PARA NÃO ESQUECER – 19 DE AGOSTO DE 1962
CRIADO O COMANDO GERAL DOS TRABALHADORES – CGT
(Ernesto Germano Parés)
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A crise do segundo governo Vargas se aprofundava. Toda a imprensa fazia oposição (o único jornal a defender o presidente era o “Última Hora”) e setores militares que haviam se aproximado da UDN faziam críticas abertas. O suicídio de Getúlio neutraliza a oposição e desarticula a direita incapaz de controlar a situação e enfrentar as manifestações populares.
O governo de Juscelino Kubitschek, eleito contra o candidato da UDN- Juarez Távora- representou grande mudança na vida econômica nacional. Três medidas sintetizam seu programa: as portas para o capital estrangeiro foram escancaradas; houve novos investimentos para a indústria pesada; construção de barragens, para produzir a energia elétrica que a indústria necessitava, e de estradas, para escoar a produção.
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Entre os operários, crescia a organização e a mobilização. É verdade que o nível dos salários havia subido 15%, mas a produtividade da indústria cresceu 37% e o lucro industrial 76%.
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Há várias tentativas de unificação do movimento, no período, que tentam criar organizações estaduais e até nacionais. Em 1953, já havia surgido o PUI (Pacto de Unidade Intersindical) e o Conselho Sindical dos Trabalhadores. Ambos tiveram grande poder de mobilização, mas não lutaram contra a estrutura sindical existente. Em 1957, o PUI foi dissolvido para fundir-se com os sindicatos do Rio de Janeiro e surgia o Pacto de Unidade e Ação - PUA- que chegou a abranger mais de 100 sindicatos e foi o embrião do futuro CGT.
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O PUI e o PUA foram criados a partir de comissões de fábricas e comandos de greve, mas logo tornaram-se articulações dirigidas por lideranças de federações e sindicatos perdendo sua penetração na base do movimento.
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Alguns registros apontam o número de grevistas no período: 1955 - mais de 500.000 trabalhadores; 1957 - mais de 800.000 trabalhadores; 1960 - mais de 1.500.000 trabalhadores.
Ao mesmo tempo, a luta chegava ao campo.
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Nas áreas onde predominavam os trabalhadores rurais assalariados a luta era difícil. Em 1933, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campos (RJ) havia sido o primeiro a conseguir registro no país e, mais de 20 anos depois, em 1955, havia apenas cinco sindicatos rurais reconhecidos no Brasil.
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O PCB, temendo o radicalismo das Ligas Camponesas, começa a incentivar a criação de sindicatos rurais. Em 1954, cria em São Paulo a ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil) para promover a campanha. O curioso é que esta foi também a posição da Igreja.
No Rio de Janeiro, em 1958, forma-se um Conselho Permanente das Organizações Sindicais (CPOS). No mesmo ano, são realizados congressos sindicais em 12 estados brasileiros e uma Conferência no Rio que reúne mais de 1.000 delegados representando 600 sindicatos.
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O movimento sindical estava dividido em três grupos: a) os ligados ao PTB e ao governo; b) os ligados ao PCB que dirigiam toda a luta contra o imperialismo americano e não desejavam assustar a burguesia nacional; c) os “pelegos”.
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Desde a segunda metade da década de 40 e principalmente durante a década de 50 as grandes cidades vão inchando com a chegada dos trabalhadores que são expulsos do campo e buscam um emprego na indústria que crescia. No Rio de Janeiro, entre 1950 e 1960, a população cresceu a uma média de 100.000 habitantes por ano e São Paulo dobrou a população no mesmo período. Esta gente pobre, explorada, vai sobrevivendo como pode em bairros periféricos e sem infraestrutura adequada. O nome muda em cada região, mas a miséria é a mesma: em Recife, mocambos e alagados; em São Luís, palafitas; em Salvador, alagados; no Rio, favelas; em São Paulo, cortiços; em Porto Alegre, malocas.
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O início da década de 60 marca também um processo de organização dos moradores desses bairros. Com vários nomes (Associações, Uniões, Ligas, etc.) esta população vai se organizando e começa a cobrar providências e atenção dos governos. Em vários casos, participam e prestam solidariedade aos movimentos grevistas.
