barroso, Bolsonaro e a primeira-ministra da Nova Zelândia
Mundo Razão e sensibilidade: o prestígio da primeira-ministra da Nova Zelândia
• “Precisamos manter todos os benefícios de produtividade que o trabalho em casa traz, incluindo ar mais limpo e a perda de produtividade nos deslocamentos ao mesmo tempo em que ajuda as empresas a permanecerem ativas.
Temos de ser ousados com o nosso modelo. Esta é uma oportunidade para uma redefinição maciça”, completou Barnes.
O turismo é um setor essencial da economia neozelandesa. Em 2019, movimentou 16.2 bilhões de dólares, cerca de 6% do PIB local, segundo dados do governo. No entanto, a expectativa é de que a pandemia reduza em mais de 20% a economia do país em 2020. Dezenas de milhares de neozelandeses foram despedidos durante o período de bloqueio.Topo
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texto Homenagem especial
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Realizado Quinta-feira 21 de maio de 2020
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