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Em 1960, nesse clima, realiza-se o III Congresso Nacional dos Trabalhadores e as várias tendências do movimento ficaram definidas: a) os vermelhos - ligados ao PCB e à ala mais esquerda do PTB. Nacionalistas, eram a maioria e lideravam o movimento sindical até o golpe de 64. Desejavam criar o Comando Geral dos Trabalhadores; b) os amarelos - pelegos, ligados ao Ministério do Trabalho e ao sindicalismo estadunidense; c) os democráticos ou renovadores - eram anticomunistas e agrupavam seguidores de Jânio Quadros, católicos e esquerdistas não alinhados com o PCB.
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O tema mais polêmico do Congresso, como não podia deixar de ser, foi o da criação de uma Central. Os vermelhos defendiam uma central que se filiasse à FSM (Federação Sindical Mundial) de linha política ligada à União Soviética e os demais defendiam uma central filiada à CIOSL-ORIT, de orientação estadunidense. Como era de se esperar, o Congresso se dividiu e não foi criada a Central Sindical.
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Em 1961, uma aliança entre os sindicalistas do PCB e a esquerda do PTB leva o movimento sindical a conquistar a CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria), formando um bloco de apoio a Jango. Em 1962, finalmente, uma greve por salários que mobilizou quase todos os trabalhadores brasileiros levou ao surgimento do Comando Geral dos Trabalhadores - CGT.
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A crise econômica, com as constantes perdas salariais, permitia ao CGT grandes mobilizações e a direção de muitas greves. Na época das Reformas de Base o CGT comandou greves e mobilizações de cunho político. Era uma posição de vai-e-vem. O CGT comandava greves por salários e mudanças políticas e, no momento seguinte, pedia aos trabalhadores para apoiarem algumas medidas do governo Goulart e para terem paciência pois o momento “era difícil”. A linha política de atuação era definida pelas lideranças do PCB e do PTB, transmitidas à base através da estrutura dos sindicatos e colocada em ação. Não havia discussão com as bases operárias e isto trouxe uma imensa confusão ideológica, como veremos mais tarde.
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Vejamos alguns fatos do período: 1960- no Rio de Janeiro, o III° Congresso Nacional dá início a criação do CGT (agosto); 1960- em novembro, Greve envolvendo ferroviários, marítimos e portuários. Ao final do movimento, além da vitória econômica, houve um saldo organizativo com a participação no PUA; 1960- em agosto/setembro, greves em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul pela posse de João Goulart. Pararam os ferroviários da Leopoldina (RJ), além da Greve Geral de marítimos, têxteis, bancários e petroleiros; 1961- Greve Geral de 24 horas, em São Paulo, contra a carestia e exigindo o congelamento dos gêneros de primeira necessidade; 1961- há registros de 115 greves no país. Em 14 de dezembro, uma Greve Geral em São Paulo conquistou uma antiga reivindicação do movimento: o chamado “abono de Natal” ou 13° salário, como ficou conhecido. Durante essa greve, a repressão foi tão intensa que o hipódromo foi transformado em cadeia para sindicalistas e ativistas presos. O 13° só virou Lei nacional em julho de 1962, com caravanas de vários estados lotando o Congresso para forçar a votação; 1962- registradas 148 greves. Destaque para a Greve Geral, em julho, contra a aprovação do nome de Auro de Moura Andrade para 1° Ministro; Algumas greves de 1962- nas pedreiras de Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá / nas três fábricas da MAFERSA (Rio, São Paulo, Minas) / bancários de Brasília (16 dias) / petroquímicos param com a solidariedade de todas as empresas da Baixada Santista / os ferroviários da Sorocabana param, a greve foi considerada ilegal e muito reprimida.
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Em 1962, de 17 a 19 de agosto, acontece o 4° Encontro Sindical Nacional, em São Paulo, reunindo 574 entidades e 2.566 delegados. Consolida-se a criação do CGT!
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VIVA A LUTA DA CLASSE TRABALHADORA!
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A GREVE É UM DIREITO LEGÍTIMO DOS TRABALHADORES!
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Nas imagens: 01) manifestação dirigida pelo CGT em 1962; 02) panfleto do CGT; 03) livro com a história do CGT